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sábado, 18 de outubro de 2025

Bielorrússia como espaço vital da China na Nova Rota da Seda

Introdução

No tabuleiro geopolítico da Eurásia, poucos países possuem um peso estratégico tão desproporcional ao seu tamanho quanto a Bielorrússia. Localizada no coração do continente, esse Estado se tornou um elo indispensável entre a produção industrial chinesa e os mercados consumidores da União Europeia. Dentro do contexto da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), promovida por Pequim desde 2013, Minsk não é apenas uma escala logística: é o verdadeiro espaço vital da China no acesso terrestre ao Ocidente.

Centralidade Logística

Segundo dados recentes, cerca de 90% das mercadorias transportadas por trem da China para a Europa passam pela Bielorrússia, via Polônia.  Esse corredor, articulado em torno da passagem Brest–Małaszewicze, movimentou em 2024 mais de US$ 29 bilhões em comércio.

O chamado Expresso Ferroviário China–Europa consolidou-se como projeto emblemático da BRI: mais rápido que o transporte marítimo e mais barato que o aéreo, ele permite que produtos chineses cheguem em poucas semanas a hubs como Varsóvia, Berlim e Duisburgo.

A Bielorrússia como "espaço vital"

Na tradição geopolítica, o termo espaço vital designa territórios indispensáveis à sobrevivência e expansão de um Estado. Aplicado à China, a Bielorrússia cumpre esse papel não por recursos naturais ou população, mas por ser o ponto de estrangulamento logístico da Nova Rota da Seda.

Enquanto rotas alternativas pelo Cáucaso, Ásia Central ou via marítima existem, nenhuma oferece a combinação de rapidez, custo reduzido e escala que o eixo bielorrusso-polaco proporciona. Nesse sentido, Minsk é para Pequim aquilo que o Canal de Suez representa para o comércio global: um gargalo estratégico.

Vulnerabilidade e Conflito Híbrido

O fechamento temporário da fronteira polaco-bielorrussa em setembro de 2025 mostrou os riscos dessa dependência. Milhares de containers chineses ficaram retidos na Bielorrússia, forçando o ministro das Relações Exteriores chinês a pressionar Varsóvia pela reabertura.

Esse episódio evidenciou como as ações híbridas da Rússia e da própria Bielorrússia contra a Polônia (migração instrumentalizada, exercícios militares provocativos, incursões de drones) podem transformar o espaço vital chinês em um calcanhar de Aquiles. Pequim se vê, assim, refém da instabilidade euroasiática.

A Polônia como parceiro crítico

Embora a Bielorrússia concentre o corredor ferroviário, é a Polônia que detém a chave de acesso à União Europeia. Varsóvia sabe disso e já deixou claro que pode usar a dependência chinesa como carta de pressão, exigindo de Pequim maior contenção sobre Moscou e Minsk. A Polônia não se limita a ser mera passagem logística, mas se afirma como ator geopolítico capaz de condicionar a Nova Rota da Seda.

Conclusão

A Bielorrússia é, para a China, um espaço vital dentro da Nova Rota da Seda. Sua geografia a coloca no centro do comércio ferroviário euroasiático, tornando-se indispensável para a estratégia de Pequim. Mas essa centralidade vem acompanhada de grande vulnerabilidade: a instabilidade política em Minsk, a hostilidade russa em relação à OTAN e a autonomia estratégica da Polônia podem transformar esse corredor em arma de pressão contra os interesses chineses.

Em última instância, o “espaço vital” da China na Bielorrússia não é apenas uma vantagem logística, mas também um risco permanente que obriga Pequim a navegar com pragmatismo entre Moscou, Minsk e Bruxelas.

Bibliografia

  • Fallon, T. (2015). The New Silk Road: Xi Jinping’s Grand Strategy for Eurasia. American Foreign Policy Interests, 37(3).

  • Gabuev, A. (2021). China and the Belt and Road in Eastern Europe. Carnegie Moscow Center.

  • Stronski, P. & Snegovaya, M. (2022). Russia, Belarus, and the Hybrid Warfare on Europe’s Border. Carnegie Endowment for International Peace.

  • Szczudlik, J. (2020). Poland’s Role in the Belt and Road Initiative. Polish Institute of International Affairs.

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