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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Discurso do Agente vs Discurso do Observador: uma distinção essencial

Introdução

Na comunicação política e social, muitas vezes não percebemos uma distinção fundamental: a diferença entre o discurso do observador e o discurso do agente. Embora ambos utilizem recursos semelhantes — palavras, ideias e informações — a finalidade de cada um deles é essencialmente distinta. Compreender essa diferença não apenas aprimora nossa capacidade de interpretar mensagens, mas também permite identificar intenções ocultas em declarações de lideranças políticas, meios de comunicação e movimentos sociais.

O discurso do observador

O discurso do observador é marcado por seu caráter descritivo e teórico. Seu objetivo é esclarecer um estado de coisas, explicar fenômenos ou responder perguntas específicas. Ele se orienta para a busca da verdade ou, ao menos, de uma compreensão mais objetiva da realidade. Ao ler um artigo acadêmico, ouvir uma análise histórica ou acompanhar uma investigação jornalística isenta, estamos diante de exemplos desse tipo de discurso.

O discurso do agente

Já o discurso do agente possui finalidade prática. Seu alvo não é tanto descrever o mundo, mas transformá-lo pela ação do público. Esse discurso busca mobilizar condutas, orientar decisões e criar adesão em torno de uma causa ou projeto. Políticos em campanha, ativistas sociais e até mesmo empresas em campanhas de marketing fazem uso desse registro. A força do discurso do agente está em seu apelo retórico, no caráter performativo de suas palavras.

A confusão na imprensa

Um dos pontos críticos levantados pelo texto analisado é que a imprensa contemporânea muitas vezes mistura ou confunde esses registros. Quando jornalistas se apresentam como observadores neutros, mas, de fato, falam como agentes comprometidos com determinada agenda política, surge um problema de credibilidade. O público passa a desconfiar da informação, percebendo que o que se vende como “fato” pode ser, na verdade, propaganda.

Exemplo Histórico

O texto ainda ilustra a distinção ao abordar o conceito de "revolução". Segundo a interpretação oferecida, processos como o de Cuba ou da Venezuela não teriam sido revoluções populares genuínas, mas movimentos organizados por minorias que mobilizaram narrativas revolucionárias. Nesse ponto, o discurso do agente constrói uma interpretação conveniente — "revolução" — que se distancia da observação histórica mais rigorosa.

Conclusão

Distinguir o discurso do agente do discurso do observador é uma ferramenta essencial para a cidadania crítica. Permite compreender quando somos convidados a refletir sobre a realidade e quando estamos sendo convocados a agir de determinada maneira. Em tempos de polarização política e disputa de narrativas, reconhecer essa diferença ajuda a navegar entre fatos e retórica, construindo uma relação mais madura com a informação.

Bibliografia

  • Habermas, Jürgen. Teoria do Agir Comunicativo. São Paulo: Martins Fontes, 2012.

  • Austin, John L. How to Do Things with Words. Oxford: Clarendon Press, 1962.

  • Searle, John R. Speech Acts: An Essay in the Philosophy of Language. Cambridge: Cambridge University Press, 1969.

  • Charaudeau, Patrick. Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2013.

  • Arendt, Hannah. Sobre a Revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

  • Thompson, John B. Ideologia e Cultura Moderna. Petrópolis: Vozes, 1995.

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