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sábado, 25 de outubro de 2025

Debate imaginário entre Adam Ferguson e Adam B. Seligman sobre sociedade civil

1.Sobre a origem da sociedade civil

Ferguson:

A sociedade civil não é uma criação artificial, mas resultado da vida em comum. O homem é um ser naturalmente social, e da convivência nasce a moralidade, a lei e as instituições. A sociedade civil é o estágio em que os homens, buscando o bem comum, superam a barbárie e se organizam em ordem.

Seligman:

Concordo com a sua ênfase na natureza social do homem, mas vejo um problema: na modernidade, o conceito de sociedade civil foi reinterpretado e muitas vezes separado do Estado. Hoje ela é vista como um espaço intermediário entre Estado e indivíduo, e não como a totalidade da vida em comum. Isso gerou tensões: será que sociedade civil é ainda um conceito unívoco?

2. Sobre moralidade e virtude

Ferguson:

A sociedade civil só floresce quando há virtude cívica. Sem isso, ela degenera em facções ou corrupção. O comércio e a prosperidade material são importantes, mas podem enfraquecer a solidariedade se não forem guiados pela moral.

Seligman:

Essa é uma das minhas preocupações também. Eu destaco que a sociedade civil exige confiança, normas éticas compartilhadas e, muitas vezes, elementos religiosos que mantenham a coesão social. Sem essa base moral, o conceito se torna vazio, reduzido a um agregado de ONGs ou associações de interesse.

3. Sobre Estado e sociedade civil

Ferguson:

Eu não separava Estado e sociedade civil como alguns pensadores posteriores. Para mim, ambos fazem parte da mesma ordem da convivência. O governo é uma extensão da sociedade civil, necessário para organizar os interesses e manter a justiça.

Seligman:

A modernidade, no entanto, marcou essa separação. Para Hegel, por exemplo, a sociedade civil é um estágio do espírito antes de chegar ao Estado. Já o liberalismo a vê como contrapeso ao poder estatal. Meu livro mostra que essa ambiguidade nos deixa sem clareza: afinal, sociedade civil é parte do Estado ou seu limite?

4. Sobre crise e modernidade

Ferguson:

O perigo que eu via no meu tempo era a perda da virtude republicana diante do avanço do luxo e da comodidade. A sociedade civil poderia enfraquecer se as pessoas vivessem apenas para seus interesses privados.

Seligman:

Eu diria que esse perigo se realizou. Hoje o termo “sociedade civil” é usado de forma inflacionada e contraditória. Alguns o usam para promover solidariedade, outros para justificar mercados ou mesmo resistências políticas. Minha crítica é que o conceito se tornou um símbolo normativo sem unidade.

5. Síntese

  • Ferguson defende que a sociedade civil é fruto natural da sociabilidade humana e depende da virtude cívica para não decair.

  • Seligman ressalta que, na modernidade, o conceito se fragmentou: ora parte do Estado, ora oposição a ele, ora símbolo normativo vazio — mas sempre dependente de confiança e moralidade.

📌 Conclusão do debate

O diálogo entre Ferguson e Seligman mostra uma linha de continuidade: ambos percebem que a sociedade civil só existe de verdade se houver um cimento moral que una os indivíduos. A diferença está no contexto:

  • Ferguson fala do século XVIII, preocupado com a decadência republicana e os efeitos do comércio.

  • Seligman fala do século XX, preocupado com a fragmentação conceitual e a perda de substância moral da sociedade civil na democracia contemporânea.

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