Em uma sociedade que idolatra o consumo imediato, falar em “parcelar em 108 vezes” parece, à primeira vista, um gesto de pobreza. Mas é justamente o contrário: é um gesto de inteligência, prudência e domínio do tempo. O perdulário consome o futuro em nome do presente; o homem prudente subordina o presente ao futuro que deseja construir.
O endividamento perdulário nasce da ansiedade. Ele compra o prazer antes de conquistar o mérito, transforma o crédito em vício e o parcelamento em fuga. O tempo, que deveria ser um aliado, torna-se inimigo, pois cada mês é um lembrete da escravidão voluntária a um bem mal adquirido. O perdulário é incapaz de ver o horizonte — ele quer possuir, mas não quer pertencer a um propósito.
O endividamento estratégico, ao contrário, é uma forma de ordenação interior. Ele transforma a dívida em instrumento de disciplina. Quem distribui um montante alto em 108 parcelas não está sendo ingênuo: está, na verdade, impondo uma pedagogia ao próprio desejo. É um modo de dizer a si mesmo: “posso ter, mas quero ter de modo sustentável, sem comprometer o fluxo do que me faz crescer”.
Quando o pagamento é atrelado a um sistema de rebatimento pela poupança e realimentação pelo CDB, o parcelamento se transforma em mecanismo de capitalização progressiva. O tempo passa a render juros em vez de gerar ansiedade. O dinheiro não é gasto: ele é cultivado.
Assim, a pobreza não está em parcelar uma dívida longa — está em não compreender o sentido do tempo e do trabalho. O pobre não é quem tem pouco, mas quem desperdiça o pouco que tem. O rico, mesmo com pouco, constrói sobre o alicerce da paciência e da ordem.
O endividamento perdulário é escravidão do desejo.
O endividamento estratégico é governo do espírito.
E o homem que governa o próprio tempo é, de fato, um homem livre.
No fundo, toda economia pessoal é um espelho da economia divina. O tempo, quando consagrado, deixa de ser mera sucessão de instantes e torna-se instrumento de santificação. Quem investe com paciência, quem transforma a dívida em disciplina e o ganho em serviço, colabora com a própria ordem da Criação. O juro, então, deixa de ser apenas número: é símbolo do fruto que nasce da fidelidade. E assim, ao multiplicar os talentos que lhe foram confiados, o homem justo devolve a Deus — com lucro espiritual e material — o tempo que soube governar nos méritos de Cristo.
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