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terça-feira, 21 de outubro de 2025

O Mistério do Capital Moral: o bom nome da família como NFT natural em tempos de democracia relativa e estado de exceção no Brasil

Introdução

Hernando de Soto, em sua obra clássica O Mistério do Capital, mostrou que a riqueza das nações não reside apenas na posse de bens, mas na formalização da propriedade, que transforma ativos em capital vivo. Essa formalização garante segurança às transações, mesmo em tempos de instabilidade ou estado de exceção.

No entanto, há um capital anterior, mais profundo e mais resistente às crises institucionais: o capital moral. Ele se manifesta sobretudo no bom nome da família, patrimônio imaterial e intergeracional que funciona como verdadeira moeda natural. Assim como o dinheiro nasceu da confiança social (Menger, Brough), também o bom nome da família é reconhecido como crédito natural. É, por isso, o verdadeiro NFT natural: único, personalíssimo, inalienável e duradouro.

1. A função da propriedade segundo Hernando de Soto

De Soto destacou que a propriedade formal:

  • Identifica e dá unicidade a um bem.

  • Permite que seja usado como garantia em contratos.

  • Protege transações contra fraude e insegurança.

  • Funciona mesmo em contextos de instabilidade política, dando previsibilidade às trocas.

Essa função de segurança é o que torna a propriedade instrumento essencial de confiança econômica.

2. O NFT digital: tentativa artificial de proteção das transações 

O NFT digital, criado pela tecnologia blockchain, busca cumprir uma dessas funções da propriedade descritas por De Soto: a proteção das transações. Ele assegura a unicidade de bens digitais, confere autenticidade e permite trocas mesmo em ambientes de incerteza.

Trata-se, porém, de uma solução artificial e limitada: dependente de tecnologia, energia computacional e confiança em redes que podem, em última análise, ser manipuladas ou perder relevância.

3. O bom nome da família: o verdadeiro NFT natural

O que o NFT digital tenta reproduzir de forma tecnológica, o bom nome da família já realiza de modo natural:

  • É único e personalíssimo, ligado a uma linhagem específica.

  • É inalienável, não pode ser vendido ou transferido, apenas herdado como missão.

  • É natural, construído pela virtude, pela honra e pela reputação ao longo do tempo.

  • É garantia de transações, pois reduz custos e aumenta a confiança nos contratos.

  • Funciona como moeda moral em tempos de ordem ou de exceção, sustentando a confiança mesmo quando o Estado falha.

Enquanto o NFT digital tem sua “blockchain” em algoritmos, o bom nome tem sua “blockchain” na memória social e moral das gerações.

4. O mistério do capital moral

Aqui podemos formular um conceito paralelo ao de Hernando de Soto: o mistério do capital moral. Ele consiste no fato de que a verdadeira riqueza de uma sociedade não está apenas em ativos formalizados, mas no patrimônio invisível da confiança herdada.

  • Hayek mostra que a ordem social é fruto da continuidade espontânea de tradições. O bom nome é um desses pilares invisíveis da ordem espontânea.

  • Leão XIII, na Rerum Novarum, ensina que o capital é fruto do trabalho acumulado. O bom nome é a dimensão moral desse capital, acumulado pela fidelidade das gerações.

  • Szondi vê o homem como construtor de pontes entre passado e futuro. O bom nome é uma dessas pontes, transmitindo missão e sentido.

  • Frankl ensina que o homem sobrevive a tudo, menos à falta de sentido. O bom nome preserva o sentido, porque insere o indivíduo numa história maior que si mesmo.

Assim, o capital moral é aquilo que transforma não apenas ativos em capital, mas vidas em continuidade de confiança e dignidade.

5. Democracia Relativa e Estado de Exceção

Nos tempos atuais, marcados por uma democracia relativa, autoridades ilegítimas muitas vezes difamam inocentes, enlameando seu bom nome com acusações falsas. Esse ataque não destrói apenas indivíduos, mas também o tecido moral da sociedade, pois mina a moeda natural da confiança.

Nesses contextos de exceção, o NFT digital pode oferecer alguma segurança para transações artificiais. Mas o verdadeiro baluarte contra o caos é o bom nome da família, que continua sustentando a confiança entre pessoas mesmo quando instituições falham.

Conclusão

O bom nome da família é o verdadeiro NFT natural: personalíssimo, único, inalienável e duradouro. Ele cumpre de forma espontânea e superior aquilo que Hernando de Soto atribuiu à propriedade formal: dar segurança às transações e confiança às trocas, sobretudo em tempos de instabilidade.

O mistério do capital moral consiste justamente nisso: a riqueza maior de uma sociedade não está na acumulação de ativos formais, mas na continuidade da honra, da confiança e da dignidade herdadas. Nos méritos de Cristo, herdar o bom nome é receber um talento que deve ser multiplicado — não apenas para benefício econômico, mas para dar sentido à vida, preservar a ordem social e resistir ao niilismo de uma democracia corrompida.

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