Introdução
Vivemos num tempo de democracia relativa, em que as instituições, muitas vezes fragilizadas por crises de legitimidade, falham em proteger a dignidade do indivíduo. Pior ainda, por vezes são as próprias autoridades — desprovidas de legitimidade moral — que atentam contra a honra de inocentes, difamando-os e enlameando seu bom nome com acusações infundadas.
Numa sociedade assim, o direito ao bom nome da família adquire peso ainda mais relevante. Ele não é apenas um direito individual, mas um patrimônio intergeracional, uma verdadeira moeda personalíssima, comparável a um token não-fungível natural (NFT). Diferente dos tokens digitais artificiais, que dependem da blockchain e da especulação de mercado, o bom nome é natural, personalíssimo, inalienável e duradouro. Ele é fundamento da confiança social e da própria ordem democrática.
1. O bom nome como moeda natural e personalíssima
O bom nome da família funciona como uma moeda moral:
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É único e personalíssimo, não podendo ser transferido ou alienado.
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É inalienável, herdado como missão e responsabilidade.
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É natural, porque nasce da vida moral e da história da família, não de códigos artificiais.
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É intergeracional, transmitido como crédito moral acumulado ao longo do tempo.
À luz de William Brough (The Natural Law of Money), podemos afirmar que o bom nome é um dinheiro natural, surgido da confiança social. Assim como o ouro foi reconhecido como meio de troca por sua raridade e valor intrínseco, o bom nome é reconhecido como crédito por sua reputação e honra.
2. NFT Digital × NFT Natural
| Aspecto | NFT Digital | NFT Natural – Bom Nome da Família |
|---|---|---|
| Origem | Criado por tecnologia (blockchain) | Criado pela vida moral, história e virtude |
| Unicidade | Garante exclusividade de um item digital | Personalíssimo, único e intransferível por natureza |
| Garantia de autenticidade | Algoritmos e registros em rede | História viva das gerações e reputação consolidada |
| Transferibilidade | Pode ser comprado, vendido ou perdido em transações | Inalienável: só pode ser herdado como missão e responsabilidade |
| Valor | Especulativo, sujeito à moda e ao mercado | Intrínseco, ligado à honra, confiança e dignidade |
| Durabilidade | Depende da tecnologia e do mercado | Duradouro: resiste ao tempo e gera continuidade intergeracional |
| Finalidade | Arte, colecionismo, investimento especulativo | Sustentar confiança, crédito e cooperação social |
| Base de funcionamento | Código e blockchain | Memória social e moral da família (cadeia do ser) |
| Dimensão espiritual | Ausente, limitada ao material | Presente: talento recebido para ser multiplicado nos méritos de Cristo |
3. Democracia Relativa e a fragilização do bom nome
No cenário de democracia relativa, onde as instituições funcionam apenas parcialmente e sofrem influência de forças ilegítimas, o bom nome é constantemente ameaçado. Autoridades ilegítimas, usando o aparato do Estado, podem:
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Acusar inocentes de crimes que nunca cometeram.
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Difamar famílias inteiras por interesses políticos ou ideológicos.
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Destruir reputações com narrativas midiáticas, sem devido processo legal.
O resultado é a quebra da moeda moral: o inocente perde crédito e confiança social, não por culpa própria, mas pela ação de agentes que deveriam garantir sua dignidade. Essa prática mina a ordem espontânea (Hayek), corrompe a justiça natural (Santo Tomás de Aquino) e destrói a base do capital moral que sustenta a sociedade.
4. O sentido existencial do bom nome
A psicologia contemporânea confirma essa visão:
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Szondi mostra que o homem é construtor de pontes entre passado e futuro. O bom nome é uma dessas pontes. Quando é destruído por calúnia ou abuso de autoridade, o indivíduo perde o eixo da sua identidade.
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Frankl ensina que o homem sobrevive a tudo, menos à falta de sentido. Ser injustamente difamado mina o sentido da vida, pois rouba a missão herdada dos pais.
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Numa sociedade onde o amor é líquido e os afetos são desordenados (Bauman), a economia e a política também se tornam concupiscentes, degenerando em crematística (Aristóteles): busca pelo poder e lucro pelo lucro, sem finalidade ética ou comunitária.
5. Proposta: reconhecimento do bom nome como bem jurídico e político a ser protegido
Diante desse quadro, é urgente que o bom nome da família seja reconhecido:
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Juridicamente, como patrimônio imaterial transmissível, dotado de proteção reforçada contra abusos de autoridade e calúnia midiática.
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Economicamente, como capital social e crédito natural, a ser protegido de ataques que desestabilizam a confiança.
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Politicamente, como fundamento da legitimidade democrática: sem confiança e honra, não há cidadania plena, mas apenas sujeição a narrativas impostas.
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Espiritualmente, como talento recebido de Deus, a ser multiplicado nos méritos de Cristo, em oposição ao niilismo e à liquidez dos afetos modernos.
Conclusão
O bom nome da família é o verdadeiro NFT natural: personalíssimo, único, inalienável e duradouro. Ele é moeda moral, capital social e ponte de sentido entre gerações. Num tempo de democracia relativa, sua proteção torna-se ainda mais urgente, pois autoridades ilegítimas e narrativas difamatórias podem destruí-lo e, com ele, arruinar vidas inocentes.
Reconhecer juridicamente o bom nome como herança imaterial é resgatar a dignidade humana, restaurar a confiança social e proteger a ordem espontânea que sustenta a liberdade. Mais do que isso, é resistir ao niilismo da modernidade, reafirmando que o verdadeiro valor não está nos tokens artificiais da tecnologia, mas no token natural da honra, inscrito no coração das famílias e garantido nos méritos de Cristo.
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