Introdução
O transporte ferroviário é um pilar da logística global, responsável por movimentar grandes volumes de cargas com eficiência energética e custos reduzidos em comparação a outros modais. No Brasil, país de dimensões continentais e com forte vocação para a exportação de commodities agrícolas e minerais, a ferrovia sempre desempenhou papel estratégico.
Nos últimos anos, uma inovação vem ganhando destaque: os trens double stack, capazes de transportar contêineres empilhados em dois níveis. Essa tecnologia, já consolidada em países como os Estados Unidos e a Índia, começa a ganhar corpo em território nacional com empresas como a Rumo Logística e a Brado, que vêm investindo em infraestrutura (vagões específicos, locomotivas potentes e adequação de trechos ferroviários) para atender às crescentes demandas do mercado (DatamarNews, 2019).
O que é o transporte double stack?
O conceito de double stack surgiu como resposta à necessidade de aumentar a capacidade de transporte sem expandir proporcionalmente o número de vagões ou composições.
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Estrutura: vagões mais baixos e reforçados permitem o empilhamento de dois contêineres, seja dois de 40 pés ou uma combinação de 20 e 40 pés.
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Benefícios:
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Redução de custos logísticos por tonelada transportada;
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Maior eficiência energética, pois o mesmo trem transporta mais carga;
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Menor emissão de poluentes por unidade transportada;
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Aproveitamento otimizado da malha ferroviária existente.
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Essa inovação, no entanto, depende de condições estruturais específicas: túneis, pontes e viadutos devem ter altura suficiente, assim como as redes elétricas e galerias de drenagem precisam ser adaptadas.
Histórico e contexto no Brasil
Desafios estruturais
O Brasil enfrentou limitações históricas em sua malha ferroviária:
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Bitolas diferentes dificultam a integração entre linhas;
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Infraestrutura antiga, projetada no século XX para cargas mais leves;
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Gabarito insuficiente, já que muitas linhas não tinham altura para trens double stack.
Esses fatores retardaram a introdução dessa tecnologia no país em comparação a nações que investiram mais cedo na modernização de suas ferrovias (Trem.org.br, 2021).
Primeiras operações no país
A empresa Brado Logística, ligada à Rumo, foi pioneira na introdução do modelo. Em 2019, realizou a primeira operação comercial com contêineres empilhados entre Sumaré (SP) e Rondonópolis (MT), após adaptações da malha (DatamarNews, 2019).
Segundo dados da própria Brado e da imprensa especializada, os ganhos foram expressivos:
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40% de aumento na capacidade de transporte por composição (Revista Ferroviária, 2019);
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Mais de 174 mil contêineres movimentados em cerca de 1.329 viagens nos primeiros cinco anos de operação (Tecnologística, 2025; ABOL, 2025);
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Adaptação de diversos pontos de infraestrutura, incluindo viadutos, galerias e redes elétricas, para viabilizar a circulação (ABOL, 2025).
Esses resultados mostram que o double stack não é apenas viável no Brasil, mas também vantajoso para o transporte de longa distância, especialmente em corredores estratégicos que conectam o Centro-Oeste agrícola ao Porto de Santos.
Inovação tecnológica e implicações
Locomotivas modernas
A operação com locomotivas AC44i, como no vídeo citado, representa um salto de eficiência. Cada unidade tem 4.400 HP, tração em corrente alternada e pode ser integrada em múltiplas unidades (MU), com uma locomotiva líder controlando remotamente as demais, dispensando tripulações adicionais.
Vagões especializados
A Brado desenvolveu vagões com travas especiais para fixação segura dos contêineres superiores, garantindo estabilidade mesmo em trajetos longos e pesados (ABOL, 2025).
Adaptação da malha
A implantação exigiu obras de adequação em diversos pontos críticos. Isso incluiu o rebaixamento de trilhos, aumento de altura livre em viadutos e deslocamento de fiações aéreas. Esse processo reforça a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura, especialmente em linhas de concessões privadas (Estadão Verifica, 2020).
Impacto e perspectivas
A adoção do double stack no Brasil representa um marco de inovação logística com impactos econômicos e ambientais:
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Econômicos: redução do custo do frete por tonelada, aumento da competitividade nas exportações e fortalecimento do agronegócio, que depende de corredores de alta eficiência.
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Ambientais: menor emissão de gases de efeito estufa, já que menos composições ferroviárias ou caminhões são necessários para transportar o mesmo volume de carga.
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Estratégicos: modernização da imagem da ferrovia brasileira, que passa a operar com padrões próximos aos de grandes players internacionais.
Apesar dos avanços, os desafios permanecem:
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Adequação da infraestrutura em maior escala;
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Necessidade de integração entre concessionárias e diferentes bitolas;
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Políticas públicas para fomentar a expansão ferroviária, garantindo que o double stack se consolide além de corredores específicos.
Conclusão
O vídeo que mostra uma composição double stack da Rumo, com 20 novos vagões e duas locomotivas AC44i, não é apenas uma curiosidade ferroviária — ele simboliza a modernização do setor logístico no Brasil.
Mais do que um trem, essa imagem representa um divisor de águas na ferrovia nacional, sinalizando um futuro em que o transporte ferroviário brasileiro pode ser mais eficiente, competitivo e sustentável.
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