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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Double Stack no Brasil: inovação logística sobre trilhos

Introdução

O transporte ferroviário é um pilar da logística global, responsável por movimentar grandes volumes de cargas com eficiência energética e custos reduzidos em comparação a outros modais. No Brasil, país de dimensões continentais e com forte vocação para a exportação de commodities agrícolas e minerais, a ferrovia sempre desempenhou papel estratégico.

Nos últimos anos, uma inovação vem ganhando destaque: os trens double stack, capazes de transportar contêineres empilhados em dois níveis. Essa tecnologia, já consolidada em países como os Estados Unidos e a Índia, começa a ganhar corpo em território nacional com empresas como a Rumo Logística e a Brado, que vêm investindo em infraestrutura (vagões específicos, locomotivas potentes e adequação de trechos ferroviários) para atender às crescentes demandas do mercado (DatamarNews, 2019).

O que é o transporte double stack?

O conceito de double stack surgiu como resposta à necessidade de aumentar a capacidade de transporte sem expandir proporcionalmente o número de vagões ou composições.

  • Estrutura: vagões mais baixos e reforçados permitem o empilhamento de dois contêineres, seja dois de 40 pés ou uma combinação de 20 e 40 pés.

  • Benefícios:

    • Redução de custos logísticos por tonelada transportada;

    • Maior eficiência energética, pois o mesmo trem transporta mais carga;

    • Menor emissão de poluentes por unidade transportada;

    • Aproveitamento otimizado da malha ferroviária existente.

Essa inovação, no entanto, depende de condições estruturais específicas: túneis, pontes e viadutos devem ter altura suficiente, assim como as redes elétricas e galerias de drenagem precisam ser adaptadas.

Histórico e contexto no Brasil

Desafios estruturais

O Brasil enfrentou limitações históricas em sua malha ferroviária:

  • Bitolas diferentes dificultam a integração entre linhas;

  • Infraestrutura antiga, projetada no século XX para cargas mais leves;

  • Gabarito insuficiente, já que muitas linhas não tinham altura para trens double stack.

Esses fatores retardaram a introdução dessa tecnologia no país em comparação a nações que investiram mais cedo na modernização de suas ferrovias (Trem.org.br, 2021).

Primeiras operações no país

A empresa Brado Logística, ligada à Rumo, foi pioneira na introdução do modelo. Em 2019, realizou a primeira operação comercial com contêineres empilhados entre Sumaré (SP) e Rondonópolis (MT), após adaptações da malha (DatamarNews, 2019).

Segundo dados da própria Brado e da imprensa especializada, os ganhos foram expressivos:

  • 40% de aumento na capacidade de transporte por composição (Revista Ferroviária, 2019);

  • Mais de 174 mil contêineres movimentados em cerca de 1.329 viagens nos primeiros cinco anos de operação (Tecnologística, 2025; ABOL, 2025);

  • Adaptação de diversos pontos de infraestrutura, incluindo viadutos, galerias e redes elétricas, para viabilizar a circulação (ABOL, 2025).

Esses resultados mostram que o double stack não é apenas viável no Brasil, mas também vantajoso para o transporte de longa distância, especialmente em corredores estratégicos que conectam o Centro-Oeste agrícola ao Porto de Santos.

Inovação tecnológica e implicações

Locomotivas modernas

A operação com locomotivas AC44i, como no vídeo citado, representa um salto de eficiência. Cada unidade tem 4.400 HP, tração em corrente alternada e pode ser integrada em múltiplas unidades (MU), com uma locomotiva líder controlando remotamente as demais, dispensando tripulações adicionais.

Vagões especializados

A Brado desenvolveu vagões com travas especiais para fixação segura dos contêineres superiores, garantindo estabilidade mesmo em trajetos longos e pesados (ABOL, 2025).

Adaptação da malha

A implantação exigiu obras de adequação em diversos pontos críticos. Isso incluiu o rebaixamento de trilhos, aumento de altura livre em viadutos e deslocamento de fiações aéreas. Esse processo reforça a necessidade de investimentos contínuos em infraestrutura, especialmente em linhas de concessões privadas (Estadão Verifica, 2020).

Impacto e perspectivas

A adoção do double stack no Brasil representa um marco de inovação logística com impactos econômicos e ambientais:

  • Econômicos: redução do custo do frete por tonelada, aumento da competitividade nas exportações e fortalecimento do agronegócio, que depende de corredores de alta eficiência.

  • Ambientais: menor emissão de gases de efeito estufa, já que menos composições ferroviárias ou caminhões são necessários para transportar o mesmo volume de carga.

  • Estratégicos: modernização da imagem da ferrovia brasileira, que passa a operar com padrões próximos aos de grandes players internacionais.

Apesar dos avanços, os desafios permanecem:

  • Adequação da infraestrutura em maior escala;

  • Necessidade de integração entre concessionárias e diferentes bitolas;

  • Políticas públicas para fomentar a expansão ferroviária, garantindo que o double stack se consolide além de corredores específicos.

Conclusão

O vídeo que mostra uma composição double stack da Rumo, com 20 novos vagões e duas locomotivas AC44i, não é apenas uma curiosidade ferroviária — ele simboliza a modernização do setor logístico no Brasil.

Mais do que um trem, essa imagem representa um divisor de águas na ferrovia nacional, sinalizando um futuro em que o transporte ferroviário brasileiro pode ser mais eficiente, competitivo e sustentável.

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