Na ciência econômica, existe um ponto que muitas vezes passa despercebido pelo olhar superficial do consumidor comum: o valor de um bem não está nos custos de sua produção, mas na preferência que o consumidor manifesta por ele no tempo presente. Esse princípio se encontra na teoria do valor subjetivo e é decisivo para compreender por que alguém paga mais por um mesmo produto em determinadas circunstâncias.
O conceito de preferência temporal
A preferência temporal é a tendência natural do ser humano de atribuir maior valor a um bem disponível no presente do que ao mesmo bem disponível no futuro. Ou seja, dado o mesmo produto em qualidade e quantidade, a posse imediata é considerada mais valiosa do que a posse postergada.
Esse fenômeno explica, por exemplo:
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O motivo de um consumidor pagar mais caro por uma refeição em um restaurante agora, em vez de esperar cozinhar em casa mais tarde.
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O porquê de se aceitarem juros em operações de crédito: quem empresta abre mão do bem presente (dinheiro) em troca de uma compensação futura.
Preferência pessoal como fator determinante
Contudo, a teoria se aprofunda quando associamos a preferência temporal à preferência pessoal. O valor atribuído a um bem não é apenas função do tempo, mas também do significado que o consumidor lhe confere.
Exemplo:
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Um colecionador de vinhos paga muito mais por uma garrafa produzida por um vinicultor famoso, não porque o custo de produção seja mais alto, mas porque a satisfação pessoal de possuí-la imediatamente supera o de esperar outra oportunidade de compra.
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Um fã de um chef renomado pode gastar valores elevados para provar um prato em sua estreia, ainda que pratos semelhantes, em qualidade objetiva, estejam disponíveis em restaurantes comuns.
Nesses casos, a marca pessoal do produtor e a preferência subjetiva do consumidor funcionam como catalisadores do valor, ampliando o peso da preferência temporal: “quero este produto, deste produtor, agora”.
Implicações econômicas
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Preços de luxo e exclusividade: quanto mais escassa e personalizada for a oferta, maior será a disposição a pagar no presente.
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Fama e reputação: quando o vendedor transforma seu nome em sinônimo de qualidade, a preferência pessoal do consumidor se torna fidelidade de marca.
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Economia do prestígio: em mercados como arte, moda, gastronomia e enologia, a preferência temporal associada à pessoalidade cria uma lógica em que o produto deixa de ser mera utilidade e se torna símbolo de distinção.
Conclusão
A preferência temporal, quando entrelaçada à preferência pessoal, revela que o consumidor paga mais não pelo objeto em si, mas pela satisfação subjetiva de possuí-lo no tempo e no contexto que deseja. Esse princípio mostra por que mercados de luxo, produtos artesanais e bens com assinatura pessoal conseguem valores tão elevados: o fator determinante não é a utilidade prática, mas o desejo imediato, situado no tempo presente e na valorização do produtor específico.
Bibliografia
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Carl Menger, Princípios de Economia Política.
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Eugen von Böhm-Bawerk, Capital e Juros.
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Ludwig von Mises, Ação Humana.
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Israel Kirzner, Competição e Atividade Empresarial.
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