1) Se eu seguisse o caminho do meu pai, eu iria estudar o envelhecimento natural das páginas de um livro, bem como a estruturação química desse processo de envelhecimento.
2.1) Pela minha experiência de fotógrafo, livro novo é como um cavalo selvagem - você precisa domá-lo de modo a fotografá-lo, coisa se faz com um peso de papéis. Até as curvaturas rebeldes ficarem retas, isso toma dias, dependo de onde você está no livro.
2.2.1) Com livro velho, a coisa muda de figura. É como céu de brigadeiro, ideal para se fazer vôo. As folhas envelhecidas já ficam naturalmente retas e pedem para ser fotografadas com flash, de modo a ficar ainda mais bonito.É como se você encontrasse uma moça de 20 anos com a sabedoria de uma senhora quase centenária: sedutora, sem ser vulgar. Eis a beleza da modéstia, coisa que era muita valorizada no tempo do meu avô, pois o centro era a alma, imortal e eterna - nunca o corpo, fogoso e rebelde, mas perecível.
3) Se achasse um jeito de envelhecer artificialmente o papel, sem danificar a lombada ou a tinta do impresso, certamente seria algo sensacional. O único problema é que a turma do 171 iria querer usar esse mecanismo de modo a forjar um documento antigo e reclamar uma herança que não é sua. Por isso que não faria comércio desse produto, a não ser para fotógrafos digitalizadores como eu.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 13 de maio de 2017.
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