1.1) Durante o tempo dos descobrimentos, os portugueses fizeram do sigilo uma obsessão.
1.2) A maior prova disso é que as as feitorias, além de obter recursos exóticos que não eram produzidos em outros lugares no mundo, eram uma forma de se obter informações sobre as demais potências estrangeiras que assediavam os povos que estavam sob a proteção e autoridade de Portugal. Por isso, as feitorias eram instrumentos da inteligência militar e diplomática a serviço do comércio e da propagação da fé cristã.
2.1) Muitas pesquisas secretas foram conduzidas com base nas matérias-primas que eram obtidas a partir dessa política de sigilo que Portugal conduzia nos territórios que povoava ou que estavam sob sua proteção.
2.2) Essas pesquisas secretas levaram ao fabrico de muitos produtos artesanais, cujo valor agregado gerava ainda mais mais lucro, após a exportação. O maior exemplo disso é o vinho do Porto, que era feito da uva cultivada em Portugal com o açúcar cultivado no Brasil.
2.3.1) A própria produção de açúcar mesma foi conduzida de maneira secreta. Foi a partir dela que se uniu a atividade industrial e agrícola de modo a formar a primeira agroindústria propriamente dita: o engenho.
2.3.2) Graças a essa tecnologia, era perfeitamente possível estabelecer uma atividade econômica planejada. E esse planejamento se dava nas câmaras republicanas, onde as classes produtivas das cidades (através do princípio da concórdia entre as classes, tão bem apontado na encíclica Rerum Novarum) decidiam o que iam produzir em comum acordo de modo que todos se beneficiassem com a riqueza criada em comum. Uma espécie de plano diretor da cidade era estabelecido de tal forma que a matéria-prima criada na vila era processada nas guildas de artesãos das próprias vilas de modo a serem exportadas para outros países da Europa. E para isso se valiam da extensa rede comercial que Portugal construía nos quatro cantos do mundo, enquanto servia a Cristo em terras distantes, por conta daquilo que foi estabelecido em Ourique.
3) Os primórdios da ZPE (Zona de Processamento e Exportação) podem ser traçados a partir da teoria do sigilo dos descobrimentos portugueses e do protecionismo educador decorrente do fato de se tomar as terras recém-descobertas como um mesmo lar em Cristo, a ponto de os povos nativos serem tomados como também partícipes da missão de servir a Cristo em terras distantes.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 25 de março de 2020 (data da postagem original).