1) Comecei a jogar Civilization 6 mais recentemente. E logo percebi que eles estabeleceram pela primeira vez na série a diferença entre progresso tecnológico e progresso cultural.
2.1) Comecei a meditar detidamente sobre essa questão. Um exemplo dessa questão, que explica bem essa diferença, é o surgimento de trocas a longa distância. Ela pressupõe que se tenha conhecimento geográfico, que haja exploradores que foram a terras distantes e que escreveram relatos de viagem acerca da existência de povos diferentes.
2.2) Nesses relatos, eles descreviam a língua, os costumes, os lugares onde viviam, o que de bom produziam, como eles se vestiam e muitas outras coisas. Isso fomentava a imaginação das pessoas, o que acabava fomentando o desejo de descobrir sistematicamente os outros.
3.1) É por conta de toda uma literatura de viagem que surgiu a geografia.
3.2) Da literatura de viagem vinha toda uma cartografia a ponto de registrar a localização de um lugar de modo a ser mais facilmente reconhecível no mapa, evitando assim que a pessoa se se perdesse no meio do caminho. Afinal, a geografia que é um desdobramento da astronomia, uma das disciplinas do quadrivium.
4.1) Do contato com diferentes povos havia o intercâmbio de mercadorias, conhecimentos e culturas, a ponto de haver a chance de formarem famílias que herdassem as características de ambos os povos, por conta da miscigenação.
4.2.1) É por conta do intercâmbio a longa distância que surge a moeda, enquanto símbolo de confiança.
4.2.2) A monarquia tende a ser um governo mais sólido a partir do momento em que um determinado povo é tomado como parte da família do monarca, fazendo com que o país seja tomado como um lar a partir de uma família mais ampliada, uma vez que o soberano é o primeiro cidadão da cidade, o primeiro pai dentre os pais de família - o melhor dentre os pares, por ser o mais virtuoso, por amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento. É por conta de todo esse ambiente cultural que a confiança passa a ser distribuída a diferentes povos, de modo que juntos tomem o mesmo país como um lar amando e rejeitando as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, a ponto de haver uma unidade e uma razão para se servir a Cristo para o bem de toda a cristandade.
4.2.3) O senso de tomar o país como um lar nasce a partir do momento em que a nossa consciência vai compreendendo a necessidade de crer em alguém que seja como nós em tudo exceto no pecado. De todas as crenças que existiram no planeta, nenhuma delas é tão verdadeira e tão extraordinária quanto o Cristianismo, em que o próprio Deus se fez homem e veio até nós para nos salvar.
4.2.4) Isso foi o fim definitivo do politeísmo, desses falsos deuses que são indiferentes ao homem, enquanto primazia da criação. Se a verdade é o verbo que se fez carne, então todos sabem quem é a verdade, a autoridade responsável pela criação do mundo enquanto tal: o próprio Deus em pessoa, já que Jesus é a face visível de um Deus invisível. Se há um Deus único, que é bom, então devemos parar de fazer cobranças improdutivas aos nossos irmãos, uma vez que a riqueza deve servir ao bem comum. Afinal, não é um sinal de salvação, um sinal que divide o mundo entre eleitos e condenados.
4.2.5) A usura só tem sua razão de ser num mundo onde só há um povo eleito, de onde viria o Messias, o verdadeiro Deus e verdadeiro Homem. Para separar os membros do povo eleito dos povos pagãos a usura era praticada - e Deus proibia a prática de usura contra o irmão, uma vez que todo um caminho precisava ser pavimentado até que a verdade estivesse no meio de nós. Ela foi estabelecida em tempos provisórios, quando não havia verdade no mundo. E o tempo do Antigo Testamento era o tempo da usura, do homem velho.
4.2.6) Defender a usura é como entender que Jesus não é o verdadeiro Messias, ficando em conformidade com aquilo que é dito pelos que O rejeitaram, o que leva a um nada. Afinal, os judeus rejeitaram os judeus porque quiseram conservar de forma conveniente e dissociada da verdade as coisas que vinham do paganismo. E é por conta de haver paganismo que a usura era justificada.
4.2.7) Deus, ao longo do Antigo Testamento, teve um problema muito sério com os judeus, por conta de sua insistência em seguir os costumes dos pagãos. Esta tendência de conservar o que é conveniente e dissociado da verdade é essencialmente judaizante - afinal, eles judiaram de Jesus, do verbo que se carne. E toda crença herética por natureza tem matriz judaizante.
5.1) Do estudo das Sagradas Escrituras, podemos perceber que progresso cultural leva à necessidade de se trocar a antiga regra pela nova porque essa troca se dá a partir da mudança da nossa matriz de consciência, pois o velho homem, rico no amor de si até o desprezo de Deus, deu lugar a um novo homem, que vive a vida cada vez mais na dependência de Deus.
5.2) A nova lei leva a novos comportamentos virtuosos que fazem com que muitos troquem os velhos comportamentos pelos novos, uma vez que vemos o verdadeiro Deus e verdadeiro homem nesses comportamentos. E é assim que nasce o direito consuetudinário, uma vez que a Graça é a maior do que a lei escrita, posto que a letra, levada até a sua última conseqüência, também mata.
6.1) O progresso tecnológico, em contraponto ao progresso cultural, não passa de uma mera conveniência, que pode ser evitada ou não.
6.2) Quando a riqueza é vista como sinal de salvação, ela tende a se impor por meio da força ou por meio da moda, que é uma forma sutil de imposição.
6.3) Nem sempre algo mais avançado tecnologicamente decorre do verbo que se fez carne. O próprio avanço da técnica pode decorrer do fato de se conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, que pode chegar a um nível de sofisticação maior se houver um meio mais rápido e prático de se mentir sucessivas vezes até que essa mentira se torne uma verdade. Basta ver o caso da imprensa, por exemplo.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 29 de novembro de 2018.
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