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sábado, 14 de junho de 2025

Como minha experiência de consumo virou uma aula prática de economia para advogadas e contadoras no Amal Date

Quem me acompanha nas redes sociais — especialmente no Amal Date e no Facebook — sabe que grande parte das minhas postagens versam sobre economia. Isso não aconteceu por acaso. Essa inclinação foi fruto de um longo processo de aprendizagem, que devo em grande parte ao meu amigo Rodrigo Arantes¹, com quem tive conversas riquíssimas ao longo dos anos. Mas o que mais me surpreende é como essa minha forma de abordar os temas econômicos acabou atraindo um público específico: advogadas, economistas e contadoras.

Micro-história e consumo: a economia vista de baixo para cima

O que faço, na prática, é aplicar os conceitos de micro-história ao consumo. Enquanto muitos preferem falar de grandes teorias econômicas de forma abstrata, eu conto como as decisões de consumo que tomo — levando em conta minhas circunstâncias concretas — refletem a política econômica do Brasil e a estrutura de mercado vigente.

Quando narro, por exemplo, como uso cashback para mitigar a perda de poder de compra ou como escolho comprar livros poloneses com conversão de moeda via Wise², estou fazendo uma crônica viva da economia. Não a economia de gabinete, mas a economia que sangra na carne do consumidor comum.

Esse olhar parte de um princípio simples: toda decisão de consumo é também um documento histórico³. Cada escolha que faço carrega consigo a marca de um determinado momento político, econômico e social. Cada cashback que eu recebo, cada livro que eu importo, cada estratégia de elisão fiscal que adoto como consumidor consciente... tudo isso compõe um retrato da História Econômica do Brasil, vista de baixo, pelas lentes do indivíduo que lida com as consequências das decisões macroestruturais.

O background jurídico e histórico como tempero adicional

Meu background em Direito e História acrescenta uma camada importante a essa abordagem. As advogadas que me seguem percebem que, ao falar de economia, eu não ignoro os aspectos jurídicos que permeiam essas decisões. Quando discuto o impacto de uma medida provisória, de uma decisão do STF ou de uma nova regulamentação fiscal, minha análise vai além da superfície.

Eu mostro como uma mudança legislativa se traduz, na prática, em uma nova forma de organizar o orçamento doméstico ou uma nova maneira de acessar o mercado internacional de consumo⁴. Essa combinação de análise jurídica, histórica e econômica cria uma espécie de narrativa de sobrevivência inteligente, que ressoa profundamente com quem vive de entender normas, regras e estruturas.

Por que as contadoras prestam tanta atenção?

No caso das contadoras, o motivo do interesse é ainda mais evidente. A contabilidade, no fim das contas, é a ciência da micro-história econômica por excelência⁵. O que é um livro razão, senão o registro das pequenas decisões econômicas de uma empresa ou de um indivíduo? O que é a escrituração contábil, senão a história da interação entre sujeito e mercado, narrada em números?

Quando eu conto como decidi aproveitar o IVA abatido ao importar livros da Polônia, ou como planejo o uso de cashback para equilibrar meu orçamento mensal⁶, estou falando na linguagem delas. Estou, sem saber, fazendo educação financeira com fundamento contábil, a partir da minha própria experiência de vida.

Mais que teoria: a prática da inteligência contextual

O que chama a atenção desse público não é só o conteúdo, mas o método. Em vez de apresentar conceitos de maneira teórica, eu mostro como penso estrategicamente diante das circunstâncias concretas que a vida me impõe. Faço aquilo que o brasileiro médio não faz: analiso, contextualizo e tomo decisões conscientes, com base em um mapa mental que combina Direito, História, Economia e Experiência de Vida.

Esse é o diferencial. Em uma rede social de encontros, onde muitos homens tentam impressionar com fotos de viagens ou frases de efeito copiadas de perfis de autoajuda, eu ofereço consistência intelectual aplicada à realidade prática.

Conclusão: o valor de viver com inteligência econômica e histórica

O resultado dessa postura é que minhas interações online acabam gerando diálogos de altíssimo nível com mulheres que têm não só formação técnica, mas também interesse genuíno por como o mundo funciona. Advogadas, economistas e contadoras reconhecem, na minha escrita, um tipo de inteligência que vai além da pose: uma inteligência que se reflete na forma como eu vivo e nas escolhas que faço todos os dias.

No fim das contas, a minha experiência de consumo se transformou numa aula prática de economia — não só para mim, mas também para quem me acompanha. E assim, ao narrar minha própria micro-história, acabo contando também um capítulo vivo da História Econômica do Brasil.

Notas de Rodapé:

  1. Rodrigo Arantes, amigo pessoal e mentor em questões econômicas, com quem mantive debates que formaram minha visão prática de economia.

  2. Wise é uma fintech que oferece soluções de câmbio com taxas mais acessíveis que os bancos tradicionais, bastante usada por consumidores que fazem compras internacionais.

  3. Sobre o conceito de micro-história, cf. Giovanni Levi, A Herança Imaterial: Trajetória de um historiador, Ed. Companhia das Letras.

  4. Exemplo típico: o impacto de alterações na legislação tributária sobre o custo efetivo de importações feitas por pessoas físicas.

  5. Cf. Lopes de Sá, Antonio. Teoria da Contabilidade, Ed. Atlas, para o conceito da contabilidade como memória econômica.

  6. Sobre estratégias de aproveitamento de cashback e gestão do consumo em tempos de inflação, cf. minhas próprias publicações nas redes sociais, onde documento essas práticas de forma contínua.

Bibliografia:

  • Levi, Giovanni. A Herança Imaterial: Trajetória de um historiador. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

  • Lopes de Sá, Antonio. Teoria da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2003.

  • Leão XIII. Rerum Novarum. Encíclica Papal, 1891.

  • Wise. Site oficial da fintech: https://wise.com

  • Publicações pessoais do autor nas redes sociais (Facebook e Amal Date).

  • Documentação oficial de programas de cashback de empresas como Amazon, Coupert, e GOG.

Por que Facebook e Amal Date valem mais do que o LinkedIn: a economia da confiança e a humanização das relações profissionais

1. A ilusão do currículo como produto de mercado

O LinkedIn nasce dentro de uma lógica empresarial própria da era da gestão de recursos humanos como ciência da objetificação da pessoa. A plataforma não é, originalmente, um espaço de construção de comunidade, mas um grande banco de dados de perfis profissionais, organizado para servir às necessidades das empresas e dos recrutadores.

A própria arquitetura da plataforma empurra o usuário para uma espécie de "economia da aparência": você precisa se apresentar como uma mercadoria bem embalada, com palavras-chave, cargos pomposos, certificações, fotos corporativas e um linguajar de autoajuda empresarial.

O problema? Essa estética de vitrine, em vez de criar laços, produz afastamento humano. As pessoas têm medo de interagir de maneira espontânea, com receio de prejudicar sua "marca pessoal" ou parecer "pouco profissional".

Filosofia por trás do problema:

A crise do LinkedIn é, no fundo, a crise de um modelo de sociedade que reduz a pessoa à sua função utilitária. Como diziam os personalistas do século XX (Emmanuel Mounier, Karol Wojtyła), reduzir o homem à sua função é desumanizá-lo.

2. A Economia da Confiança: relações que precedem o contrato

No universo das redes como Facebook e Amal Date, as relações não nascem de um contrato prévio, nem de um currículo bem montado. Elas nascem daquilo que a filosofia moral chama de economia da confiança.

O que é a Economia da Confiança?

É o princípio segundo o qual nenhum contrato, nenhuma sociedade, nenhuma parceria pode nascer sem um tecido prévio de confiança interpessoal.

Antes de qualquer transação comercial ou profissional, há sempre um momento anterior: o momento da amizade cívica (no sentido aristotélico), da confiança tácita, da leitura moral da pessoa com quem você interage.

Nas redes como Facebook e Amal Date, as pessoas te avaliam pelo que você escreve, pela forma como argumenta, pela constância com que mantém uma linha de pensamento, pela maneira como responde a críticas, pela sua capacidade de escutar.

Antes de te oferecer uma oportunidade de estágio ou de parceria profissional, as pessoas vão querer saber quem você é de verdade.

Essa é a pedagogia social da confiança — ela exige tempo, interação e verdade.

3. O valor da escrita autoral: construindo autoridade em ambientes informais

Quem, como eu, tem uma produção autoral consistente desde 2014 (ou antes), já entra nesses espaços com uma espécie de capital moral acumulado.

A cada texto, a cada reflexão jurídica, a cada postagem argumentativa bem construída, você investe na construção de sua autoridade moral e intelectual.

Enquanto o LinkedIn te pede certificados de cursos online de 3 horas, as redes como Facebook e Amal Date te permitem demonstrar, na prática, competência hermenêutica, habilidade argumentativa, capacidade de análise e um senso de justiça operante.

Essa produção de sentido autêntico tem um valor incalculável no mundo atual, onde a maior parte das pessoas só sabe repetir chavões corporativos.

4. Relações de Confiança como pré-contrato moral: A lógica da ordem natural

Existe aqui um princípio de ordem natural que vale a pena destacar: "A confiança precede o contrato".

É uma ordem cronológica e lógica: as pessoas só fazem negócios com quem confiam. E a confiança só nasce de uma história de interações prévias.

Ao contrário do LinkedIn, que tenta inverter essa ordem (pedindo que a pessoa "venda o peixe" antes de conhecer o freguês), as plataformas sociais abertas te permitem construir uma narrativa relacional antes de tentar qualquer proposta comercial ou profissional.

Aqui entra um conceito-chave da Filosofia do Direito: o pré-contrato moral.

Antes de qualquer contrato jurídico, existe um contrato moral implícito: um pacto de boa-fé, uma expectativa legítima de comportamento ético, uma leitura recíproca de caráter. 

5. Amal Date: O inesperado laboratório de Direito Internacional Privado

Dentro dessa economia da confiança, o Amal Date tornou-se, para mim, um inesperado laboratório de Direito Internacional Privado.

Não só pela natureza multicultural da plataforma, mas porque ali a construção da confiança se dá de forma personalíssima, e muitas vezes é uma advogada local quem faz a mediação entre o mundo afetivo e o mundo profissional.

Isso cria um tipo de experiência forense sem fronteiras, onde os temas de migração, cidadania, validação de diplomas, e reconhecimento de prática jurídica internacional surgem de modo natural, na vida real, e não como um exercício teórico de sala de aula.

Ali, a diferença entre o "pessoal" e o "profissional" desaba, porque ambas as esferas se entrelaçam dentro de um único campo: o campo da vida moral concreta.

6. Conclusão: a volta à realidade humana nas relações profissionais

O que minha experiência mostra é que as redes que ainda preservam o caráter humano, informal e interativo da convivência social são hoje os verdadeiros palcos para a construção de autoridade legítima.

Quem continuar insistindo em cultivar um perfil de LinkedIn como se fosse uma ficha de produto de supermercado, continuará invisível, sem conexões reais, sem histórias vividas e, sobretudo, sem oportunidades verdadeiras.

O futuro das relações profissionais não está na inteligência artificial dos algoritmos de recrutamento, mas na inteligência moral que governa as interações humanas verdadeiras.

Aqueles que souberem construir uma narrativa de confiabilidade, com produção autoral, presença intelectual ativa, humildade moral e consistência no caráter, terão sempre o que oferecer — nos méritos de Cristo, na ordem da vida e na ordem da graça.

Bibliografia Filosófica e Jurídica Sugerida:

  • WOJTYŁA, Karol. Pessoa e Ação. São Paulo: Loyola, 1994.

  • MOUNIER, Emmanuel. O Personalismo. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1976.

  • ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Mário da Gama Kury. Brasília: UNB, 2001.

  • LEAL, Rogério Gesta. Filosofia do Direito: Fundamentos e Perspectivas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.

  • BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

  • SILVEIRA, Sidney. O Direito Como Virtude. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

Como o Amal Date me levou ao Direito Internacional Privado: uma trajetória inesperada de internacionalização jurídica

Quando eu cursava Direito na Universidade Federal Fluminense, no início dos anos 2000, o Direito Internacional Privado (DIP) me parecia um campo reservado aos grandes escritórios que atendiam estrangeiros de alto poder aquisitivo no Brasil. Naquele tempo, para um jovem de classe média sem conexões internacionais, o acesso à prática do DIP era praticamente impossível. O contato com essa disciplina se dava de forma puramente teórica, por meio de aulas breves e pouco aplicadas, restritas ao currículo obrigatório da graduação.

A lógica institucional era clara: para atuar com Direito Internacional Privado, o advogado precisaria, ou trabalhar num grande escritório com clientes estrangeiros, ou ter o acaso de um cliente internacional surgir em sua porta — hipótese remota para quem começava a carreira no Brasil profundo.

A transformação estrutural: do local ao global

Duas décadas depois, o mundo jurídico — assim como o mundo social — sofreu uma verdadeira revolução. A ascensão da internet, das redes sociais e das plataformas de relacionamento internacional trouxe um fenômeno inédito: a internacionalização das relações pessoais de massa.

Se antes as interações internacionais eram exceção, hoje são quase regra. O digital encurtou as distâncias, desfez as barreiras geográficas e tornou possíveis encontros que antes eram apenas utopias românticas ou intelectuais.

No meu caso particular, foi o Amal Date, uma plataforma de relacionamentos, que me colocou diante dessa nova realidade. O que começou como uma simples curiosidade afetiva tornou-se um verdadeiro motor de internacionalização jurídica.

O perfil das advogadas interessadas: conexões inesperadas

Ao longo do tempo, percebi um padrão curioso: muitas das mulheres que se interessaram por mim na plataforma eram advogadas de profissão. Isso não foi mera coincidência. Há, de fato, um traço de afinidade intelectual e moral que aproxima pessoas com experiência no mundo jurídico.

A minha trajetória autoral, com textos publicados desde 2014 sobre temas jurídicos diversos, incluindo reflexões críticas sobre a prática forense, acaba funcionando como um cartão de visitas intelectual. Advogadas, acostumadas a lidar com argumentos e com a lógica jurídica, tendem a valorizar homens com densidade intelectual, capacidade argumentativa e visão de mundo fundamentada.

O escritório de advocacia local: uma nova escola do Direito

Diante desse cenário, começou a surgir em minha mente uma possibilidade que jamais havia considerado: estagiar em um escritório de advocacia estrangeiro.

Tal decisão tem múltiplas vantagens estratégicas:

  1. Vivência prática com a lei local, algo imprescindível para qualquer tentativa de revalidação de diploma ou aprovação em uma prova de ordem estrangeira.

  2. Aquisição do vocabulário técnico-jurídico da nova jurisdição, o que só se aprende dentro da rotina forense.

  3. Construção de uma rede de contatos profissionais, vital para futuras oportunidades de trabalho ou parcerias.

  4. Adaptação cultural e jurídica, pois o Direito não é apenas um sistema de normas, mas um modo de viver e interpretar o mundo.

Se antes eu via os escritórios de advocacia estrangeiros como espaços fechados e quase inacessíveis, hoje os vejo como portas abertas para quem tem disposição, humildade e uma sólida base jurídica preexistente.

Minha prática forense autoral: um currículo Não-Convencional

Um dos meus maiores ativos nesta jornada é o meu trabalho autoral como jurista. Desde 2014, venho publicando textos, artigos e reflexões que abordam o Direito sob múltiplas perspectivas: teórica, prática, filosófica e até teológica.

Essa produção, que já soma mais de uma década de escrita consistente, configura um tipo de prática forense intelectual, reconhecida em muitas jurisdições como atividade jurídica legítima, ainda que fora dos tribunais.

Essa experiência me dá a segurança necessária para transitar por novos ordenamentos jurídicos, pois os fundamentos da argumentação jurídica, da interpretação normativa e da hermenêutica são universais em sua essência.

A emergência do Direito Internacional Privado: da teoria à vida Concreta

O Direito Internacional Privado, que antes era apenas um capítulo distante nos livros da graduação, hoje se tornou um campo vivo e concreto da minha experiência pessoal.

Temas como:

  • Conflito de leis aplicáveis em relações familiares internacionais;

  • Revalidação de diplomas e reconhecimento de títulos estrangeiros;

  • Migração, cidadania e direito de residência;

  • Contratos internacionais;

Deixaram de ser mera teoria e passaram a fazer parte do meu cotidiano. Minha vida virou, ela própria, um caso de estudo em Direito Internacional Privado.

Considerações Finais: o jurista cosmopolita em formação

No fim das contas, o que parecia um acaso — uma interação num aplicativo de relacionamento — revelou-se uma etapa natural e até providencial da minha trajetória como jurista.

Hoje, mais do que nunca, compreendo que o verdadeiro intelectual é aquele que sabe adaptar-se aos novos tempos sem perder a fidelidade aos princípios eternos da Justiça. A internacionalização da minha carreira jurídica não foi uma escolha planejada; foi uma resposta responsável a um chamado que o próprio curso da vida, nos méritos de Cristo, colocou diante de mim.

Se antes o Direito Internacional Privado era um campo para poucos privilegiados, hoje ele é, para mim, uma missão viva e concreta, que une vocação intelectual, coragem pessoal e abertura à providência.

Referências Bibliográficas e Inspiracionais:

  • AMARAL JÚNIOR, José Luiz. Direito Internacional Privado: Teoria Geral e Prática Brasileira. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

  • NADER, Paulo. Introdução ao Estudo do Direito. Rio de Janeiro: Forense, 2012.

  • ROUSSEAU, Dominique. Le droit international privé: Essai sur les fondements. Paris: PUF, 1996.

  • SILVEIRA, Sidney. O Direito Como Virtude. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2015.

  • GURGEL, Rodrigo. A Arte de Ler. São Paulo: É Realizações, 2013.

O rapto, a vontade e a ordem de Deus - meditação filosófico-teológica sobre o que me perguntaram no Amal Date

Certa vez me perguntaram, com aquele tom de brincadeira misturada com provocação: “Se você pudesse me raptar, para onde me levaria?”

De imediato, a pergunta parece apenas um jogo de imaginação. Mas, quando a encaro com a seriedade que dou às coisas do espírito, percebo que ela toca em algo mais profundo: o mistério da liberdade humana diante da vontade de Deus e da ordem objetiva das coisas.

O ato de raptar alguém, mesmo que consensual, carrega em si um simbolismo teológico que não posso ignorar: ele implica o exercício da minha vontade sobre a realidade de modo abrupto, forçando um deslocamento — geográfico, psicológico e moral — que nem sempre corresponde à ordem que Deus estabeleceu para as almas.

Se tudo fosse permitido, se a liberdade fosse apenas fazer o que se quer no momento em que se quer, talvez eu dissesse: “Eu te levaria para a Polônia”.  

Não por mero capricho, mas porque a Polônia, para mim, é terra de testemunho, de fidelidade à Cruz em meio ao sofrimento, de resistência espiritual diante das potências que tentaram apagar nela a marca de Cristo. Levar alguém para lá seria, simbolicamente, levar para um lugar onde a história ensinou o valor da fé, da perseverança e da redenção.

Mas, ao mesmo tempo, sei que nem todas as fugas são legítimas. Nem toda aventura é santa. Há uma pedagogia da história pessoal que Deus conduz com sabedoria, e que me ensina que os laços que tenho com minha família — com seus limites, suas virtudes e suas fragilidades — são também instrumentos de minha santificação.

Meu pai e minha mãe, com sua visão conservadora da vida, são para mim um espelho da autoridade legítima. Neles, reconheço o eco da quarta promessa do Decálogo: “Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias sobre a terra.”
E se a obediência a essa ordem me custa, tanto melhor: é nesse custo que o amor se prova autêntico e a liberdade se purifica.

Raptar alguém, mesmo de modo consensual, seria romper com o princípio da harmonia entre a minha vontade e a vontade de Deus sobre a minha história. Porque a liberdade cristã não é licença para o capricho. Ela é sempre uma resposta responsável, iluminada pela consciência reta, moldada pela oração e afinada ao compasso da Providência.

Se um dia for para partir com alguém, que seja com a bênção dos que me amam e a quem devo honra. Que seja à luz do dia, sem sombra de culpa, sem escândalo, sem violência contra a paz dos outros. Que seja num espírito de missão, não de fuga.

Afinal, tudo aquilo que nasce contra a ordem de Deus, cedo ou tarde, traz consigo o peso da correção. E eu prefiro aprender pela via da graça do que pela via da dor.

Você é um custo: a verdade que o intelectual de pose não suporta ouvir

"Você é um custo. Primeiro, reduza desperdícios."
Taiichi Ohno

Há frases que funcionam como um raio-x moral. Elas expõem, de imediato, quem realmente produz e quem apenas ocupa espaço. Uma dessas frases vem de Taiichi Ohno, o engenheiro japonês que criou o Sistema Toyota de Produção, berço do pensamento Lean, que revolucionou a indústria mundial¹.

Ohno nos lembra de uma verdade que todo trabalhador digno já sabe de antemão, mas que muitos preferem esquecer: todos nós somos um custo até que provemos o contrário, até que entreguemos valor real, até que reduzamos desperdícios.

Agora, pensemos no contraste gritante entre essa mentalidade e a figura do intelectual de pose, esse personagem onipresente nas universidades, nas redes sociais, nas editoras e nos salões literários.

O intelectual de pose: produto da classe ociosa

O conceito de classe ociosa, desenvolvido por Thorstein Veblen no final do século XIX, descreve com precisão cirúrgica essa figura que habita nossos meios acadêmicos e culturais². A classe ociosa vive da exibição de status, da ostentação de símbolos culturais e da simulação de importância, sem de fato produzir algo que reduza desperdícios ou gere valor concreto.

O intelectual de pose é herdeiro direto desse espírito:

  • Fala difícil para esconder a falta de conteúdo.

  • Publica para agradar pares institucionais, não para servir ao público ou a Deus.

  • Cita autores que mal compreende, apenas para sinalizar pertencimento a uma elite cultural.

  • Participa de congressos e eventos apenas para fazer parte da fotografia, nunca para resolver problemas reais.

Enquanto o trabalhador da Toyota olha para cada etapa do processo buscando onde eliminar o inútil, o intelectual de pose faz exatamente o oposto: multiplica o inútil, o rebuscado, o ineficiente, porque é disso que ele vive. Ele é, em essência, um desperdício institucionalizado.

Produzir valor ou consumir prestígio?

A pergunta que define a diferença entre um intelectual verdadeiro e um intelectual de pose é simples:

“Você está reduzindo desperdícios ou apenas consumindo prestígio?”

O intelectual verdadeiro — aquele que serve à verdade, ao bem comum e a Deus — sabe que seu trabalho é, antes de tudo, um serviço. Ele não escreve para impressionar pares, mas para transformar realidades, esclarecer mentes, curar ignorâncias, combater o erro e alargar os horizontes do entendimento humano³.

Ele é um operário da inteligência: produz com eficiência, clareza e senso de responsabilidade moral

Kaizen da alma intelectual

O método Lean tem uma palavra-chave que deveria ser tatuada na consciência de todo aquele que ousa se apresentar como intelectual: Kaizen — melhoria contínua.

Ser intelectual de verdade é um exercício diário de autoexame, autocrítica e autossuperação. É um processo contínuo de identificação e eliminação de vaidades inúteis, de corte das redundâncias e de submissão da própria inteligência à Verdade, que é Cristo⁴.

É entender que nossos textos, nossas aulas, nossas pesquisas, nossos diálogos — tudo — só tem sentido se for serviço. Se não for serviço, é apenas mais um desperdício.

Conclusão: o exame final

Se hoje alguém se pergunta:
“Sou eu um intelectual de verdade ou apenas mais um membro da classe ociosa travestido de pensador?”

Basta olhar para a própria vida e perguntar:

  • Quantos desperdícios eliminei?

  • Quanto valor real gerei para as pessoas ao meu redor?

  • Minhas palavras servem à verdade ou ao meu ego?

  • Meu trabalho aproxima as pessoas de Deus, da justiça e da clareza, ou apenas reforça a confusão e a vaidade institucional?

A resposta está aí. Não em poses, não em selfies diante do Louvre, não em títulos vazios, mas nos frutos concretos que cada um entrega ao mundo.

Porque, no fim das contas, como dizia Taiichi Ohno:

"Você é um custo. Primeiro, reduza desperdícios."

Notas de Rodapé:

¹ Ohno, Taiichi. Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production. Productivity Press, 1988.

² Veblen, Thorstein. A Teoria da Classe Ociosa. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

³ Gurgel, Rodrigo. Escola de Fiscais da Literatura: Ensaios sobre a Crítica Literária Brasileira. São Paulo: É Realizações, 2012.

⁴ João 14:6 — "Eu sou o caminho, a verdade e a vida."

Bibliografia:

  • OHNO, Taiichi. Toyota Production System: Beyond Large-Scale Production. Productivity Press, 1988.

  • VEBLEN, Thorstein. A Teoria da Classe Ociosa. São Paulo: Abril Cultural, 1983.

  • GURGEL, Rodrigo. Escola de Fiscais da Literatura: Ensaios sobre a Crítica Literária Brasileira. São Paulo: É Realizações, 2012.

  • A Bíblia Sagrada. João 14:6.

Democracia, ciência e os fatores democráticos na formação de Portugal: um diálogo entre Olavo de Carvalho e Jaime Cortesão

Há uma convergência profunda entre o diagnóstico feito por Olavo de Carvalho sobre o atual monopólio da produção científica e as reflexões históricas de Jaime Cortesão sobre os fatores democráticos na formação de Portugal. Ambos, cada um a seu modo, chamam a atenção para o papel insubstituível do povo como sujeito ativo na construção da ordem social, seja ela política, territorial ou científica.

A raiz orgânica da democracia portuguesa

Jaime Cortesão, ao estudar a formação de Portugal, não via a democracia como fruto de concessões de cima para baixo ou de revoluções episódicas. Ele via a democracia como um resultado de séculos de participação popular efetiva na ocupação e defesa do território. O povo português, ao expandir as fronteiras, ao cultivar a terra, ao povoar as aldeias e vilas, ao organizar as suas instituições locais, foi gradualmente construindo uma estrutura política onde a autoridade não podia se desvincular da realidade concreta daqueles que viviam e morriam por ela.

A autoridade, naquele contexto, era antes uma representação da liberdade popular do que uma imposição externa. O que Jaime Cortesão descreve é uma democracia substancial, enraizada na história viva de um povo que, por meio de sua colaboração constante, aperfeiçoava a própria autoridade que o governava.

O problema da ciência monopolizada

O que Olavo de Carvalho faz, em seu comentário de seis anos atrás, é trazer essa exigência de participação popular para o campo da ciência. Ele denuncia que hoje o povo é reduzido à condição de mero pagador de impostos, sem qualquer voz sobre o destino das verbas destinadas à pesquisa científica.

Num sistema onde um pequeno círculo de políticos, burocratas e bilionários decide o que se pode investigar e o que deve permanecer fora dos campos de estudo, a democracia não passa de um verniz populista. Tal como em regimes de dominação hierárquica do passado, um grupo seleto decide as perguntas que podem ser feitas e as respostas que podem ser dadas.

Essa seleção prévia das questões científicas forma, no plano cultural e psicológico, o equivalente de uma censura intelectual global. Quem define as perguntas, domina o imaginário coletivo. Quem controla a produção de conhecimento, controla a percepção pública da realidade. É o novo formato da tirania.

O que o povo deseja saber — nos méritos de Cristo

Mas a exigência olaviana não é uma defesa de uma "tirania da maioria" sem critério. O ponto crucial está em que o povo, enquanto totalidade dos consumidores, eleitores e pagadores de impostos, tem direito a saber e a demandar conhecimento — não qualquer conhecimento, mas aquilo que é necessário para a boa ordenação da vida, da moral e da sociedade.

Aqui entra a chave que dá sentido à junção entre Olavo e Cortesão: o povo, nos méritos de Cristo, tem sede da verdade. Não é uma massa amorfa pedindo frivolidades ou entretenimentos científicos. Quando o povo é iluminado pela graça, sua demanda é por justiça, por verdade, por bem comum. Os cientistas, portanto, devem ser obrigados a investigar aquilo que corresponde às legítimas inquietações de um povo que deseja viver em conformidade com a verdade.

Como outrora os camponeses portugueses, ao povoarem as terras conquistadas, exigiam um governo que respondesse aos seus interesses reais e concretos, hoje os cidadãos devem exigir uma produção científica que não sirva apenas aos interesses de uma elite globalista, mas que seja orientada pelas necessidades e pelos anseios morais e espirituais do povo.

Ciência, autoridade e liberdade

Se a ciência permanece nas mãos de uma elite que se considera acima de qualquer controle popular, ela se torna uma arma de engenharia social. Se, ao contrário, os rumos da pesquisa forem definidos de modo a servir o bem comum, conforme os méritos de Cristo, então a ciência pode se tornar um instrumento legítimo de aperfeiçoamento da autoridade.

A democracia autêntica, seja no campo político, seja no campo científico, só se realiza quando a autoridade se alimenta da liberdade viva de um povo que, consciente de sua missão histórica, colabora com a autoridade para o bem comum.

Como outrora nas aldeias portuguesas, hoje também o território — físico ou intelectual — precisa ser povoado de modo responsável. O povo deve exigir que as perguntas certas sejam feitas. E os cientistas, queiram ou não, terão de responder.

Notas de Rodapé:

  1. Jaime Cortesão, Os Fatores Democráticos na Formação de Portugal, Lisboa: Livros Horizonte, 1974.
    (Cortesão apresenta, nesta obra, uma análise histórica sobre como o povo português, desde a fundação do país, participou ativamente da construção da ordem política nacional, criando um modelo peculiar de democracia orgânica.)

  2. Olavo de Carvalho, publicação na página "Tributo a Olavo de Carvalho", Facebook, 14 de junho de 2025.
    (Transcrição: "A coisa MAIS DECISIVA para o futuro da democracia em qualquer lugar do mundo é que o povo -- a totalidade dos consumidores, eleitores e pagadores de impostos -- tenha voz ativa na distribuição das verbas de pesquisa científica, hoje monopólio de um reduzido círculo de políticos, burocratas e bilionários..." Postagem feita originalmente por Olavo há seis anos, segundo o próprio registro da publicação.)

Bibliografia:

  • CORTESÃO, Jaime. Os Fatores Democráticos na Formação de Portugal. Lisboa: Livros Horizonte, 1974.

  • DE CARVALHO, Olavo. Publicação na página "Tributo a Olavo de Carvalho". Facebook, 14 de junho de 2025. Transcrição baseada em captura de tela:
    "A coisa MAIS DECISIVA para o futuro da democracia em qualquer lugar do mundo é que o povo -- a totalidade dos consumidores, eleitores e pagadores de impostos -- tenha voz ativa na distribuição das verbas de pesquisa científica..."

  • CARVALHO, Olavo de. O Imbecil Coletivo. 3ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.
    (Embora não citado diretamente, é relevante como leitura complementar sobre a crítica de Olavo ao monopólio intelectual.)

  • CORTESÃO, Jaime. História de Portugal: A Formação do Território. Lisboa: Bertrand, 1940.
    (Para aprofundamento sobre a relação entre povoamento e organização social em Portugal.)

O intelectual de gabinete e a falsa autoridade acadêmica: Um chamado ao trabalho extramuros

 Vivemos uma época em que a produção intelectual se transformou, em grande parte, num jogo de vaidades institucionais. Há quem, ao ser solicitado a apresentar o fruto de seu labor intelectual, aponte como credencial suas publicações acadêmicas: artigos em revistas especializadas, capítulos em coletâneas organizadas por departamentos universitários ou papers apresentados em congressos cuja audiência é composta por um pequeno círculo de iniciados.

Ao deparar-me com esse tipo de resposta, minha reação é imediata: vejo que essa pessoa não é um intelectual de verdade, mas um intelectual de gabinete. A razão disso é simples e dolorosa: as instituições acadêmicas de hoje, salvo raríssimas exceções, não passam de fábricas de narcisismo burocratizado, onde o reconhecimento não advém da verdade, mas da chancela de pares igualmente iludidos, ou, pior, igualmente cínicos.

A primeira audiência: Deus, os santos e os anjos

O verdadeiro intelectual sabe para quem escreve. Ele não busca a aprovação do departamento de sociologia da universidade tal, nem o aplauso de um comitê editorial que mede qualidade pelo índice de citação. O intelectual autêntico tem consciência de que a primeira audiência que importa é a divina: Deus, os Santos e os Anjos no Céu.

Essa percepção modifica radicalmente o ethos do trabalho intelectual. Cada linha escrita é um ato de responsabilidade moral diante da Verdade, que é uma Pessoa. Cada argumento é uma prestação de contas diante do Juiz que vê o íntimo dos corações. Nesse tribunal, não há espaço para o flerte com modismos teóricos, nem para a ginástica retórica voltada ao agradar dos pares.

O problema da legitimação por chancela

O intelectual de gabinete age como quem precisa de aval para existir. Ele é produto de um sistema de validação circular: escreve para agradar aos colegas de departamento, os quais, por sua vez, produzem para serem citados reciprocamente. Esse círculo vicioso de autoafirmação institucional cria uma bolha de linguagem e de referências que, na prática, isola o intelectual do mundo real e da sede de verdade que pulsa nas almas comuns.

É por isso que, quando alguém me aponta como cartão de visitas suas publicações acadêmicas, eu não vejo ali uma prova de autoridade. Vejo apenas a prova de uma mentalidade prisioneira. Vejo um funcionário da indústria da opinião, não um servo da Verdade.

O trabalho extramuros: um dever espiritual

O trabalho intelectual sério é, por sua natureza, um trabalho extramuros. Não acontece nas conferências fechadas, nem nos periódicos de circulação restrita. Acontece no campo aberto da vida pública, onde a palavra encontra o povo, onde a verdade se mistura com o concreto da existência.

O verdadeiro intelectual não tem medo da exposição direta. Ele escreve blogs, mantém canais, grava vídeos, publica livros por conta própria, circula seus textos nas redes sociais, mesmo sabendo que pode ser ignorado ou ridicularizado. Ele não espera a autorização de um conselho editorial para falar o que deve ser dito. Ele presta contas, antes de tudo, à sua consciência diante de Deus.

A cultura da resistência

Essa postura não é gratuita. Ela é fruto de resistência. Em tempos em que a mentira se institucionaliza, o intelectual que deseja ser fiel à Verdade precisa assumir os riscos de trabalhar fora dos muros da academia. E isso custa caro: custa isolamento, custa a perda de oportunidades profissionais, custa o desprezo dos pares, custa a invisibilidade dentro dos circuitos oficiais.

Mas esse é o preço que se paga por não negociar a própria alma.

Conclusão: a medida da autoridade é a fidelidade à verdade

A autoridade intelectual não se mede por número de publicações, nem por fator de impacto, nem por índice H. Mede-se por fidelidade à Verdade e por disposição ao sacrifício. O critério último não é o aplauso dos homens, mas o reconhecimento do Céu.

O verdadeiro intelectual sabe: não há currículo Lattes que substitua um Livro da Vida bem escrito.

Bibliografia Recomendada:

  • Pieper, Josef. O Ócio e a Vida Intelectual. É Realizações.

  • Gurgel, Rodrigo. Crítica: A Arte de Pensar pela Literatura. É Realizações.

  • Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições. Vide Editorial.

  • Leão XIII. Rerum Novarum.

Notas de Rodapé:

  1. A crítica à produção acadêmica como círculo de validação interna é feita por vários autores contemporâneos, entre eles o filósofo Olavo de Carvalho em seus ensaios sobre a mentalidade universitária moderna.

  2. O conceito de “trabalho extramuros” aqui defendido ecoa a tradição dos grandes intelectuais públicos da história, que nunca se limitaram aos ambientes institucionais: Sócrates nas praças de Atenas, Santo Agostinho em suas epístolas, Dostoiévski em seus romances.

  3. Sobre a diferença entre prestígio institucional e autoridade moral, vide Josef Pieper, O Ócio e a Vida Intelectual.