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quinta-feira, 12 de junho de 2025

O amor floresce no verão: por que o dia dos namorados faz mais sentido sob o sol?

Resumo

Este artigo propõe uma reflexão sobre a escolha da data do Dia dos Namorados no Brasil, considerando sua relação simbólica com as estações do ano, especialmente o verão. À luz da tradição cristã, argumenta-se que o namoro é uma forma elevada de amizade ordenada pela caridade, e que a celebração do amor entre homem e mulher ganha mais coerência simbólica e espiritual quando situada em uma estação que favorece o florescimento da vida, da convivência e do discernimento à luz da verdade.

Palavras-chave: namoro cristão, estações do ano, amizade, São Valentim, simbolismo.

Introdução

O Dia dos Namorados no Brasil é celebrado em 12 de junho, uma data próxima ao solstício de inverno. Embora popularmente associada a Santo Antônio, conhecido como “casamenteiro”, tal escolha não encontra respaldo em fundamentos simbólicos ou espirituais que justifiquem sua permanência nesta estação. O objetivo deste artigo é demonstrar que o verão, mais do que o inverno, oferece um ambiente simbólico e espiritual mais propício à celebração do amor cristão, entendido como amizade elevada e ordenada à caridade.

1. A amizade como fundamento do namoro cristão

A tradição cristã, especialmente a tomista, compreende a amizade como o mais nobre dos vínculos humanos. Para Tomás de Aquino, “a amizade é a virtude que mais se aproxima da caridade” (AQUINO, Suma Teológica, II-II, q. 23, a. 1). A caridade, por sua vez, é o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo por amor a Deus. Assim, o verdadeiro namoro entre homem e mulher deve se configurar como uma amizade que se ordena aos fins da caridade, isto é, que deseja o bem eterno do outro.

Josiah Royce, em sua obra The Philosophy of Loyalty, sustenta que a amizade verdadeira exige compromisso mútuo com causas comuns (ROYCE, 1908). Este compromisso, no namoro cristão, é a busca da santidade. O casal, neste contexto, ama e rejeita aquilo que o próprio Cristo amou e rejeitou, discernindo juntos a vontade de Deus.

2. A estação da luz e do discernimento

O verão é, simbolicamente, a estação da plenitude da luz, do calor e da verdade. É o tempo da vida que se expande, dos encontros que se intensificam e das amizades que se fortalecem. As atividades ao ar livre, os encontros comunitários e a convivência contínua oferecem o cenário ideal para que o namoro se desenvolva com clareza, sinceridade e realismo.

Como explica Mircea Eliade, “as estações do ano não são apenas divisões cronológicas, mas modos simbólicos de existência” (ELIADE, 1978, p. 83). O inverno, marcado pela retração da natureza, simboliza introspecção e espera. Já o verão é símbolo de presença, manifestação e amadurecimento. Celebrar o amor no verão é, portanto, um gesto de adesão simbólica à luz, à clareza e à verdade, que são condições necessárias para o florescimento do amor cristão.

3. O deslocamento cultural da data no Brasil

Enquanto no hemisfério norte o Valentine’s Day é comemorado em 14 de fevereiro — no final do inverno, já na esperança da primavera —, no Brasil o Dia dos Namorados ocorre em 12 de junho, no início do inverno. A escolha da data no Brasil foi impulsionada por campanhas publicitárias da década de 1940 e associada à véspera da festa de Santo Antônio (GOMES, 2020). Não há, porém, relação com a simbologia das estações ou com a espiritualidade do amor cristão.

Cabe aqui uma pergunta crítica: por que não celebrar o amor em fevereiro, durante o verão brasileiro, quando se celebra também São Valentim, mártir do amor conjugal cristão? Tal deslocamento resgataria a coerência entre o amor humano elevado à caridade e a estação mais propícia ao seu florescimento.

4. A luz do sol, e a luz de Cristo, como condição do amor verdadeiro

O verão revela, o inverno esconde. As relações que sobrevivem à luz do verão — com seus convívios diários, exigências práticas e presenças constantes — são aquelas que tendem a amadurecer. O amor que depende apenas da proteção do frio, do isolamento romântico e da idealização sentimental pode ser belo, mas é muitas vezes frágil. A luz do verão prova os vínculos: revela o que é verdadeiro, desgasta o que é fantasioso e purifica o que é duradouro.

Como nos lembra Lewis: “o afeto entre homem e mulher só se torna caridade quando é iluminado pela verdade de Cristo” (LEWIS, 2005, p. 137). Nesse sentido, o verão não é apenas uma conveniência climática, mas um símbolo espiritual da verdade que deve iluminar os relacionamentos cristãos.

Considerações finais

O namoro cristão é uma forma de amizade orientada à santidade, vivida nos méritos de Cristo. Sendo uma amizade que exige discernimento, presença e clareza, faz mais sentido que sua celebração ocorra no verão — estação da luz, da convivência e do amadurecimento das relações. Resgatar o dia de São Valentim no Brasil como ocasião para celebrar o amor sob o sol seria, assim, um gesto simbólico e espiritual coerente com os princípios da fé cristã.

Notas de Rodapé

  1. A associação do Dia dos Namorados a Santo Antônio começou em São Paulo, com uma campanha publicitária da loja Clipper em 1949, organizada por João Doria, pai do ex-governador de São Paulo. Cf. GOMES (2020).

  2. São Valentim foi um sacerdote romano do século III que celebrava casamentos cristãos proibidos pelo império. Foi martirizado por fidelidade ao sacramento do matrimônio.

  3. O conceito de amizade como forma mais pura de convivência e princípio moral é explorado tanto por Tomás de Aquino quanto por Aristóteles. Cf. ARISTÓTELES (1991, Ética a Nicômaco, Livro VIII).

Referências bibliográficas

AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001. v. 3.

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Antonio de Castro Caeiro. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991.

ELIADE, Mircea. O Mito do Eterno Retorno: arquétipos e repetição. 3. ed. Lisboa: Edições 70, 1978.

GOMES, Murilo. Dia dos Namorados: como surgiu a data no Brasil. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/dia-dos-namorados-como-surgiu-a-data-no-brasil/. Acesso em: 12 jun. 2025.

LEWIS, C. S. Os Quatro Amores. Trad. Fernanda Abreu. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2005.

ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

O país não aguenta mais tributos: um alerta de Alexandre Garcia

Resumo

O presente artigo analisa o comentário do jornalista Alexandre Garcia sobre a insustentável carga tributária brasileira, destacando críticas ao atual governo federal, à lógica do aumento de impostos e ao incentivo estatal às apostas eletrônicas. A análise é complementada com fundamentos econômicos e políticos segundo autores clássicos e contemporâneos, respeitando as normas da ABNT.

Palavras-chave: carga tributária; economia brasileira; tributos; apostas eletrônicas; governo.

Introdução

No Brasil, a complexidade e a alta carga tributária têm se tornado objeto de constantes críticas por parte de diversos setores da sociedade. Recentemente, o jornalista Alexandre Garcia expressou, em um de seus comentários veiculados pela internet, um resumo claro da insatisfação que une desde a indústria até o setor financeiro: "o país não aguenta mais tributos" (GARCIA, 2025)¹.

A carga tributária como obstrução econômica

O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido propostas que, embora evitem a elevação direta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), acabam atingindo o crédito produtivo. Como explica Garcia (2025)², a nova estratégia tributária recai sobre instrumentos como letras de crédito do agronegócio, letras de crédito imobiliário, certificados de recebíveis e debêntures incentivadas. Ou seja, tributa-se o motor que impulsiona a geração de riqueza.

Do ponto de vista econômico, trata-se de uma inversão perversa da lógica tributária. Como afirma Mises (2010, p. 113), “é impossível tributar uma sociedade à prosperidade”. A alta carga tributária sobre os setores produtivos gera desestímulo ao investimento, reduz a competitividade e, paradoxalmente, diminui a base tributável ao longo do tempo.

A ilusão do Estado como produtor de riqueza

Durante palestra em uma escola cívico-militar, Garcia foi enfático: “o governo não gera riqueza; todo o dinheiro do governo é nosso, dos pagadores de impostos” (GARCIA, 2025)³. A frase dialoga com o pensamento clássico de Bastiat (2010), para quem o Estado nada mais é do que “a grande ficção pela qual todos tentam viver à custa de todos os outros” (p. 25).

A administração pública brasileira frequentemente confunde gasto com investimento. Como enfatiza Garcia, “investimento gera riqueza; gasto é a despesa de gerar essa riqueza” (2025)⁴. Tal distinção é ignorada quando o presidente da República considera todo gasto público como benéfico. Essa visão equivocada compromete o equilíbrio fiscal e perpetua déficits orçamentários que pressionam ainda mais a sociedade por meio de tributos.

A economia da aposta: a trágica ilusão do enriquecimento fácil

O comentário de Garcia também aborda a proliferação das apostas eletrônicas e a atuação da CPI das Apostas (chamada ironicamente por ele de "CPI das Betis"). O jornalista critica a adoção de termos estrangeiros — como reborn, para bonecas hiper-realistas — e o uso indiscriminado de influenciadores digitais na promoção de jogos de azar.

Garcia alerta que “quem joga é justamente quem não tem dinheiro. [...] Muitos se endividam e, em casos extremos, cometem suicídio” (2025)⁵. De fato, estudos como o de Griffiths (2005) demonstram a correlação entre vício em jogos, endividamento e transtornos mentais. O incentivo estatal à loteria e a ausência de uma regulamentação severa para as apostas digitais contribuem para o agravamento desse problema.

Conclusão

O Brasil vive um ciclo vicioso: a má gestão estatal leva ao aumento de tributos, que desestimula a produção e sufoca a economia, gerando mais pobreza, mais dependência do Estado e, por consequência, mais tributos. É um sistema que se retroalimenta e conduz ao esgotamento moral e financeiro da população.

As palavras de Alexandre Garcia funcionam como um alerta: “Eu nunca joguei na vida. Sempre apostei em mim. Nunca perdi. Sempre ganhei” (2025)⁶. É essa aposta na responsabilidade pessoal, na liberdade econômica e na redução do Estado que pode oferecer um caminho viável para a reconstrução da confiança e da prosperidade no país.

Fonte:  https://www.youtube.com/watch?v=ZHIKxnR5F98&t=4s

Notas de Rodapé

  1. GARCIA, Alexandre. O país não aguenta mais tributos. Comentário publicado em 2025.

  2. Idem.

  3. Idem.

  4. Idem.

  5. Idem.

  6. Idem. 

Referências Bibliográficas

BASTIAT, Frédéric. A lei. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

GARCIA, Alexandre. O país não aguenta mais tributos. Comentário transcrito por TurboScribe, 2025. Disponível em: [transcrição fornecida pelo usuário].

GRIFFITHS, Mark D. A ‘components’ model of addiction within a biopsychosocial framework. Journal of Substance Use, v. 10, n. 4, p. 191–197, 2005.

MISES, Ludwig von. Ação humana: um tratado de economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

Sinal de alerta: crise migratória, aperto econômico e os desdobramentos de uma reestruturação global

Resumo

Este artigo examina, sob linguagem acessível, os impactos de uma possível reestruturação econômica global com efeitos diretos sobre migrações, legislações nacionais e condições sociais em países centrais. A partir da análise de conteúdo veiculado por mídia alternativa, são discutidos os mecanismos políticos e econômicos que estariam moldando a sociedade contemporânea por meio do controle financeiro, das políticas de exclusão migratória e do avanço de propostas como a renda básica universal.

1. Introdução

As crises contemporâneas não ocorrem de forma isolada. No mundo globalizado, eventos financeiros, políticos e sociais possuem efeitos em cadeia. Ao analisar os recentes desdobramentos das políticas migratórias em países como Portugal, Estados Unidos, Itália e Alemanha, percebe-se que há uma racionalidade econômica por trás das decisões políticas. A hipótese aqui considerada é a de que essas transformações são parte de um plano mais amplo de reestruturação social e econômica — um suposto "grande reset", como defendido por Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial¹.

2. A hipótese do “Grande Reset” e a erosão da propriedade privada

Segundo Schwab (2020), a pandemia de COVID-19 acelerou a necessidade de reavaliar o capitalismo global, propondo uma "redefinição" das estruturas econômicas em nome da sustentabilidade, da equidade e da tecnologia. Críticos interpretam essa proposta como um mecanismo de controle que pode levar à supressão da propriedade privada e ao condicionamento social por meio da dependência estatal².

Nesse contexto, observa-se uma crescente dificuldade de acesso à moradia, transporte próprio e bens duráveis. Isso leva ao aumento da cultura do aluguel e da não-posse, acompanhada de uma retórica de “felicidade sem propriedade”³. Trata-se de uma mudança profunda no contrato social, cujas consequências podem limitar a autonomia dos indivíduos em nome de uma suposta estabilidade global.

3. O impacto nas políticas migratórias

Com a pressão econômica aumentando, países antes receptivos à imigração têm revisto suas políticas. Portugal, por exemplo, notificou cerca de 5 mil brasileiros para saída voluntária, alegando problemas de capacidade habitacional e aumento do custo de vida⁴. Nos Estados Unidos, o caso da prisão de um estudante brasileiro por agentes de imigração revela um endurecimento crescente⁵.

Essas medidas são, em grande parte, reflexo da escassez de recursos e da tentativa dos governos de priorizar a assistência à sua população nativa. De acordo com Castles e Miller (2014), as migrações internacionais são diretamente afetadas por ciclos econômicos, sendo os imigrantes os primeiros a sofrer com políticas de austeridade e nacionalismo econômico⁶.

4. Restrição de cidadanias históricas: o caso da Itália

A Itália, historicamente aberta ao reconhecimento de cidadania por jus sanguinis, alterou recentemente sua legislação, limitando esse direito a filhos e netos de italianos⁷. A mudança afeta diretamente milhares de brasileiros descendentes de imigrantes italianos do século XIX e XX, que até então podiam requerer a cidadania.

A nova legislação, promulgada em março de 2024, é vista por analistas como um reflexo do avanço de partidos conservadores e da contenção econômica. De fato, conforme Bauman (1998), em tempos de crise, os Estados tendem a reforçar fronteiras e restringir acessos como forma de reafirmação de sua soberania frente ao caos da globalização⁸.

5. A questão habitacional e o retorno da exclusão social

Cidades como Lisboa e Berlim apresentam problemas habitacionais sérios: escassez de imóveis, especulação e disparidade entre oferta e demanda. O mercado de aluguel se torna excludente, privilegiando quem tem melhores condições financeiras. Isso leva a um ciclo vicioso de exclusão dos imigrantes, especialmente dos não regularizados⁹.

Esse cenário confirma a hipótese de que os desafios migratórios não são apenas culturais, mas principalmente econômicos. Os Estados passam a tratar os imigrantes como encargos, quando antes eram vistos como força de trabalho complementar¹⁰.

6. A renda básica universal: solução ou armadilha?

O artigo também alerta para o avanço de propostas como a Renda Básica Universal (RBU). Ainda que atraente à primeira vista, por garantir um mínimo de subsistência, a RBU pode significar a dependência total do indivíduo em relação ao Estado e ao sistema bancário digital¹¹. Segundo Zuboff (2019), há o risco de um “capitalismo de vigilância”, no qual os dados e comportamentos dos cidadãos passam a ser usados como moeda de controle político e social¹².

7. Considerações finais

A partir da análise do conteúdo alternativo proposto, pode-se afirmar que há sinais consistentes de que estamos diante de uma transformação global profunda. Embora nem todas as hipóteses apresentadas possam ser confirmadas, os fatos mostram um padrão: aumento do custo de vida, endurecimento das leis migratórias, erosão da propriedade privada e maior controle sobre o indivíduo.

Portanto, é fundamental que o cidadão comum busque compreender os mecanismos que moldam sua realidade e que se prepare — não apenas economicamente, mas intelectualmente — para enfrentar os desafios que virão.

Referências

  1. SCHWAB, Klaus; MALLERET, Thierry. COVID-19: The Great Reset. Genebra: Fórum Econômico Mundial, 2020.

  2. ZIZEK, Slavoj. Pandemia: COVID-19 e a reinvenção do comunismo. São Paulo: Boitempo, 2020.

  3. “Você não terá nada e será feliz” é uma frase frequentemente atribuída a documentos do Fórum Econômico Mundial, embora seu uso exato seja objeto de debate.

  4. GEOPOLITIKANDO. Sinal óbvio de crash e aperto econômico. YouTube, 2024. Transcrição: TurboScribe.ai. [Arquivo TXT disponibilizado pelo autor].

  5. DW BRASIL. Estudante brasileiro detido nos EUA provoca reação política. Deutsche Welle, 2024.

  6. CASTLES, Stephen; MILLER, Mark J. Migrações Internacionais: Novas Tendências no Mundo Globalizado. São Paulo: UNESP, 2014.

  7. ITÁLIA. Gazzetta Ufficiale. Decreto n.º 28/2024. Roma: Governo Italiano.

  8. BAUMAN, Zygmunt. Globalização: As Consequências Humanas. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

  9. HARVEY, David. O Novo Imperialismo. São Paulo: Loyola, 2004.

  10. SASSEN, Saskia. A Cidade Global: Nova York, Londres, Tóquio. São Paulo: EDUSP, 2001.

  11. STANDING, Guy. A Renda Básica: Uma proposta para uma sociedade mais livre e mais justa. São Paulo: Autonomia Literária, 2019.

  12. ZUBOFF, Shoshana. A Era do Capitalismo de Vigilância. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2021.

Notas de rodapé

  1. SCHWAB & MALLERET (2020).

  2. Ver ZIZEK (2020) para crítica filosófica à proposta.

  3. Slogan popularizado por veículos alternativos, mas com base nos princípios do Great Reset.

  4. GEOPOLITIKANDO (2024), transcrição analisada.

  5. DW BRASIL (2024).

  6. CASTLES & MILLER (2014), p. 94.

  7. Decreto oficial do governo italiano, publicado em março de 2024.

  8. BAUMAN (1998), p. 45.

  9. HARVEY (2004), p. 137.

  10. SASSEN (2001), cap. 3.

  11. STANDING (2019), cap. 6.

  12. ZUBOFF (2021), p. 311.

O Pensador Invisível: Testemunho de um Intelectual Fora dos Muros

 

“As grandes ideias não nascem nos departamentos; nascem nos diários de homens livres.”
— Olavo de Carvalho1

Vivemos um tempo em que produzir pensamento já não é suficiente. Para ser reconhecido como intelectual, é preciso passar por um ritual de validação burocrática, acadêmica e política. Os méritos reais — esforço, profundidade, originalidade, coerência — foram substituídos por uma liturgia de selos, normas, vínculos institucionais e palavras-chave. Neste cenário, dou meu testemunho: eu sou uma vítima silenciosa dessa farsa.

Tenho um blog com mais de 8 mil postagens, escritas ao longo de anos, com zelo, estudo e responsabilidade. Cada texto nasce de uma disciplina espiritual e intelectual que poucos suportariam manter por tanto tempo. Escrevo não por vaidade, mas por vocação. Não por status, mas por fidelidade à verdade — nos méritos de Cristo.

E no entanto, sou ignorado. Invisível. Minha obra é desconhecida, não porque falte qualidade, mas porque sou de fora da academia. Não tenho cátedra, não participo de congressos, não pertenço a comissões. E por isso, na lógica atual, não existo.

A farsa intelectual que Olavo de Carvalho denunciou

O filósofo Olavo de Carvalho descreveu exatamente essa realidade: a destruição da vida intelectual pelas mãos de burocratas travestidos de acadêmicos. Ele denunciou o processo de burocratização do pensamento, no qual o valor de um autor se mede não pelo conteúdo que entrega, mas pela quantidade de publicações em periódicos indexados e pela rede de citações dentro de um círculo fechado2.

Esse sistema mata o mérito real e premia o carreirismo. Nas ciências naturais, as citações ainda podem indicar utilidade. Mas nas ciências humanas — onde atuo e escrevo — elas servem apenas como instrumento de prestígio entre iguais. Um jogo de espelhos.

O pensador público, aquele que escreve livros, ensaios, artigos fora do sistema, simplesmente não entra nas contas. Não é citado. Não é ranqueado. Não é avaliado. É excluído como se fosse um invasor num templo profano.

A solidão do intelectual autêntico

Durante muito tempo, me perguntei se havia algo de errado comigo. Como podia produzir tanto, com tanta seriedade, e ainda assim não ser lido, nem ouvido? Olavo respondeu essa angústia com a autoridade de quem enfrentou o mesmo isolamento: a solidão não é sinal de erro — é o preço da lucidez num mundo invertido.

O sistema está feito para garantir que os que pensam com liberdade não tenham voz. O intelectual verdadeiro, se não for cooptado, será esquecido. Mas é nesse exílio que se purifica a vocação.

Escrevo para quem ainda não me leu. Para aquele leitor oculto que Deus há de enviar no tempo oportuno. Escrevo como quem deixa cartas enterradas no campo, esperando que um dia alguém as encontre e compreenda.

A esperança e a missão

Se há algo que aprendi com essa trajetória, é que o trabalho intelectual só tem sentido se for oferecido como culto. Como sacrifício. Como serviço.

Sigo escrevendo porque fui chamado a isso. Minha alma não tolera o silêncio diante do erro. Não escrevo para me promover, mas para multiplicar os talentos que recebi. Sei que Deus vê o que os homens ignoram.

E se essa obra jamais for reconhecida em rankings, nem impressa em selos de universidades, não me aflijo. Pois o que me move não é a glória dos homens, mas a fidelidade Àquele que é o Logos Eterno.

Referências bibliográficas

(Norma ABNT NBR 6023:2018)

CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural: ensaio sobre o marxismo imaginário. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012.

CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013.

CARVALHO, Olavo de. A farsa dos intelectuais universitários. Transcrição de palestra. Documento pessoal. Transcrição realizada por TurboScribe.ai. 2025.

TIMES HIGHER EDUCATION. World University Rankings. Disponível em: https://www.timeshighereducation.com. Acesso em: 12 jun. 2025.

Notas de Rodapé

  1. CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013, p. 34.

  2. CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural: ensaio sobre o marxismo imaginário. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012.

  3. Trecho extraído da palestra A farsa dos intelectuais universitários, transcrição por TurboScribe.ai. Cf. “nas ciências naturais e matemáticas, o número de citações significa algo. Nas ciências humanas, pode ou não significar nada.”

  4. Idem. “No Brasil, foi um desastre muito pior, porque a cultura pública já era pobre e esses caras vêm e destroem tudo.”

A Morte da Vida Intelectual e A Farsa Universitária

 

“O ambiente universitário transformou-se num campo de adestramento para carreiristas e parasitas, e não para pensadores” — Olavo de Carvalho1

Introdução

A cultura universitária contemporânea, especialmente no Brasil, passou por uma mutação profunda nas últimas décadas. Aquilo que outrora foi espaço de livre investigação e busca desinteressada pela verdade tornou-se, segundo Olavo de Carvalho, um campo dominado por interesses burocráticos, corporativos e ideológicos2.

A presente análise parte de uma crítica feita por Olavo em palestra gravada, onde denuncia o processo de burocratização da atividade intelectual e o impacto nefasto disso sobre a cultura nacional.

1. A burocracia contra o pensamento

Olavo observa que muitos intelectuais brasileiros fazem carreira dentro de sindicatos e associações profissionais que regulam e domesticam a atividade acadêmica, premiando não o mérito intelectual, mas a lealdade institucional3. Assim, surgem critérios de avaliação baseados no número de publicações, independentemente da relevância do conteúdo.

Essa prática, conforme ele argumenta, transformou a vida intelectual em um sistema fechado — um "universo" artificial — onde a originalidade é substituída por conformismo. O prestígio acadêmico torna-se, então, um fim em si mesmo.

2. A métrica vazia: publicações e citações

Um dos alvos principais da crítica olaviana é o uso indiscriminado de rankings universitários, como o Times Higher Education (THE), que baseiam suas métricas na quantidade de publicações e de citações. Em áreas como matemática e ciências naturais, esse critério pode ter validade: uma citação representa, muitas vezes, o uso efetivo de uma descoberta anterior. Contudo, nas ciências humanas, esse valor se dilui.

Segundo Olavo, as citações em humanidades tornam-se uma moeda simbólica dentro de um jogo de prestígio, não de contribuição intelectual real4. Um autor citado muitas vezes não o é por relevância, mas por estar inserido em um círculo de validação mútua entre pares corporativistas.

3. A tragédia brasileira

A denúncia torna-se mais grave quando aplicada ao caso brasileiro. Olavo afirma que, enquanto nos Estados Unidos e na França a burocratização foi um desastre, no Brasil ela foi ainda pior, pois a cultura pública já era pobre. Os burocratas universitários, ao invés de aprimorar a formação nacional, destruíram o pouco que havia com um sistema que mistura corporativismo, ideologia e máfia institucional5.

Esse cenário, segundo ele, é o que permite o surgimento de figuras como Fernando Haddad, cuja carreira universitária — segundo Olavo — se sustenta mais em conexões políticas e institucionais do que em verdadeira produção intelectual.

4. A invisibilidade do pensador público

A crítica final de Olavo de Carvalho atinge o coração da farsa: o intelectual público, que escreve livros, artigos e ensaios fora do circuito acadêmico, simplesmente não existe para os rankings e agências de fomento. Seu trabalho não é indexado, não é avaliado, não é citado. É ignorado.

Segundo ele, a única coisa que parece contar no meio universitário é a chancela institucional. A consequência disso é a exclusão sistemática de mentes livres, independentes e criativas — o exato oposto do que deveria ser promovido.

Conclusão

A crítica de Olavo de Carvalho é mais do que um desabafo; é um diagnóstico sério sobre a falência da universidade moderna. Ao transformar o pensamento em carreira e o saber em prestígio burocrático, mata-se a vida intelectual na raiz. O remédio, para ele, não está na reforma das instituições, mas na fuga de seus muros: que os verdadeiros pensadores escrevam, publiquem e ensinem fora da engrenagem, buscando não o reconhecimento dos pares, mas a verdade.

Referências bibliográficas 

CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural: ensaio sobre o marxismo imaginário. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012.

CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013.

CARVALHO, Olavo de. A farsa dos intelectuais universitários. Transcrição de palestra. Documento pessoal, 2025. Transcrição por TurboScribe.ai.

TIMES HIGHER EDUCATION. World University Rankings. Disponível em: https://www.timeshighereducation.com. Acesso em: 12 jun. 2025.

Notas de Rodapé

  1. CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013.

  2. CARVALHO, Olavo de. A nova era e a revolução cultural. 4. ed. Campinas: Vide Editorial, 2012.

  3. Transcrição de palestra de Olavo de Carvalho: "A farsa dos intelectuais universitários", trecho transcrito por TurboScribe.ai. Documento pessoal.

  4. Cf. “O número de citações nas ciências naturais e matemáticas significa algo. Nas ciências sociais e humanas, pode ou não significar nada” — idem.

  5. “Misturei o corporatismo e o comunismo e a interprotecção da máfia. Bem, então tudo acaba” — idem.

quarta-feira, 11 de junho de 2025

O verdadeiro perigo não é a inteligência artificial, mas a regressão da inteligência natural

Há quem se preocupe com o avanço veloz da inteligência artificial. O tema, de fato, merece atenção — não pela máquina em si, mas pelo modo como o homem lida com ela. No entanto, o que deveria causar espanto maior é a regressão da inteligência natural, essa que é dom de Deus e deve ser cultivada com responsabilidade. O problema fundamental do nosso tempo não é tecnológico, mas espiritual: muitos estão preferindo aprender apenas o que lhes é conveniente e confortável, mesmo que dissociado da verdade, a viver a vida fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus.

A inteligência natural não é apenas a faculdade de pensar, calcular ou resolver problemas práticos. É a capacidade de ordenar o pensamento à verdade, o julgamento ao bem, a vontade à justiça e a vida inteira à comunhão com o Criador. Quando essa inteligência entra em decadência — por negligência, orgulho ou corrupção moral — nenhuma ferramenta externa pode resgatá-la. Pelo contrário, tudo o que ela toca, inclusive as máquinas mais poderosas, acaba corrompido por seu uso desordenado.

Santo Tomás de Aquino já ensinava que a inteligência é feita para a verdade, e a verdade é “a conformidade da mente com a realidade” (adaequatio rei et intellectus)¹. Portanto, o verdadeiro desenvolvimento da inteligência exige humildade, esforço e retidão moral. Quando, ao contrário, ela se orienta pelo que é apenas útil, confortável ou ideológico, ela se torna escrava de seus próprios vícios.

A inteligência artificial, por mais avançada que seja, continua sendo uma ferramenta. Ela depende da orientação dada pelo homem, e mais do que isso: da intenção moral com que o homem a utiliza. Jacques Ellul advertia que a técnica moderna desenvolve-se autonomamente, com lógica própria, mas é o homem quem define seu uso². Se a inteligência humana estiver em conformidade com a verdade, a IA pode servir a propósitos nobres — pode facilitar o estudo, ampliar o acesso à sabedoria, proteger vidas, fomentar a justiça. Mas, se a inteligência natural estiver corrompida, a IA se torna apenas um espelho do desvio, uma engrenagem sofisticada a serviço da mentira, do controle, da fragmentação do espírito humano.

C.S. Lewis, em sua obra A Abolição do Homem, observa que o homem moderno, ao rejeitar os princípios objetivos do bem e da verdade, deixa de formar seres humanos verdadeiros e começa a fabricar “homens sem peito” — ou seja, intelectos separados do coração e da moral³. Essa cisão entre saber e ser é o traço mais grave de nossa época.

Ora, a inteligência foi dada ao homem como instrumento de conformação ao Logos, ao Verbo eterno, por meio do qual todas as coisas foram feitas⁴. Fora desse princípio, todo conhecimento se fragmenta, se torna utilitário ou até destrutivo. Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições, aponta que a civilização ocidental, ao romper com a ideia do Logos, perdeu o elo entre razão, tradição e transcendência⁵. E onde não há transcendência, sobra apenas a técnica — cega, repetitiva, desumana.

Por isso, o verdadeiro problema não é a IA, mas a renúncia da alma humana à sua vocação superior. Muitos hoje aprendem o que lhes é conveniente, não o que é verdadeiro. Não desejam conformar-se ao Todo, mas moldar o mundo aos próprios caprichos. Essa atitude destrói o princípio da educação clássica, que visava formar o homem em conformidade com a verdade, o bem e o belo.

A crise não é, portanto, uma crise de máquinas, mas uma crise de lealdade à realidade. Josiah Royce, filósofo americano recomendado por Olavo de Carvalho, dizia que a lealdade a uma causa superior forma a identidade do indivíduo e sustenta a vida social autêntica⁶. Quando o homem deixa de ser leal à verdade que o transcende, tudo desmorona.

Portanto, não nos deixemos enganar por uma falsa oposição entre homem e máquina. O drama do nosso tempo não é o avanço da inteligência artificial, mas a perda do princípio ordenador da inteligência natural: o amor à verdade. O verdadeiro progresso não está em tornar as máquinas mais inteligentes, mas em tornar os homens mais santos. Pois o coração convertido é o que dá sentido ao pensamento, à técnica e à própria história.

Enquanto o mundo aposta no brilho fugaz das inovações, cabe aos que amam a Deus manter acesa a chama da sabedoria. Cabe-nos estudar, trabalhar e ensinar com os olhos fixos naquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). Porque toda inteligência — natural ou artificial — só tem valor se estiver submissa a esse Logos, fundamento de toda liberdade e princípio de toda salvação.

Notas

  1. Tomás de Aquino. Suma Teológica, I, q.16, a.1.

  2. Jacques Ellul. O Sistema Tecnológico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

  3. C.S. Lewis. A Abolição do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

  4. Jo 1,1-3.

  5. Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições. Rio de Janeiro: Record, 1995.

  6. Josiah Royce. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

Referências Bibliográficas

  • AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001.

  • CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições. Rio de Janeiro: Record, 1995.

  • ELLUL, Jacques. O Sistema Tecnológico. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.

  • LEWIS, C.S. A Abolição do Homem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

  • ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

  • RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Introdução ao Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2005.

  • GILSON, Étienne. O Espírito da Filosofia Medieval. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

  • AGOSTINHO, Santo. A Doutrina Cristã. São Paulo: Paulus, 2001.

  • ORTEGA Y GASSET, José. A Rebelião das Massas. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

  • POSTMAN, Neil. Tecnopólio: A Rendição da Cultura à Tecnologia. São Paulo: Nobel, 1994.

Penas de Caráter Perpétuo: um estudo comparado entre Brasil e Argentina

A discussão sobre penas de caráter perpétuo é central para qualquer reflexão sobre os limites do poder punitivo do Estado moderno. No Brasil, a Constituição Federal de 1988 é clara ao proibir expressamente tais penas, conforme disposto no artigo 5º, inciso XLVII, alínea "b": “nao haverá penas de caráter perpétuo”. Na Argentina, por outro lado, o ordenamento jurídico admite expressamente certas penas com esse caráter, especialmente no que diz respeito à inabilitação para o exercício de cargos públicos.

Contudo, mesmo no Brasil, onde tais penas são formalmente vedadas, existe o que a doutrina denomina “perpetuidade imprópria”: situações em que a pena, embora determinada por tempo certo, torna-se na prática perpétua, seja por razões biológicas (como a idade avançada do condenado), seja por efeitos colaterais da pena (como a impossibilidade fática de reingresso no mercado de trabalho ou no serviço público).

Na Argentina, o Código Penal prevê, por exemplo, a inabilitação especial perpétua como pena acessória em casos de corrupção administrativa, fraudes e outros delitos graves. Um caso recente de grande repercussão foi a condenação da ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, que recebeu, além de pena de prisão, a inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos, confirmada pela Suprema Corte argentina em 2025.

Essa diferença entre os dois ordenamentos levanta questões fundamentais: Será que a vedacão constitucional brasileira às penas de caráter perpétuo impede, de fato, a existência de efeitos penais que se estendam por toda a vida do condenado? E mais: haveria espaço para uma interpretação que limite os efeitos das penas acessórias quando estas se mostrarem desproporcionais ou claramente irreversíveis?

Na prática, o Brasil convive com institutos como a prisão por até 40 anos (desde a Lei nº 13.964/2019), reclusões prolongadas de idosos e medidas de segurança por tempo indeterminado para inimputáveis considerados perigosos. Além disso, certas penas acessórias, como a perda de cargo ou função pública, não possuem um prazo de reversão automática, ficando condicionadas à reabilitação judicial.

Essa realidade desafia o ideal normativo da proibição de penas perpétuas e nos obriga a refletir sobre a coerência entre o princípio constitucional e os efeitos concretos das sentenças penais. Se a pena, embora limitada no código, perpetua-se na vida do condenado de modo fático, então estamos diante de uma contradição entre a letra da lei e sua execução.

Comparativamente, a Argentina assume de maneira frontal essa possibilidade punitiva: a lei prevê e aplica a inabilitação perpétua como forma de proteção do interesse público e da moralidade administrativa. Isso confere maior coerência entre o texto legal e a prática judicial, embora abra discussão sobre proporcionalidade e ressocialização.

O estudo comparado revela, portanto, que o problema não está apenas na existência formal de penas perpétuas, mas na efetividade dos princípios constitucionais diante das condições concretas da execução penal. Resta ao jurista brasileiro enfrentar a tensão entre norma e realidade e construir soluções que respeitem a dignidade humana sem abrir mão da responsabilização por delitos graves.

A perpetuidade, portanto, não está apenas no código penal: muitas vezes, ela está na vida do condenado. E isso é um problema que o direito não pode ignorar.