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sábado, 7 de junho de 2025

Petkovic: o pioneiro estrangeiro que se tornou estrela no futebol brasileiro

No futebol brasileiro, país onde o talento local é abundante e a idolatria costuma ser reservada a filhos da terra, tornar-se uma estrela sendo estrangeiro é uma façanha rara. No entanto, Dejan Petkovic, sérvio de Belgrado, escreveu seu nome na história do esporte nacional como poucos conseguiram — não apenas como jogador habilidoso, mas como um pioneiro que abriu caminho para outros atletas de fora ganharem respeito e protagonismo nos gramados brasileiros.

Uma adaptação improvável

Petkovic desembarcou no Brasil em 1997 para jogar no Vitória, da Bahia, em um movimento que, à época, soava estranho. Jogadores estrangeiros raramente tinham destaque por aqui. Em geral, viam-se alguns argentinos, uruguaios ou paraguaios ocupando posições táticas ou de força, raramente o papel de protagonista técnico. Pet, como logo foi apelidado, não se encaixava nesse molde: era um meia clássico, cerebral, de passes precisos e cobranças de falta milimétricas. E sobretudo, era um europeu eslavo, o que tornava sua presença ainda mais inusitada.

Mas o improvável aconteceu: ele se adaptou com rapidez, conquistou a torcida do Vitória e, mais tarde, passou por grandes clubes do país como Flamengo, Vasco, Fluminense e Atlético-MG. Em todos deixou sua marca, mas foi com a camisa rubro-negra que seu nome se eternizou.

Ídolo no Flamengo

A trajetória de Petkovic no Flamengo é a mais lembrada, principalmente por conta do título do Campeonato Carioca de 2001. Na final contra o Vasco, ele marcou um dos gols mais emblemáticos da história do clube: uma cobrança de falta no ângulo aos 43 minutos do segundo tempo, que selou o tricampeonato estadual. A imagem dele correndo com os braços abertos, ao lado de um Maracanã em êxtase, sintetiza o quanto ele se tornou não apenas aceito, mas idolatrado.

Ser estrangeiro e ídolo em um dos maiores clubes do Brasil não é comum. O futebol brasileiro sempre teve certa desconfiança do “gringo”. O sucesso de Petkovic rompeu essa barreira cultural, mostrando que talento, dedicação e identificação com a camisa podem superar qualquer diferença de origem.

Mais que um craque, um desbravador

Petkovic não apenas foi destaque técnico dentro de campo; ele também abriu as portas simbólicas para que outros estrangeiros fossem vistos com outros olhos. Após sua consolidação, o futebol brasileiro passou a ser mais receptivo a jogadores de fora que quisessem ser mais do que coadjuvantes.

Atletas como Arrascaeta, Guerrero, Conca, Seedorf e até alguns menos badalados, mas muito respeitados, devem parte da receptividade que encontraram ao caminho que Pet traçou. Ele provou que um estrangeiro pode não apenas jogar bem aqui — pode ser protagonista, ídolo e até símbolo de uma geração.

O legado

Hoje, ao olhar para a presença cada vez maior de estrangeiros em clubes brasileiros, não é exagero dizer que Petkovic foi um desbravador. Ele foi contra a corrente, rompeu a desconfiança natural de um futebol autocentrado e conquistou, com a bola nos pés e o coração na camisa, o amor de uma torcida que sempre exigiu muito de seus ídolos.

O que Petkovic representa vai além de seus dribles e gols: ele representa a quebra de uma barreira cultural e a prova de que o futebol pode ser uma linguagem universal — onde o talento, quando sincero, é sempre compreendido.

Jorge Jesus e Abel Ferreira: técnicos que herdaram o caminho aberto

Quase duas décadas depois da consagração de Petkovic, o Flamengo apostou em outro estrangeiro para um papel ainda mais simbólico: o de comandante. Jorge Jesus, técnico português, desembarcou no Brasil em 2019 cercado por desconfiança. Mas, com um trabalho ofensivo, disciplinado e vencedor, conquistou a tríplice coroa (Libertadores, Brasileirão e Carioca) e uma torcida apaixonada.

O sucesso foi tão retumbante que abriu espaço para outro português, desta vez no arquirrival Palmeiras: Abel Ferreira. Com estilo diferente, mais pragmático e estratégico, Abel também deixou sua marca, levando o clube a títulos consecutivos da Libertadores e consolidando-se como um dos técnicos mais respeitados do país.

Ambos, cada um à sua maneira, continuaram a revolução silenciosa iniciada por Petkovic: a inserção legítima de estrangeiros nos papéis mais importantes do futebol brasileiro — como protagonistas, não como coadjuvantes.

De ídolo a símbolo

Petkovic foi o primeiro a provar que talento e dedicação podem vencer a barreira do idioma, da origem e até da tradição. Jorge Jesus e Abel Ferreira provaram que essa abertura não era um acaso — era o início de um novo tempo.

Hoje, o futebol brasileiro se vê cada vez mais receptivo a ideias, estilos e talentos de fora. E se essa porta está aberta, é porque um dia um sérvio, de cabelos compridos e chuteiras afiadas, teve a ousadia de forçá-la — com respeito, com amor ao jogo e com muita, muita bola no pé.

Por que o Flamengo não pode se dar ao luxo de aposentar camisas

 Se o Flamengo fosse aposentar camisas para homenagear todos os seus grandes ídolos, seus futuros jogadores teriam que entrar em campo com números a partir do 100. Seria preciso inventar a camisa 110 para o próximo artilheiro, a 125 para o lateral promissor da base, e quem sabe a 200 para um novo craque estrangeiro. Porque o fato é simples: no Flamengo, não faltam lendas. O que falta é número, se a gente resolver aposentá-los.

Aposentar camisas é uma prática comum em esportes como o basquete ou o futebol americano, onde a cultura de números fixos é quase ritualística. O 23 do Michael Jordan, o 10 do Pelé (ainda que não oficialmente aposentada), o 7 do Cristiano Ronaldo em alguns clubes — cada um desses números carrega uma mística própria. Mas no Flamengo, o sagrado está no movimento contínuo, não na estagnação.

Imagina a confusão:

  • A 10 teria que ser enterrada junto com Zico — e com ela, a fantasia do torcedor em ver nascer um novo maestro.

  • A 5, consagrada por Júnior, teria de sair de cena, assim como a 2 de Leandro.

  • A 11, marcada por Petkovic e depois Gabigol, ficaria em um altar inacessível.

  • A 9 não mais entraria em campo — de Nunes a Adriano, seu ciclo estaria completo.

  • A 1, então, teria que ser triplicada: Raul, Júlio César e Diego Alves disputariam seu direito ao olimpo.

  • E ainda faltam menções honrosas à 7, à 6, à 3, à 8… O Flamengo é um álbum de figurinhas onde quase todas as páginas têm um brilho dourado.

Mas o Flamengo não é um museu. É um vulcão. E sua história, embora gloriosa, não está terminada. Ainda há gols a serem feitos, dribles a serem inventados, defesas milagrosas a serem lembradas no Maracanã. Por isso, não se deve aposentar número algum. Deve-se, isso sim, dar a cada número o peso da responsabilidade.

A 10 do Flamengo não precisa ser aposentada. Ela precisa ser conquistada.
Assim como a 9, a 11, a 1, a 5. Cada camisa é um chamado à grandeza. Um elo entre o passado, o presente e o que ainda está por vir.

Enquanto alguns clubes celebram o fim de um ciclo aposentando camisas, o Flamengo celebra o recomeço. Um novo garoto da base vestindo a 8 e ouvindo no vestiário: “essa aí já foi do Adílio, honra ela”. Um atacante importado recebendo a 11 e sendo lembrado do que Petkovic e Gabigol fizeram com ela. Isso é formação de caráter rubro-negro.

A camisa, no Flamengo, não é um prêmio póstumo. É uma herança em movimento.

📌 Conclusão

O Flamengo não precisa pendurar números. Precisa mantê-los em campo, vivos, carregados de memória, responsabilidade e paixão. Porque cada número rubro-negro é uma história em aberto, esperando ser escrita de novo — com suor, com raça, com gols no último minuto e lágrimas nas arquibancadas.

No Flamengo, as camisas não se aposentam. Elas reencarnam.

A ilusão do autoconhecimento sem verdade: uma resposta cristã à pergunta sobre os defeitos

Em entrevistas de emprego, rodas de conversa ou até em momentos de confissão informal, frequentemente nos perguntam: “Quais são os seus defeitos?” Essa pergunta, à primeira vista inocente, carrega consigo uma premissa muitas vezes não examinada: a de que o autoconhecimento, especialmente no que se refere às próprias falhas, é um bem absoluto e indispensável para qualquer progresso humano.

A resposta que ofereço a essa pergunta, porém, não segue o roteiro comum. Eu costumo dizer: “Por que tenho necessidade de saber dos meus defeitos?” Essa pergunta não é uma fuga — é um convite à reflexão mais profunda. Pois quem vive obcecado em conhecer seus defeitos, muitas vezes o faz não por amor à verdade, mas por um desejo de controle. E esse desejo pode levar àquilo que a psicologia, ironicamente, chama de neurose.

A obsessão pelo diagnóstico de si mesmo — que parece zelo ou maturidade — frequentemente encobre um senso de se conservar o que é conveniente, ainda que dissociado da verdade. Muitos acabam protegendo seus “defeitos” como se fossem parte inegociável de sua identidade, justificando-os sob o pretexto da autenticidade ou da autoaceitação. Mas esse tipo de autoconhecimento, dissociado da verdade, não gera conversão, e sim estagnação.

O verdadeiro conhecimento de si mesmo não pode nascer do espelho do mundo, mas do espelho de Deus. Portanto, quem deve se preocupar com os meus defeitos são aqueles que me criaram — meus pais, meus mestres — ou aqueles nos quais devo ver a figura de Deus: as autoridades legítimas a quem devo obediência no amor. E essa obediência não é servil, mas amorosa, pois visa que eu me torne uma pessoa melhor nos méritos de Cristo, e não segundo os critérios do mundo.

É Cristo, e somente Ele, quem conhece verdadeiramente o coração humano. É à Sua luz que os defeitos aparecem como oportunidades de humildade, e não como falhas a serem corrigidas para uma performance social mais eficaz. O exame de consciência cristão não é uma autópsia da alma, mas uma abertura ao Espírito Santo, que mostra o pecado como ofensa ao amor e, por isso, como porta de entrada para a misericórdia.

Dizer que não tenho “necessidade” de saber dos meus defeitos não é orgulho. É reconhecer que a necessidade primária é amar a Deus acima de todas as coisas e, a partir desse amor, amar o próximo. Quando isso se torna prioridade, os defeitos vão se revelando no tempo oportuno — com clareza, mas também com doçura — por meio dos sacramentos, da correção fraterna e da oração. Aí, sim, surge o verdadeiro autoconhecimento: aquele que liberta, porque está fundado na Verdade que é Cristo.

No fim das contas, a pergunta sobre os defeitos é legítima — mas sua resposta exige sabedoria. Pois não basta dizer o que está errado em nós. É preciso perguntar: “Quem me mostra isso? Em nome de quem? Com qual finalidade?” Se a resposta não for: “para que eu me torne mais semelhante a Cristo”, então todo esforço de autoconhecimento se tornará um labirinto sem saída.

A prudência como porta de entrada: ética cristã nas interações sociais digitais

No Brasil, especialmente em grandes centros urbanos como o Rio de Janeiro, a experiência cotidiana revela uma verdade incômoda: muitas vezes, um simples “olá” não abre portas — ao contrário, fecha-as. O gesto que, noutras culturas, pode simbolizar hospitalidade e boa vontade, por aqui se vê frequentemente com desconfiança, como se toda aproximação carregasse consigo uma intenção oculta ou um interesse disfarçado.

Essa realidade social, experimentada de forma marcante por quem já transitou pelo ambiente universitário e pela vida urbana carioca, ensina uma lição de valor duradouro: a de que a confiança é capital raro e que não se entra no espaço do outro sem antes ser introduzido. A introdução, nesse caso, não é mero formalismo: é uma senha simbólica, um selo de confiança que permite ao estranho tornar-se, pouco a pouco, um possível conhecido.

O estudo do perfil como gesto de respeito

Com a ascensão das redes sociais, esse princípio ganha novas formas. Se antes a mediação era feita por um amigo em comum, um anfitrião ou uma carta de apresentação, hoje ela pode ocorrer pelo simples gesto de estudar o perfil de alguém antes de abordá-lo. Não se trata aqui de espionagem, mas de respeito. De perceber se há abertura, se há pontos em comum, se existe uma linguagem compartilhável. É, no fundo, um modo de pedir licença: estou aqui, mas só entrarei se for convidado.

Adotar essa postura é mais do que prudência estratégica; é um ato de caridade. É reconhecer a dignidade do outro como sujeito, como alguém cuja liberdade merece ser preservada. Em tempos de exposição excessiva e abordagens invasivas, esse cuidado se torna virtude rara.

A ética cristã e o princípio da introdução

Nos méritos de Cristo, esse comportamento ganha ainda outra dimensão. A própria lógica da Revelação se dá assim: ninguém vem ao Pai senão por meio do Filho. Ninguém entra na casa do outro se não for pela porta. Ninguém conhece o coração do próximo se não for apresentado — por amizade, por afinidade ou por missão.

Cristo mesmo, em sua humanidade, respeita o tempo das pessoas, aproxima-se com doçura, chama pelo nome, espera ser reconhecido. O Espírito Santo não invade: sopra onde quer, mas não força portas. O cristão, portanto, não deve ser diferente.

A cultura da introdução, nesse sentido, é profundamente cristã: ela pressupõe mediação, reconhecimento, respeito pela liberdade do outro, e sobretudo o cultivo de vínculos verdadeiros, que não se fundam na utilidade, mas na dignidade recíproca.

A santificação através da prudência

Para quem busca se santificar através do estudo, do trabalho e do trato respeitoso com os demais, essa postura social discreta, quase invisível, não é fraqueza: é fortaleza. Fortalecer-se na paciência, no discernimento e na contenção é um modo de imitar a Cristo, que não se impunha, mas tocava os corações na hora certa.

A prudência, nesse caso, torna-se uma escola espiritual. Ela disciplina o impulso, refreia o ego, e convida à escuta antes da fala. Quem se apresenta com excessiva pressa, geralmente desconhece tanto a si quanto ao outro. Já aquele que espera a introdução, confia mais na Providência do que nas próprias intenções.

Conclusão: entre perfis e prsenças

Nas redes sociais — espelho e extensão de nossa alma pública — é possível cultivar um ethos cristão de aproximação. Um ethos que respeita o tempo, os sinais e os vínculos. Um ethos que não impõe, mas convida. Que não força, mas propõe. Que não “quebra o gelo”, mas o derrete com o calor da prudência.

Nesse campo invisível da convivência digital, cada perfil estudado, cada abordagem evitada, cada palavra ponderada pode ser um pequeno ato de caridade. E assim, mesmo sem palavras, mesmo sem ser notado, o cristão fiel constrói pontes invisíveis — que talvez só sejam vistas um dia à luz da eternidade.

O carro de meu pai e uma dívida de gratidão

Mamãe herdou o carro do meu pai, e com ele vieram não apenas as obrigações práticas da vida que se segue, mas também o peso imaterial de lembranças, ausências e gratidões silenciosas. Entre as lembranças, uma se impõe com especial nitidez: a da vizinha que nos socorreu quando meu pai faleceu.

Foi ela quem, com uma generosidade que não se aprende em livros, esteve presente no momento mais difícil. E seu filho, ainda um rapaz, sempre demonstrou um carinho particular pelo carro do meu pai — não como quem apenas deseja um bem material, mas como quem percebe, mesmo sem palavras, o valor afetivo de um objeto que guarda a presença de alguém querido.

Com o passar do tempo, amadureceu em nós a convicção de que aquele bem não nos pertencia por completo. Recebê-lo em herança foi, sim, um direito legal; mas havia uma dívida moral — anterior ao direito — que pedia resposta. Por isso, formalizamos a transmissão do carro ao filho daquela mulher que tanto nos ajudou. E o fizemos por meio de um contrato de compra e venda, símbolo de uma doação velada, onde a forma jurídica apenas sustentou o gesto de justiça.

Nesse ato, o filho da vizinha tornou-se sucessor a título singular desse bem de meu pai. Herdou, por assim dizer, não diretamente de meu pai, mas de nós, os herdeiros, que agimos como pontes entre o gesto de amor que recebemos e o bem que simbolizava esse amor. Tornou-se beneficiário indireto da sucessão, não por acaso, mas por mérito. Porque a justiça, quando é verdadeira, busca quem a merece.

Hoje, ao vê-lo guiando o carro do meu pai, não vejo perda, mas cumprimento. Cumprimento de um ciclo. Cumprimento de um dever. E, sobretudo, cumprimento de uma promessa não feita em palavras, mas inscrita no coração de quem sabe que a gratidão não se arquiva — se honra.

A Falsa Libertação: como os Libertadores da América criaram novas formas de aprisionamento

Resumo: 

Este artigo examina criticamente o legado das independências ibero-americanas à luz das declarações póstumas de arrependimento de líderes como Simón Bolívar, José de San Martín e Emilio Aguinaldo. Argumenta-se que as independências, longe de consolidarem uma autêntica soberania, introduziram os países na órbita de novas formas de dominação, como a maçonaria internacional e, no século XXI, a dependência econômica da China. O texto também discute a falsa narrativa de que as nações ibero-americanas eram meras colônias, ocultando sua condição de reinos ultramarinos no contexto das monarquias católicas ibéricas.

Palavras-chave: independência, maçonaria, hispanismo, colônia, China, arrependimento.

1. Introdução

As independências da América Latina são tradicionalmente celebradas como marcos de liberdade e emancipação. Entretanto, uma análise crítica do testemunho de seus protagonistas revela uma realidade mais sombria. Lideranças como Simón Bolívar, José de San Martín e Emilio Aguinaldo manifestaram, nos anos finais de suas vidas, profundo desencanto com os rumos tomados por seus respectivos países após a separação da Espanha. Este artigo propõe uma revisão desse processo histórico à luz desses testemunhos e da atual conjuntura política e econômica da região.

2. O Testemunho dos Arrependidos

Em 1830, Simón Bolívar afirmou: “La América es ingobernable. Los que han servido a la revolución han arado en el mar. La única cosa que se puede hacer en América es emigrar…” (Bolívar, 1830). José de San Martín, em carta de 1841, lamentava: “Cuando uno considera que tanta sangre y sacrificios no han sido empleados sino para perpetuar el desorden y la anarquía, se llena el alma del más cruel desconsuelo” (San Martín, 1841).

Já Emilio Aguinaldo, líder da independência filipina, declarou em 1958: “Estoy arrepentido en buena parte por haberme levantado contra España (...) Bajo los Estados Unidos, somos tan solo un mercado de consumidores…” (Aguinaldo, 1958).

Esses testemunhos indicam que a luta pela independência não trouxe a ordem, liberdade ou prosperidade prometidas, mas uma sucessão de instabilidades e nova subserviência às potências dominantes da modernidade.

3. A Invenção da Colônia e a Queda da Monarquia Cristã

Ao contrário do que afirma a narrativa republicana, os territórios americanos sob Espanha e Portugal não eram colônias no sentido moderno. Eram, conforme o direito vigente, partes integrantes das coroas ibéricas, com seus habitantes reconhecidos como súbditos ou mesmo cidadãos.

Segundo Sánchez Agesta (1972), o Império Espanhol operava sob o conceito de “comunidade de reinos”, onde o Novo Mundo era uma extensão da Espanha. A separação violenta, portanto, pode ser vista não como uma libertação de uma metópole opressora, mas como a destruição de uma unidade política fundada na fé católica.

4. Maçonaria, Globalismo e Neocolonialismo

A maioria dos "libertadores" estava ligada à maçonaria, como revelam estudos de autores como Ricardo de la Cierva (2000). A maçonaria introduziu na América Latina os princípios do Iluminismo e da Revolução Francesa, que levaram à laicização das instituições, perseguição à Igreja e instabilidade política.

No século XXI, o que foi antes uma colônia espiritual da maçonaria passou a ser uma colônia econômica da China. Em vários países ibero-americanos, investimentos chineses compram terras, infraestrutura e indústrias, estabelecendo um novo padrão de dependência.

5. Conclusão

A narrativa da independência como emancipação é uma construção ideológica. O testemunho dos próprios líderes revolucionários denuncia que, ao romper com as monarquias católicas, os países ibero-americanos perderam sua alma, suas estruturas e sua soberania. Ao invés de nações livres, tornaram-se territórios instáveis, fáceis de colonizar por potências ideológicas e econômicas modernas.

Referências (formato ABNT):

AGUINALDO, Emilio. Cartas Políticas. Manila: Arquivo Nacional das Filipinas, 1958.

BOLÍVAR, Simón. Cartas y Discursos. Caracas: Biblioteca Ayacucho, 1830.

CIERVA, Ricardo de la. La Masonería Invisible. Madrid: Fenix, 2000.

SAN MARTÍN, José de. Cartas Completas. Buenos Aires: Instituto Nacional Sanmartiniano, 1841.

SÁNCHEZ AGESTA, Luis. Historia Constitucional de la Monarquía Española. Madrid: Alianza Editorial, 1972.

Anexos: Imagem referenciada: "Los Arrepentidos". 

Fonte: https://www.facebook.com/groups/laleyendanegra/posts/9974090456043272/, acesso em 07 de junho de 2025.

O meio gamer e a Incapacidade de ver o invisível

Por que gastar R$ 444,80 num jogo é “normal”, mas transformá-los em livros, milhas e viagens parece um absurdo?

Vivemos uma era em que o entretenimento virou religião e o consumo imediato, dogma. No meio gamer, a crítica fervorosa ao preço de jogos a US$ 80 — como ocorre nos lançamentos AAA — torna-se pauta constante, gerando indignação em vídeos, tweets e lives. Com o dólar a R$ 5,56, esse valor salta para R$ 444,80, e o coro de revolta ecoa: “Estão explorando o jogador!”

Mas há algo profundamente equivocado nessa indignação. O problema não está no preço do jogo. O problema está na incapacidade de pensar estrategicamente o próprio consumo. É o velho vício de enxergar apenas o que está à frente da tela, sem ver o que se esconde além dela

O que não se vê

Com R$ 444,80, o jogador comum compra um único jogo. Joga por semanas. Depois, deixa na estante digital e volta a reclamar do próximo lançamento caro. Mas aquele que passou pelo Curso do Mago das Milhas (ou qualquer jornada séria de educação financeira aliada ao mundo das recompensas) vê algo completamente diferente.

Ele vê:

  • Pontos Livelo acumulados com campanhas de 10 pontos por real:

    R$ 444,80 se transformam em 4.448 pontos.

  • Cartão pontuando em dólar:

    US$ 80 geram pelo menos 120 pontos no cartão.

  • Parcelamento em até 10x sem juros na Amazon, com fluxo de caixa preservado.

  • Compras de livros importados com valor cultural e formativo altíssimo, que podem ser utilizados profissionalmente e até revendidos, formando um capital de longo prazo.

  • Transferência bonificada de pontos para milhas com até 100% de bônus, o que transforma os 4.448 pontos em quase 9.000 milhas — o suficiente, em certas promoções, para uma viagem doméstica ou internacional com dinheiro economizado.

O ciclo da miopia gamer

O ciclo do gamer médio é simples:

  1. Reclama do preço.

  2. Paga assim mesmo.

  3. Reclama da performance.

  4. Joga compulsivamente.

  5. Esquece que gastou.

  6. Repete.

O ciclo do consumidor estratégico é outro:

  1. Planeja a compra com antecedência.

  2. Usa campanhas de pontos/milhas/cashback.

  3. Acumula capital invisível (milhas, livros, conhecimentos).

  4. Viaja com economia ou revende com lucro.

  5. Investe em si.

  6. Sobe de nível na vida real.

A falência do imaginário gamer

O problema do meio gamer não é apenas econômico — é epistemológico. Falta imaginação real, capacidade de ver o invisível. Há um apego ao visível imediato (jogo, trailer, hype, download), mas uma completa ignorância do mundo invisível das finanças pessoais, do acúmulo de capital intelectual, e da conversão do consumo em liberdade.

A maior ironia? O próprio vocabulário gamer está repleto de conceitos como "XP", "evolução", "builds estratégicas" e "farming" — mas pouquíssimos gamers aplicam esses conceitos na vida real. Jogam como se fossem deuses. Consomem como se fossem escravos.

Conclusão

Se o meio gamer soubesse o que é um programa de pontos, entenderia o valor de transformar R$ 444,80 num investimento cultural e estratégico.

Se soubesse o que é capital kairológico — o acúmulo de tempo, conhecimento e inteligência aplicada — pensaria duas vezes antes de dar “pre-order” num jogo e zombar de quem compra livros ou acumula milhas.

Mas como não vê o invisível, vive preso ao visível. E quem só vê o que está diante dos olhos nunca alcançará o que realmente vale a pena.