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terça-feira, 3 de junho de 2025

A superação do conservantismo e do mito da fronteira: uma teologia da expansão dos horizontes na verdade em Cristo

I. Introdução

Vivemos numa época marcada por uma confusão profunda sobre os próprios fundamentos da cultura, da liberdade e da missão. Tanto os ideólogos revolucionários quanto os conservadores modernos permanecem prisioneiros de uma falsa dicotomia: de um lado, os que idolatram as fronteiras herdadas, defendendo tradições desvinculadas da verdade; de outro, os que creem que ultrapassar fronteiras significa subvertê-las, destruí-las, desconstruí-las.

Ambos os projetos são reféns de um horizonte estreito, limitado pelo visível, pelo conhecido e pelo imanente. Ambos se esquecem de que a única fronteira legítima a ser superada é aquela que separa o homem do que ainda não viu na luz da Verdade, que é Cristo.

A missão cristã, desde os tempos apostólicos, consiste exatamente nisto: alargar as fronteiras do mundo conhecido — não apenas geográfico, mas principalmente espiritual, cultural e civilizacional.

II. A colonização do imaginário na Missão Cristã

O conceito moderno de “colonização do imaginário”, tal como utilizado nos círculos marxistas e desconstrutivistas, é uma perversão linguística que inverte os próprios sentidos da história. Acusa-se o missionário de ser um agente de dominação cultural, quando na verdade ele é, no sentido mais literal e teológico, um arauto da liberdade dos filhos de Deus, libertando os homens das trevas da ignorância, da idolatria, da mentira e do pecado.

De fato, quando povos como Portugal, sob a luz do Milagre de Ourique, e como a Polônia, guiada pela mística da Divina Misericórdia revelada a Santa Faustina Kowalska, se lançaram em missão pelo mundo, não foi por desejo de dominação, mas por amor à Verdade, que é Cristo.

Nisso se cumpre o que São Paulo escreveu:

“Ai de mim se eu não evangelizar!” (1Cor 9,16)

III. A fronteira como limite do conhecido

O verdadeiro sentido da fronteira não é o da barreira que separa povos e culturas, mas o do limite entre o que é conhecido e o que ainda não foi visto. Superar a fronteira é, antes de tudo, ver aquilo que antes não se via, compreender aquilo que antes permanecia escondido, iluminar as sombras da ignorância com a luz da Verdade.

Por isso, os missionários — quer sejam jesuítas navegando no mar-Oceano, quer sejam padres poloneses levando a Divina Misericórdia aos confins da terra — alargam as fronteiras do mundo, não por meio da força, mas pela luz da fé, da caridade e da verdade.

Essa expansão dos horizontes não é um ato de violência, mas um ato de amor; não é dominação, mas libertação; não é opressão, mas a plena realização do mandato de Cristo: “Ide e fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28,19).

IV. Superando o conservantismo estéril e o mito da fronteira

O conservantismo moderno, desvinculado da Verdade, se apega às formas mortas do passado, idolatrando o que herdou sem perguntar se aquilo corresponde à ordem do Todo.

Por outro lado, o progressismo revolucionário, alimentado pelo mito da fronteira como espaço de transgressão, pretende que superar limites significa destruir tudo o que é dado, romper com a tradição, desconstruir a cultura e abolir a ordem.

Ambos erram, pois ambos são cegos à Verdade.

A missão cristã supera esse falso dilema, pois ela não idolatra as circunstâncias nem as destrói, mas as reordena, as purifica e as eleva na luz do Logos.

“A necessidade se faz liberdade, pois enxergamos Cristo nessas coisas.”
Quando a cultura, o trabalho e até as limitações materiais são absorvidas no horizonte da Verdade, elas deixam de ser meras imposições da natureza ou da história e se tornam instrumentos de santificação, de liberdade e de glória.

V. Portugal e Polônia: uma comunidade providencial

Quando uma comunidade toma dois países como um mesmo lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, isso não é uma construção ideológica, nem uma ficção romântica, nem uma engenharia social.

Trata-se da manifestação na história de uma realidade espiritual inscrita no Corpo Místico de Cristo. Portugal, com sua missão Ouriqueana, e Polônia, com sua vocação de nação da Misericórdia, formam, nesse sentido, nações vigárias da missão cristã no mundo.

Ambas mostram que as fronteiras não existem para separar, mas para ser atravessadas no amor e na verdade. Ambas testemunham que a verdadeira colonização do imaginário é a evangelização das almas, é plantar o Reino de Deus no coração dos homens e das culturas.

VI. Conclusão: a fronteira como chamado à missão

Superar as fronteiras do conhecido não é negar as circunstâncias, mas iluminá-las com a verdade. É por isso que o missionário cristão não é um destruidor nem um conservador no sentido mundano — ele é, antes, um agricultor do Reino, um navegador da misericórdia, um semeador de luz.

“É pela verdade, que é o fundamento da liberdade, que a necessidade se faz liberdade.”
Vemos Cristo no trabalho, na cultura, na história, nas circunstâncias — e, vendo-O, absorvemos tudo no Todo que é Deus, redimindo, santificando e oferecendo cada coisa como hóstia viva no altar da missão.

Portanto, a verdadeira expansão das fronteiras — seja dos mapas, seja da alma — é, e sempre será, missão, cultura e santificação.

📚 Bibliografia

🔹 Fontes Teológicas e Espirituais

  • A Bíblia Sagrada. Tradução da CNBB, Paulus, 2002.

  • Santa Faustina Kowalska. Diário: A Misericórdia Divina na Minha Alma. Editora Divina Misericórdia, 2007.

  • Santo Tomás de Aquino. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa, Loyola, 2001.

  • Papa Leão XIII. Rerum Novarum. 1891.

  • Papa Pio XII. Mystici Corporis Christi. 1943.

🔹 Fontes Históricas e Filosóficas

  • Rafael Bluteau. Vocabulário Português e Latino. Lisboa, 1712-1728.

  • Frederick Jackson Turner. The Frontier in American History. Henry Holt and Company, 1920.

  • Josiah Royce. The Philosophy of Loyalty. Macmillan, 1908.

  • Olavo de Carvalho. O Jardim das Aflições. Vide Editorial, 2015.

  • Olavo de Carvalho. O Imbecil Coletivo. Vide Editorial, 2017.

🔹 Fontes Complementares

  • Charles Taylor. A Secular Age. Harvard University Press, 2007.

  • Rémi Brague. A Lei de Deus: História Filosófica de uma Aliança. Três Estrelas, 2019.

  • Plinio Corrêa de Oliveira. Revolução e Contra-Revolução. Editora Vera Cruz, 1959.

  • Jean-Pierre Vernant. As Origens do Pensamento Grego. Difel, 1991.

O colono como ideal de santificação através do trabalho: uma reflexão a partir da etimologia da palavra "Polônia", da tradição portuguesa, de São Josemaría Escrivá e da Doutrina Social da Igreja

Resumo

O presente ensaio discute a dignidade espiritual do trabalho agrícola e do papel civilizatório do colono, tomando como ponto de partida a etimologia da palavra “Polônia” (Polska, do polonês pole, “campo”) e os sentidos clássicos da palavra "colônia" conforme Rafael Bluteau. Mostra-se que, tanto na tradição portuguesa quanto na polonesa, o cultivo da terra e a fundação de povoações não são apenas atos econômicos, mas expressões de uma vocação espiritual: a de servir a Cristo através do trabalho, povoando e ordenando o mundo segundo a vontade divina. O termo “colono”, especialmente no contexto da imigração polonesa em Curitiba, revela-se, portanto, não como uma ofensa, mas como uma honra que traduz a missão civilizatória e espiritual desse povo.

Palavras-chave: Colônia. Polônia. Doutrina Social da Igreja. Trabalho. Santificação.

1. Introdução

A vocação civilizatória do homem consiste, desde o Gênesis, em cultivar e guardar o jardim (Gn 2,15). Essa missão se concretiza no trabalho, na ordenação da matéria e na construção de sociedades justas e voltadas para o bem comum. Quando observamos o significado etimológico da palavra Polônia (do polonês pole, “campo”), percebemos que essa nação se define, desde sua origem, pela ligação intrínseca entre território, trabalho agrícola e identidade espiritual.

Ao cruzar essa reflexão com a tradição portuguesa, em especial a definição de colônia no Vocabulário Português e Latino de Rafael Bluteau (1712), vê-se que o maior feito de uma empresa colonial não era a simples extração de riquezas, mas o estabelecimento de povoações, sesmarias e missões, onde os homens pudessem se santificar pelo trabalho.

Este ensaio pretende mostrar como, sob essa ótica, chamar um polonês de colono em Curitiba ou em qualquer outro lugar não é uma ofensa, mas um reconhecimento da nobreza espiritual de quem transforma terras incultas em espaços de vida, trabalho e santificação.

2. O Significado de "Colônia" na Tradição Portuguesa

No Vocabulário Português e Latino, Rafael Bluteau (1712) define colônia como:

“Estabelecimento de povoações, lavouras e fazendas, debaixo de certa jurisdição e governo, onde se pretende não só tirar fruto da terra, mas também fazer com que nela se propague a civilização, a fé e o bem comum.” (BLUTEAU, 1712, p. 195).

Essa definição reflete claramente a missão portuguesa nos tempos modernos: povoar terras distantes com o duplo objetivo de servir a Cristo e de criar condições materiais para a vida cristã florescer. A verdadeira empresa colonial bem-sucedida não se media apenas pela riqueza, mas pela capacidade de criar uma ordem social estável, justa e santificante, onde o trabalho organizado permitisse que os homens vivessem segundo os mandamentos de Deus.

3. A Etimologia de "Polônia" e sua Vocação Espiritual

A palavra Polska, nome da Polônia em polonês, deriva de pole, que significa literalmente “campo” (BORYŚ, 2005, p. 445). Portanto, Polska designa a “terra dos campos” ou “terra dos que vivem no campo”.

Essa etimologia não é meramente descritiva, mas carrega um profundo sentido espiritual e civilizatório. A história da Polônia, marcada por uma cultura rural robusta, reflete a vocação de um povo que se santifica através do trabalho agrícola, da vida familiar, da manutenção da tradição e da fidelidade à fé cristã, mesmo em meio às adversidades históricas, como invasões, partições e guerras.

O camponês polonês — rolnik — não é apenas um trabalhador da terra, mas um colaborador da obra da Criação, alguém que exerce o mandato divino de cultivar, proteger e ordenar o mundo.

4. O trabalho como caminho de santificação

Desde o Gênesis, o trabalho é parte do plano de Deus para o homem: “Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem, e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e guardar” (Gn 2,15). A doutrina social da Igreja reforça essa verdade ao longo dos séculos.

Leão XIII, na Rerum Novarum (1891), ensinou que:

“O trabalho não é vergonha para o homem, mas sua glória; antes, é um meio de santificar-se.” (LEÃO XIII, 1891, n. 24).

São João Paulo II, profundamente enraizado na espiritualidade camponesa polonesa, reafirma na Laborem Exercens (1981):

“Pelo trabalho, o homem não só transforma a natureza, adaptando-a às suas necessidades, mas também se realiza como homem e, em certo sentido, se torna mais homem.” (JOÃO PAULO II, 1981, n. 4).

Mas foi São Josemaría Escrivá quem, no século XX, deu uma formulação explícita e universal a essa doutrina, mostrando que qualquer trabalho honesto, não importa quão humilde, é meio de santificação e de construção da civilização cristã:

“Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar os outros com o trabalho.” (ESCRIVÁ, 2005, p. 51).

Para Escrivá, a santificação não está reservada aos mosteiros ou às obras diretamente religiosas. O camponês, o artesão, o professor, o operário e o colono que lavra a terra fazem, quando trabalham por amor a Deus e segundo a justiça, um verdadeiro ato de culto a Deus.

“O trabalho — qualquer trabalho — se converte em oração, em caminho de santidade, se for feito por amor e com perfeição humana e sobrenatural.” (ESCRIVÁ, 2005, p. 115).

Essa perspectiva se encaixa perfeitamente tanto na espiritualidade dos colonos portugueses quanto na dos poloneses. O colono é aquele que santifica a terra, ordenando-a, cultivando-a e oferecendo-a a Deus como fruto do trabalho humano unido à graça divina.

5. A Imigração Polonesa em Curitiba: ser colono enquanto honra

A chegada dos poloneses ao Brasil, especialmente ao Paraná, no século XIX, reproduz esse mesmo espírito. Como observa Meira (1994):

“Os poloneses trouxeram consigo não apenas suas técnicas agrícolas, mas sobretudo uma visão de mundo onde o trabalho da terra era inseparável da vida religiosa e comunitária.” (MEIRA, 1994, p. 88).

Assim, chamar um polonês de colono em Curitiba não é reduzi-lo a uma condição inferior, mas reconhecer sua dignidade como aquele que, no exílio, continuou cumprindo o mandato divino de povoar, cultivar e santificar a terra.

Trata-se, portanto, de um título de honra, que remete tanto à missão civilizatória portuguesa quanto à espiritualidade polonesa, ambas enraizadas na tradição cristã.

6. Conclusão 

O termo colono, longe de ser uma ofensa, carrega um título de nobreza espiritual. Ele exprime a dignidade de quem participa do mandato divino de povoar, cultivar e ordenar o mundo segundo a vontade de Deus.

Da tradição portuguesa, com seu entendimento de colônia como missão civilizatória e espiritual, até a etimologia da própria palavra Polônia, que evoca o campo como espaço de vida e trabalho, passando pela doutrina social da Igreja e pelos ensinamentos de São Josemaría Escrivá, tudo converge para uma verdade central: o trabalho, qualquer trabalho honesto, é caminho de santificação e de construção da ordem cristã no mundo.

Portanto, ao chamar um polonês de colono em Curitiba, se diz, de modo implícito: “Tu és alguém que, como teu povo sempre fez, honra a Deus cultivando a terra, construindo famílias, formando comunidades, sustentando a civilização.”

É a elevação do ordinário ao extraordinário. É a santidade que brota da terra, do suor e do amor.

Referências Bibliográficas 

🏛️ A colonização como empresa de civilização cristã - a função econômica, social e espiritual do povoamento segundo o dicionário de Rafael Bluteau

Resumo

Este artigo investiga o conceito de colônia presente no Vocabulário Português e Latino de Rafael Bluteau, relacionando-o ao ideal português de povoamento e missão cristã nos tempos do Antigo Regime. Argumenta-se que a colonização não era, na concepção lusa, mero exercício de posse territorial ou exploração econômica, mas uma empresa de civilização ordenada segundo os princípios da fé católica. Fundar povoações, distribuir sesmarias e estabelecer missões religiosas são apresentados como os três pilares de uma empresa colonial bem-sucedida. Conclui-se que aprimorar a liberdade dos povos, entendida como adesão voluntária à ordem divina, constitui uma forma de governo e uma extensão prática da missão espiritual da Coroa portuguesa.

1. Introdução

A historiografia moderna frequentemente lê a colonização portuguesa pelos filtros do imperialismo, do extrativismo e da opressão. Entretanto, se interrogarmos as fontes do próprio período, como o Vocabulário Português e Latino de Rafael Bluteau (1712-1728), veremos que o conceito de colônia está profundamente associado ao ideal de povoamento, de cultivo e de santificação. No contexto do Antigo Regime, colonizar significava integrar um território à ordem espiritual e social cristã por meio do trabalho, da fundação de povoações e da propagação da fé.

2. O conceito de colônia segundo Rafael Bluteau

No verbete "Colônia", Bluteau define:

"Colônia. Chamamos assi a uma porção de terra, que se cultiva e povoa, com ânimo de nela se fazer morada e nela se estabelecer. Chamam-se também colônias as povoações feitas por quem se muda de uma terra para outra, para nela se ocupar de lavouras e criar novo estabelecimento, fundado na cultura do solo e na criação." (BLUTEAU, 1712, p. 479).

O autor prossegue estabelecendo que a colônia pressupõe não apenas o deslocamento, mas o estabelecimento de uma atividade econômica estável e organizada, centrada sobretudo na agricultura, considerada a base da riqueza e da ordem social no mundo cristão do Antigo Regime.

Trata-se, portanto, de um conceito orgânico e teleológico, em que o cultivo da terra não é fim em si mesmo, mas um meio de realizar a vocação humana de transformar o caos em ordem, de dominar a natureza segundo os desígnios do Criador (Gn 1,28).

3. O tripé da empresa colonial cristã

O êxito de uma empresa colonial portuguesa estava ancorado em três elementos fundamentais:

3.1. Fundação de povoações

O povoamento não era simples ocupação geográfica, mas a instalação da civilização cristã num território. De acordo com José de Anchieta, em sua Carta sobre a missão do Brasil,

"Não viemos a estas partes só para batizar, mas também para fazer delas terras de cristãos, onde floresça a fé, a justiça, o trabalho e a boa ordem." (ANCHIETA, 1560, p. 12).

A fundação de vilas, cidades e freguesias representava a concretização da presença da Coroa e da Igreja, garantindo a administração dos sacramentos, a manutenção da lei e a estruturação econômica do território.

3.2. Concessão de sesmarias

A política de sesmarias destinava-se a estimular a ocupação produtiva da terra. Segundo Leal (1875),

"As sesmarias não eram simples doações, mas encargos: o sesmeiro era obrigado a cultivar a terra, sob pena de perdê-la. A improdutividade era não apenas um crime econômico, mas também moral, pois era ofensa à lei de Deus, que manda ao homem trabalhar para tirar da terra o seu sustento." (LEAL, 1875, p. 54).

Assim, a terra ociosa era teologicamente entendida como uma violação da ordem natural, que exigia trabalho, frutificação e comunhão com a criação.

3.3. Implantação de missões religiosas

A missão evangelizadora não era acessória, mas central. Padre Antônio Vieira, em seu famoso Sermão da Primeira Dominga da Quaresma, assevera:

"O primeiro dever dos reis cristãos não é conquistar terras, mas ganhar almas para Deus. Que vale alargar os reinos na terra, se não se alargam os reinos do céu?" (VIEIRA, 1679, p. 24).

As missões garantiam que a ordem econômica e social não degenerasse em mero utilitarismo materialista. Sem elas, toda empresa colonial seria um fracasso aos olhos de Deus e da Coroa.

4. A liberdade como forma de governo cristão

A concepção de liberdade na época da monarquia portuguesa não é a liberdade negativa do liberalismo moderno — ausência de coerção —, mas a liberdade positiva cristã, que consiste na capacidade de viver segundo a ordem estabelecida por Deus.

Em termos teológicos e jurídicos, isto se expressa na doutrina de São Tomás de Aquino:

"É livre aquele que age segundo a reta razão; logo, quem vive segundo a lei de Deus é o verdadeiro livre." (AQUINO, 1265, I-II, q. 17, a. 1).

Assim, aprimorar a liberdade de muitos significa fornecer-lhes os meios — materiais, sociais e espirituais — para que possam viver segundo essa ordem. Isso é, de fato, uma forma de governo: governar significa ordenar a sociedade para que cada homem cumpra seu fim último, que é Deus.

5. Conclusão

Colonizar, no imaginário dessa época, era um ato de profunda responsabilidade espiritual e social. Não se tratava de mero domínio territorial ou de exploração econômica, mas de um compromisso com a ordem do mundo criada por Deus. Fundar povoações, cultivar a terra e estabelecer missões religiosas eram expressões concretas desse compromisso.

Portanto, aprimorar a liberdade dos povos — entendida como a capacidade de viver segundo a lei divina — era, na prática, uma forma de governo espiritual e temporal, onde o serviço a Cristo, o bem comum e o desenvolvimento econômico se integravam numa mesma empresa civilizatória.

Referências bibliográficas

  • ANCHIETA, José de. Cartas: informação das coisas do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1988.

  • AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001. Parte I-IIae, questão 17, artigo 1.

  • BLUTEAU, Rafael. Vocabulário Português e Latino: Com os nomes das principais coisas não só de Portugal, mas também das mais partes do mundo. Tomo II. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1712.

  • LEAL, Augusto Tavares de. As sesmarias no Brasil: estudo histórico e jurídico. Rio de Janeiro: Tipografia Nacional, 1875.

  • VIEIRA, Antônio. Sermões. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa, 1959. Vol. III.

Do Nickelodeon ao Cashback: Uma Arqueologia Filosófica da Informação na Sociedade de Plataforma

Resumo

Este artigo propõe uma arqueologia da informação, partindo da análise dos nickelodeons — espaços populares de entretenimento na Segunda Revolução Industrial — até os regimes contemporâneos de cashback nas plataformas digitais. A partir das contribuições da Filosofia da Técnica, da Economia da Atenção e da Sociologia dos Dados, busca-se compreender como os dispositivos técnicos evoluíram de meios de entretenimento massivo para sistemas de captura de atenção, dados e comportamento. O artigo também explora como o sujeito contemporâneo pode reconfigurar sua posição no jogo das plataformas, passando de consumidor passivo a cartógrafo cognitivo.

1. Introdução

Os nickelodeons, no início do século XX, representaram não apenas uma revolução no acesso popular ao entretenimento, mas também uma nova forma de modular a experiência urbana e industrial. A partir de um pagamento simbólico — cinco centavos — o sujeito acessava não só imagens em movimento, mas também um modelo de sociabilidade, cultura e pedagogia do consumo.

Na contemporaneidade, dispositivos como o cashback operam um mecanismo análogo: mediante um microincentivo — vinte centavos, um "double dime" — o consumidor cede dados, comportamento e atenção. Este artigo propõe analisar a continuidade estrutural e filosófica entre esses dois regimes, demonstrando como ambos organizam o fluxo de informação, desejo e valor.

2. Filosofia da Técnica: O Artefato Como Governo Invisível

Toda técnica, segundo Gilbert Simondon (2017), não é uma simples ferramenta, mas um modo de existência. Ela contém em si um processo de individuação técnica que reorganiza tanto a matéria quanto a própria percepção do mundo.

“A existência do objeto técnico não pode ser separada da história dos seres que o inventam, que o utilizam e que se transformam ao interagir com ele” (SIMONDON, 2017, p. 17, tradução nossa).

Assim como os nickelodeons, que condensavam uma pedagogia da modernidade industrial, os aplicativos de cashback condensam uma pedagogia da modernidade algorítmica. Não são apenas plataformas de consumo, mas dispositivos de governo invisível, que organizam o comportamento através de regimes de recompensa, gamificação e captura de dados.

Bernard Stiegler (1998) aprofunda este ponto ao afirmar que a técnica é uma exteriorização da memória e da experiência, o que implica que toda inovação técnica transforma a própria estrutura da subjetividade:

“Toda técnica é uma protensão, uma antecipação da experiência, que se grava na matéria e, por isso, transforma a própria condição da experiência humana” (STIEGLER, 1998, p. 30, tradução nossa).

Logo, ao inserir uma nota fiscal no Méliuz, o sujeito não realiza um ato neutro, mas participa de um ciclo técnico que o forma e informa, simultaneamente.

3. Economia da Atenção: O Double Dime como Moeda Cognitiva

Herbert Simon (1971) já alertava que, em uma sociedade saturada de informação, “a riqueza de informação cria pobreza de atenção” (SIMON, 1971, p. 40, tradução nossa). Assim, surge uma nova economia onde a atenção — e não mais apenas o dinheiro — torna-se o recurso escasso.

Os nickelodeons foram precursores dessa economia. O níquel não pagava apenas pelo filme, mas comprava um pedaço de tempo, de atenção e de pertencimento à modernidade industrial.

Na era digital, esse mesmo princípio se intensifica. O cashback é, na verdade, uma engenharia econômica de microincentivos para captura de atenção e dados.

Davenport e Beck (2001) explicitam:

“Na nova economia da atenção, as empresas bem-sucedidas não são aquelas que produzem mais bens, mas as que sabem captar, manter e monetizar a atenção de seus públicos” (DAVENPORT; BECK, 2001, p. 12, tradução nossa).

O double dime — os R$ 0,20 oferecidos por uma nota fiscal — é um token cognitivo que ativa uma série de circuitos algorítmicos que transcendem o simples valor monetário. Ele participa de uma cadeia de produção de valor baseada em dados, comportamentos e previsibilidade. 

4 Conclusão: Cartografia Cognitiva Como Forma de Liberdade

O percurso do níquel ao double dime revela uma continuidade profunda na história das tecnologias de informação e controle. Os nickelodeons ensinavam o operário industrial a ser moderno. Os aplicativos de cashback ensinam o cidadão de dados a ser previsível.

Mas também oferecem, paradoxalmente, os instrumentos para que este sujeito se emancipe — desde que compreenda o jogo. Como bem sugere Bernard Stiegler, “o que está em jogo é a luta pela retificação da atenção como bem comum” (STIEGLER, 2010, p. 5, tradução nossa).

Assim, cadastrar uma nota fiscal não é apenas um ato econômico. É, se for consciente, um ato político, epistemológico e até espiritual: uma forma de tomar posse dos próprios regimes de informação que governam a vida cotidiana.

Referências

COULDRY, Nick; MEJIAS, Ulises A. The Costs of Connection: How Data Is Colonizing Human Life and Appropriating It for Capitalism. Stanford: Stanford University Press, 2019.

DAVENPORT, Thomas; BECK, John C. The Attention Economy: Understanding the New Currency of Business. Boston: Harvard Business School Press, 2001.

SIMONDON, Gilbert. On the Mode of Existence of Technical Objects. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2017.

SIMON, Herbert A. Designing Organizations for an Information-Rich World. In: GREENBERGER, Martin (ed.). Computers, Communication, and the Public Interest. Baltimore: Johns Hopkins Press, 1971. p. 37-72.

STIEGLER, Bernard. Technics and Time, 1: The Fault of Epimetheus. Stanford: Stanford University Press, 1998.

STIEGLER, Bernard. Taking Care of Youth and the Generations. Stanford: Stanford University Press, 2010.

🔥 Dos Nickelodeons a Cashback: Como a Economia da Atenção Abre Estradas no Imaginário Econômico

✨ Introdução

No início do século XX, nos Estados Unidos da Segunda Revolução Industrial, surgem os nickelodeons: salas de exibição que, por uma moeda de cinco centavos (nickel), ofereciam breves sessões de filmes e espetáculos. Mais do que mero entretenimento, esses espaços tornaram-se, como bem analisam Musser e Allen (1990), centros de formação cultural, sociabilidade urbana e, principalmente, instrumentos de integração dos imigrantes à lógica econômica americana.

“O nickelodeon foi, acima de tudo, uma escola informal da modernidade: educava os recém-chegados sobre os costumes, desejos e padrões de consumo da América industrial” (MUSSER; ALLEN, 1990, p. 67, tradução nossa).

Avançando para o século XXI, reencontramos essa lógica — agora mediada por smartphones, algoritmos e plataformas de cashback. O que antes era um double dime (vinte centavos) pago por notícia, espetáculo e informação, hoje se reconfigura como uma pequena fração de dinheiro devolvido em troca de atenção, dados e interação econômica.

Aqui se impõe a pergunta: o cashback é uma forma de colonialismo digital ou uma estrada aberta no imaginário econômico contemporâneo?

A resposta, como veremos, não se alinha nem ao cinismo do consumismo, nem ao reducionismo marxista. Ao contrário: governar é povoar, e povoar é abrir possibilidades — inclusive no mundo digital.

🎥 O Papel dos Nickelodeons na Segunda Revolução Industrial

Os nickelodeons foram muito mais do que espaços de diversão. Na análise de Gomery (1992), eles representaram uma nova infraestrutura cultural que acompanhava as mudanças econômicas, a urbanização acelerada e a transformação dos padrões de trabalho.

“O cinema primitivo, veiculado pelos nickelodeons, oferecia não apenas entretenimento, mas uma gramática visual e cultural necessária para compreender a vida moderna” (GOMERY, 1992, p. 54, tradução nossa).

Esses espaços democratizaram o acesso à informação, à cultura e à estética da modernidade. Na leitura de Stokes (2007), eles funcionaram como portais simbólicos, capazes de converter o trabalhador fabril — muitas vezes imigrante e iletrado — em participante ativo da economia de mercado, da cultura urbana e da cidadania industrial.

Essa pedagogia informal do olhar, da escolha e do desejo antecipava aquilo que, mais de um século depois, as plataformas de cashback, como a Méliuz, replicariam no plano digital.

🔍 Cashback como infraestrutura cognitiva

Quando plataformas como a Méliuz oferecem cashback, elas não estão apenas devolvendo dinheiro. Estão revelando possibilidades latentes no tecido econômico. Cada notificação, cada banner, cada oferta não é apenas publicidade: é, antes, uma reconfiguração do campo de visão econômico do usuário.

Diferente da crítica marxista, que enxerga esse fenômeno como mera exploração de dados, podemos propor outra leitura — ancorada no princípio clássico de que governar é povoar.

A cada nota fiscal cadastrada, a cada cupom utilizado, o usuário se torna um cartógrafo do próprio mercado, um navegador que aprende a ler os ventos, os preços, os fluxos e os pontos de atrito do sistema.

Como observa Huhtamo (2013) sobre os espetáculos de mídia na transição industrial:

“As tecnologias de mídia não são apenas ferramentas de distração, mas formas de navegação cognitiva, que ajudam os sujeitos a mapear, compreender e interagir com a complexidade do mundo social e econômico” (HUHTAMO, 2013, p. 112, tradução nossa).

🚫 Contra o Erro Marxista: Cashback Não É Colonialismo Digital

Seria tentador, no espírito das críticas marxistas, reduzir o cashback a uma mera forma de exploração — onde a atenção do consumidor se converte em mercadoria e seus dados são extraídos como matéria-prima bruta.

Porém, essa leitura fracassa por três razões fundamentais:

  1. Confunde mediação informacional com exploração. O simples fato de uma plataforma intermediar informações, ofertas e vantagens não implica necessariamente alienação, mas sim potencialização da liberdade econômica.

  2. Ignora a função pedagógica do mercado. Assim como os nickelodeons ensinaram os imigrantes a navegar pela modernidade industrial, as plataformas de cashback ensinam o cidadão digital a navegar pela complexidade do mercado contemporâneo.

  3. Desconsidera o princípio clássico de que liberdade nasce da escolha informada. Onde há informação acessível, há espaço para autodeterminação, microempreendedorismo, planejamento e soberania econômica.

Gaudreault e Marion (2015) afirmam que:

“Os meios técnicos, desde os panoramas até o cinema digital, funcionam como próteses cognitivas: ampliam os sentidos, expandem a percepção e, por consequência, alargam os horizontes de ação dos sujeitos” (GAUDREAULT; MARION, 2015, p. 89, tradução nossa).

É precisamente isso que faz o cashback: expande o campo de possibilidades, permitindo que pequenos ganhos se acumulem como capital simbólico, material e prático.

🌐 Governar é Povoar: Uma Ética do Consumo Inteligente

Quando, no seu cotidiano, você cadastra uma DANFE por dia na Méliuz, não está apenas acumulando centavos. Está, na verdade, exercendo um ato de soberania cognitiva. Está treinando seu olhar para ver onde outros não veem. Está cartografando o mercado, cultivando microoportunidades e aprendendo a transformar informação em vantagem econômica.

“A liberdade não está em rejeitar o sistema, mas em dominá-lo, compreendê-lo e convertê-lo em ferramenta de serviço, prosperidade e, no limite, santificação do trabalho.”

O cashback, portanto, não é um grilhão. É estrada aberta. É ferramenta de quem escolhe governar sua própria vida econômica, povoando o deserto da ignorância com cidades de inteligência, prudência e prosperidade.

📚 Referências

  • ABRAMS, Nathan. The New Jew in Film: Exploring Jewishness and Judaism in Contemporary Cinema. London: I.B. Tauris, 2012.

  • ALLEN, Robert C. Horrible Prettiness: Burlesque and American Culture. Chapel Hill: University of North Carolina Press, 1991.

  • GAUDREAULT, André; MARION, Philippe. The End of Cinema? A Medium in Crisis in the Digital Age. New York: Columbia University Press, 2015.

  • GOMERY, Douglas. Shared Pleasures: A History of Movie Presentation in the United States. Madison: University of Wisconsin Press, 1992.

  • HUHTAMO, Erkki. Illusions in Motion: Media Archaeology of the Moving Panorama and Related Spectacles. Cambridge: MIT Press, 2013.

  • MUSSER, Charles; ALLEN, Robert C. The Emergence of Cinema: The American Screen to 1907. Berkeley: University of California Press, 1990.

  • STOKES, Melvyn. D.W. Griffith’s The Birth of a Nation: A History of the Most Controversial Motion Picture of All Time. New York: Oxford University Press, 2007.

Da nota fiscal ao cashback: como Méliuz e o Sistema Multi revelam as oportunidades escondidas no consumo formal

Em um mundo cada vez mais conectado, os consumidores atentos descobrem que, por trás de ações aparentemente banais — como cadastrar uma nota fiscal —, esconde-se um ecossistema de vantagens, benefícios e, não raramente, oportunidades econômicas pouco exploradas pela maioria. Foi justamente em um momento de rotina, ao cadastrar uma nota fiscal no aplicativo Méliuz durante a noite, que surgiu uma propaganda reveladora: a existência de um sistema equivalente ao Méliuz, exclusivo para clientes do Barra Shopping e de outros shoppings vinculados ao grupo Multi.

Essa descoberta revela não apenas uma coincidência, mas um padrão. Existe, no Brasil, uma teia de programas de benefícios que se alimenta da formalização das transações econômicas. Seja por meio de cashback, prêmios ou vantagens exclusivas, esses programas têm um ponto comum: recompensar quem exige nota fiscal.

O Que é o Sistema Multi?

O Multi é o ecossistema de benefícios que congrega diversos shoppings administrados pelo Grupo Multiplan — um dos maiores operadores de shoppings centers no Brasil. Por meio do aplicativo Multi, os consumidores podem cadastrar suas notas fiscais de compras e serviços realizados dentro dos shoppings participantes.

Diferente do Méliuz, que é uma plataforma nacional e independente de local físico, o sistema Multi está diretamente atrelado ao espaço dos shoppings. O objetivo não é apenas incentivar o consumo, mas também reter o cliente dentro do ecossistema Multi, oferecendo benefícios como cashback, descontos, promoções e até sorteios de prêmios.

No caso específico do Barra Shopping, essa prática se aplica tanto às lojas quanto aos serviços, ampliando a abrangência e oferecendo vantagens até mesmo para quem consome alimentação, estética, serviços automotivos, entre outros.

A Lógica por Trás dos Programas de Cashback via Nota Fiscal

Por que essas empresas fazem isso? A resposta é simples e dupla:

  1. Formalização da Economia: Quanto mais o consumidor exige nota fiscal, maior é o controle tributário sobre os lojistas. Isso reduz a informalidade, garante a arrecadação de impostos e, por consequência, fomenta uma economia mais saudável e previsível.

  2. Fidelização e Inteligência de Dados: Ao centralizar os cadastros de notas fiscais, tanto Méliuz quanto o sistema Multi constroem bancos de dados riquíssimos sobre o comportamento de consumo dos clientes. Isso permite campanhas de marketing mais eficientes, ofertas personalizadas e retenção do cliente no ambiente físico ou digital.

Méliuz vs. Multi: Semelhanças e Diferenças

Aspecto Méliuz Sistema Multi (Barra Shopping e outros)
Abrangência Nacional, online e físico Local, restrito aos shoppings do grupo
Foco Varejo online, parceiros físicos selecionados Compras e serviços dentro dos shoppings Multi
Recompensa Cashback em dinheiro Cashback, cupons, sorteios, prêmios
Base de operação Plataforma digital descentralizada Ambiente físico + aplicativo centralizado
Tipo de nota aceita Foco maior em parceiros; algumas notas físicas Notas fiscais de qualquer loja e serviço do shopping

 A Oportunidade para o Consumidor Inteligente

O consumidor que compreende esse ecossistema pode transformar cada compra — seja no ambiente online, seja no ambiente físico — em uma oportunidade de ganho indireto. Imagine uma estratégia combinada:

  • No shopping, cadastra as notas no aplicativo Multi e acumula cashback ou participa de sorteios.

  • Nas compras online, usa o Méliuz para obter cashback adicional.

  • Ao mesmo tempo, participa de programas estaduais, como a Nota Fiscal Paulista, Nota Carioca, Nota Legal (DF), ou Viva Salvador, recebendo créditos que podem ser convertidos em dinheiro, descontos em impostos ou prêmios.

A mesma nota fiscal, portanto, pode ser cadastrada em múltiplos sistemas — sempre que as regras permitirem — gerando uma maximização dos benefícios.

O Papel da Publicidade na Descoberta das Oportunidades

O que chama atenção nesse relato é que a descoberta do sistema Multi ocorreu justamente por meio de uma propaganda veiculada no momento do cadastro de uma nota no Méliuz. Esse dado não é trivial. As empresas que operam cashback sabem que os momentos em que o consumidor está engajado — como no cadastro de notas — são ideais para apresentar novas ofertas e sistemas.

É nesse ponto que surge uma reflexão: o consumidor atento percebe que as propagandas, muitas vezes vistas como ruído, podem ser fonte valiosa de informação econômica e estratégica.

Considerações Finais

No fim das contas, exigir nota fiscal não é apenas um dever cívico, mas também uma estratégia econômica inteligente. O jogo de recompensas, até então invisível para boa parte da população, se revela generoso para quem observa, lê e sabe usar as ferramentas corretas.

Mais do que nunca, viver no Brasil — e especialmente frequentar centros comerciais como o Barra Shopping — pode significar não apenas consumir, mas transformar cada compra em uma microvitória financeira, seja por meio do cashback, seja pela participação em prêmios e vantagens ocultas na rotina do consumo formal.

Miłość do prawdy, poczucie misji płynące z Ourique i wymowa polskich nazwisk: lekcje dla dziennikarstwa i życia

Streszczenie

Artykuł ten omawia, jak upadek współczesnego dziennikarstwa odzwierciedla głębszy kryzys — utratę miłości do prawdy. Trudność — lub odmowa — dziennikarzy w nauce i poprawnej wymowie nazwisk w innych językach nie jest jedynie technicznym szczegółem, lecz objawem intelektualnego lenistwa i pogardy dla rzeczywistości. Wychodząc od historycznej misji Królestwa Portugalii, ustanowionej w Ourique, rozważamy, jak miłość do prawdy wymaga miłości do wiedzy, kultury i języków narodów, gdy wszystko to jest podporządkowane służbie Chrystusowi. Przyjęcie Polski i Brazylii jako jednego domu w Chrystusie jest najwyższym wyrazem tej misji, która nie zna granic geograficznych, gdy chodzi o służbę prawdzie.

Wstęp

Jeśli prawdą jest, że „poznacie prawdę, a prawda was wyzwoli” (J 8,32), to wszystko, co sprzeciwia się prawdzie, nieuchronnie prowadzi do niewoli — umysłu, sumienia i samej cywilizacji. Dziennikarstwo, gdy odchodzi od miłości do prawdy, staje się narzędziem nie oświecenia, lecz zaciemniania.

Niedawny epizod, w którym brazylijscy dziennikarze oświadczyli, że nie znają języka polskiego, aby usprawiedliwić swoją niezdolność do wymówienia nazwiska polskiego europosła — kluczowego w wiadomości o międzynarodowym znaczeniu — ujawnia coś znacznie większego niż tylko trudność techniczną: ukazuje aktywne odrzucenie miłości do prawdy, do wiedzy, a zatem także do samej rzeczywistości.

1. Miłość do prawdy i miłość do wiedzy

Olavo de Carvalho wielokrotnie podkreślał w swoich dziełach, że nie można kochać prawdy bez jednoczesnej miłości do wiedzy. W książce O Jardim das Aflições ujmuje to w sposób precyzyjny:

„Miłość do prawdy jest z konieczności miłością do wiedzy. Kto nie kocha wiedzy, nie kocha prawdy, ponieważ prawda nie objawia się ignorancji, lecz rozumowi uważnemu i oddanemu.”
(CARVALHO, 1995, s. 78)

To zdanie nie jest jedynie abstrakcyjną refleksją. Ma ono praktyczne konsekwencje. Dziennikarz, który odmawia uczenia się, zadowala się ignorancją, nie stara się zrozumieć kultury ani nawet poprawnie wymówić nazwiska kluczowej postaci w wiadomości, nie kocha prawdy. A jeśli nie kocha prawdy, nie jest w stanie jej służyć.

2. Misja z Ourique jako klucz interpretacyjny

Historia Portugalii oferuje klucz do zrozumienia związku między miłością do prawdy a służbą. Kiedy Dom Afonso Henriques miał wizję Chrystusa na polu Ourique, otrzymał misję, która przekracza czas i przestrzeń:

„Ja jestem założycielem królestwa, które ty ustanowisz. [...] Nie lękaj się, bo Ja będę twoim wsparciem. Od dziś, w Moim Imieniu, będziesz walczył, a Ja uczynię z ciebie i twoich potomków narzędzia Mojej chwały.”
(OLIVEIRA MARTINS, 1891, s. 102)

Z tej misji narodziła się Portugalia, nie jako zwykła jednostka polityczna, lecz jako królestwo „przez Chrystusa, w Chrystusie i dla Chrystusa”. Ta misja nie zakończyła się w XII wieku. Trwa ona w tych, którzy poważnie traktują to powołanie, rozumiejąc, że służenie prawdzie to służenie Chrystusowi — i że nie istnieją dla niej granice geograficzne.

3. Polska jako przedłużenie misji

Dlatego gdy człowiek przyjmuje Polskę jako swój dom, tak samo jak Brazylię, nie dokonuje jedynie wyboru emocjonalnego lub kulturowego. Odpowiada na misję Ourique, która z natury jest uniwersalna. Język polski, ze swoją fonetyczną złożonością, nie jest przeszkodą, lecz okazją, by uhonorować tę miłość do prawdy, która domaga się poznania, szacunku i służby rzeczywistości takiej, jaka ona jest.

Odmowa dziennikarzy, by choćby spróbować zrozumieć nazwisko polskiego europosła, nie jest zatem błahostką. Jest świadectwem duchowego i zawodowego bankructwa.

4. Dziennikarstwo, wiedza i misja

Prawdziwy dziennikarz, jak prawdziwy misjonarz, jest kimś, kto przekracza granice. To ktoś, dla kogo żaden język nie jest obcy, żaden naród nie jest daleki, żadna rzeczywistość nie jest nieistotna — o ile wszystko to służy prawdzie.

Święty Tomasz z Akwinu w Sumie Teologicznej naucza:

„Właściwym przedmiotem ludzkiego intelektu jest prawda, a jego celem jest dostosowanie się do rzeczywistości.”
(Suma Teologiczna, I, q. 16, a. 1)

Nie chodzi więc o techniczną fanaberię. Chodzi o samą definicję aktu intelektualnego, a przez to także aktu dziennikarskiego, gdy wykonywany jest on uczciwie.

Zakończenie

Miłość do prawdy nie jest czymś abstrakcyjnym ani etykietą moralną bez praktycznych konsekwencji. Wymaga miłości do wiedzy, miłości do wysiłku i miłości do rzeczywistości. A kiedy kocha się prawdę, nie ma takiego polskiego nazwiska, którego nie da się nauczyć, nie ma takiej granicy, której nie da się przekroczyć, nie ma takiej trudności, której nie da się pokonać.

Taka jest misja, która rozpoczęła się w Ourique i która wciąż żyje w każdym człowieku, który dziś wybiera służbę Chrystusowi poprzez kult prawdy — czy to w dziennikarstwie, kulturze, nauce, czy w każdej innej sferze życia.

Bibliografia

AQUINO, Tomasz z. Suma Teologiczna. Przekład Braci Zakonu Kaznodziejskiego w Brazylii. São Paulo: Loyola, 2001.

CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições: de Epicuro à Ressurreição de César, uma história do homem no século XX. Wyd. 1. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

MARTINS, Oliveira. História de Portugal. Wyd. 4. Lisboa: Parceria A. M. Pereira, 1891.

BIBLIA. Pismo Święte. Przekład Konferencji Episkopatu Brazylii (CNBB). São Paulo: Paulus, 2001. Ewangelia według św. Jana 8:32.