1) Um dos problemas relativos à aplicação da fundamentação do voto em matéria eleitoral é que isso pede um povo muito bem instruído (capaz de ler e escrever muito bem em língua portuguesa), além de ser muito bem educado no valores fundados na conformidade com o Todo que vem de Deus e consciente da missão de servir a Cristo em terras distantes, tal como se deu em Ourique.
2.1) Ora, essas três coisas não temos. O voto tende a ser obrigatório porque o eleitorado se reduziu a um órgão que confirma o que foi decidido pela cúpula.
2.2) Quando o eleitorado é reduzido a um órgão, a uma máquina a serviço do establishment, o voto tende a ser automatizado - eis o voto eletrônico, pois é a quantidade, sistematicamente repetida, quem decide e não os motivos determinantes fundamentados, pois só quem sabe ler, escrever e quem é cultivado na virtude de se tomar o país como um lar em Cristo é que pode fundamentar a razão pela qual está votando - eis o fundamento da capacidade eleitoral; só os capazes de fazer isso é que podem ser cobrados, responsabilizados pela más decisões que tomam - e isso só pode ser atribuído aos melhores, coisa que se volta para poucos. E não é à toa que digo que brasileiros somos poucos, pois esses poucos é que sabem de onde vieram e para onde vão.
3) Outro problema está no fato de que muitas seções eleitorais se dão em áreas conflagradas, como as favelas. Como o voto tende a ser medido pela quantidade e a ser uma coisa mecânica, então os motivos determinantes estão mascarados - o que favorece a coerção, o voto de cabresto. E nós temos voto de cabresto nas favelas, pois se eu não voto no candidato financiado pelo narcotráfico, então minha família e eu sofreremos as represálias.
4.1) O sigilo do voto não adianta porque isso contraria a natureza da escolha política, pois o eleitor está atuando como juiz e ele tem o dever de pensar no bem comum, na polis, de modo que a cidade dos homens imite a cidade de Deus da melhor maneira possível e para isso ele deve motivar o seu voto. Além disso, nem todo mundo está voltado para a atividade política, que é uma expressão da cultura, coisa que é feita por gente que serve ao povo de tal maneira a se ensinar de que maneira devemos tomar o país como se fosse um em Cristo, com base naquilo que sabemos desde Ourique - e este encargo recai sobre os nobres.
4.2) Outra razão pela qual o voto secreto não adianta é porque mascara os motivos determinantes do voto, o que faz com que a quantidade seja manipulada, por meio da fraude. Como bem disse Nicolás Gómez Dávila, a quantidade de votos aponta a mediocridade daquele que não tem nada a contribuir para a sociedade política, a não ser colocar filhos no mundo para o mundo criar.
4.3) Enfim, o sufrágio universal é o indício supremo da proletarização geral da sociedade. Isso aí é liberdade voltada para o nada - eis porque o liberalismo pavimenta o caminho para o totalitarismo. E numa sociedade onde todos têm direito a verdade que quiser, então a política se reduz a uma guerra de facções pelo poder - e nessa guerra ninguém está seguro.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 13 de fevereiro de 2018 (data da postagem original).