1) Em primeiro lugar, é preciso entender que a escrita não é uma transcrição imediata dos pensamentos, mas um processo de elaboração e reelaboração constantes. Não vai acontecer de você assistir aos seus pensamentos como quem assiste a um filme, e disso resultar um texto pronto e acabado, com a coerência e a clareza que um bom texto necessita.
2) Muito ao contrário - é preciso garimpar em busca da palavra mais precisa, é preciso reescrever trechos ambíguos ou sem sentido, é preciso adequar o texto à sintaxe da língua em que se está escrevendo.
3) Não há outro jeito de se finalizar um texto a não ser se dedicando a ele - o que exige um trabalho seguido de vários retrabalhos. Confesso que eu mesmo nunca me satisfaço com a primeira versão do que escrevo — e olha que sou um escritor experimentado. Costumo demorar para dar a forma final de um texto, a fim de que ele transmita exatamente o que desejo.
4) A desordem dos nossos pensamentos só se alinha num texto final mediante uma atenção continuada; uma atenção que entrevê o que se quer mesmo dizer, ao mesmo tempo em que são percebidas imprecisões no que está sendo escrito. Não há outra solução: o pensamento só se materializa em escrita por meio de um trabalho contínuo. É um trabalho diário, que nunca pode ser abandonado até se realizar, finalmente, uma ponte entre estes elementos aparentemente tão díspares: o pensamento e a escrita.
Rodrigo Gurgel
Facebook, 12 de março de 2024.
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