A instabilidade permanente provoca a erosão da força de um país através
de conflitos entre compatriotas de uma mesma terra: ela pode se dar
entre o exército e o povo ou entre exércitos de Estados que mantêm a
mesma cultura hispânica, visto que há pouco tempo faziam parte da mesma
nação. As forças, que deveriam ser usada destinadas para garantir a
unidade nacional, tiveram sua finalidade desviada e seu propósito
esvaziado - por esta razão, elas foram desperdiçadas, a ponto de não
haver na direção à concódia e ao bem-comum da América Espanhola. No
processo de se tomar esta unidade como um lar em Cristo, por Cristo e
para Cristo, o progresso neste senso, deste ideal de unidade, tem sido
lento e tortuoso e às vezes o retrocesso se faz necessário de modo que
as coisas façam sentido, pois o conservantismo dos revolucionários
maçônicos é obstinado.
Esta é a visão que se tem de uma história
de dois séculos de republicanismo supostamente independente, pois os
períodos de estabilidade foram relativamente curtos: o que alguns
governos fizeram de bom, outros desfizeram tudo o que de bom foi feito e
e tentaram começar algo novo, de modo a romper com o passado, a partir
do zero, tal como os revolucionários sempre fazem. E este ciclo parece
não ter fim.
E como é possível que os espanhóis tenham construído
em menos de três séculos uma civilização hispano-indiana repleta de
cultura e riqueza, na qual o nível de vida de todas as classes sociais
fosse superior ao das nações europeias da época? A resposta é simples;
fazer prevalecer a paz social acima de todas as coisas.
Durante
os tempos do vice-reinado – incorrectamente chamados de coloniais – e
até às revoluções de independência do início do século XIX, os períodos
de instabilidade foram muito poucos em comparação com os períodos de
paz; Através de uma forte ética e moral católica, conseguiu-se a
harmonia entre a conjunção do velho e do novo mundo na América
Hispânica.Há inúmeros testemunhos e vestígios palpáveis de tudo isto
que podemos perceber se estivermos abertos ao conhecimento e à
compreensão. Para dar um exemplo, no censo ordenado por Carlos III, no
vice-reinado do Rio da Prata, dois terços da população eram descendentes
diretos ou indiretos de guaranis, e longe de isso ser um problema, esta
realidade era uma glória. Para deixar mais claro o motivo pelo qual a
paz prevalecia nesta enorme diversidade, antes deste censo, se o próprio
Imperador Filipe II tivesse sido questionado se se considerava
hispanista, teria pensado que o seu interlocutor era louco, porque não
só Ele era rei apenas dos hispânicos, mas também dos impérios
incorporados dos Incas, dos Mexicas, dos descendentes dos Maias - cujas
aristocracias ele foi incluído e considerado como tal -, dos Mapuches -
cuja nação foi reconhecida e tratada pela Coroa Espanhola como tal-,
etc. Esta é a enorme e substancial diferença que caracterizou a
Monarquia Universal Católica em relação ao resto dos impérios à escala
mundial; que se tratava de adicionar e não de subtrair, que se tratava
de incluir e não de excluir ou de aniquilar como fizeram os franceses,
portugueses e britânicos. [1]
Quão difíceis eram os trabalhos nas
minas? Sim, obviamente o trabalho de um mineiro, nem agora nem antes,
nunca foi fácil, mas eles não eram escravos como nos diz a Lenda Negra,
recebiam um salário justo cujas contas podem ser consultadas nos
arquivos históricos.
Que abusos houve? Pode até ter havido, mas
estes não foram por ordem da Coroa ou das instituições do vice-reinado,
mas por pessoas que agiram de forma totalmente ilegal e que, se fossem
descobertas, seriam irremediavelmente processadas. Além disso, a
história não pode ser feita com base nessas anedotas, uma vez que o
positivo aspectos tantas vezes ignorados eram deslumbrantes em
comparação com aqueles que cometeram seus delitos e violaram as Leis das
Índias [2].
Assim, graças à estabilidade alcançada ao avançar
sempre para o bem comum segundo os parâmetros estabelecidos pela
religião católica, este mundo hispano-indígena prosperava em termos de
recursos agrícolas, o que teve impacto na felicidade do seu povo, que
tinha as necessidades primárias satisfatoriamente atendidas. Sobre o
vice-reinado do Rio de la Plata (hoje Argentina, Bolívia, Uruguai,
Paraguai e parte do Chile) um alto comando britânico em 1711 escreveu os
textos citados abaixo; De referir como curiosidade que os animais
mencionados não são nativos do continente americano, foram espécies
trazidas dos campos de Castela e Andaluzia; da atual Espanha.
“A
felicidade deste país afortunado é inacreditável. Suas ricas planícies -
que são as maiores do mundo, medindo cerca 50 ou 60 léguas de
circunferência - estão tão cobertas de gado. Quem puder vê-las
pessoalmente vai acabar acreditando.”
"…as perdizes custam um
centavo a peça e a carne de vaca, de vitela, de cordeiro, de lebre, de
coelho, de frangos, de aves selvagens et cetera têm um valor
proporcional não só em relação à salubridade do clima mas também com as
comodidades e bênçãos que a coroa espanhola oferece - benefício este não
é extendido a toda a superfície do globo, por conta dos outros governos
não seguirem o exemplo da Espanha. Não é à toa que esta terra é chamada
de Buenos Aires". Até que um dia houve uma forte guinada no leme que
nos fez desviar drasticamente daquele caminho.
Antes de tudo,
deve-se notar que muitas das revoltas que hoje nos contam como "gritos
de liberdade" foram, na verdade, levantes em defesa da fidelidade ao
rei, assim como as Juntas que foram criadas, inicialmente, não foram
formadas por interesses independentistas; ao contrário, em nome do rei
Fernando VII, foram assinadas atas para preservar a ordem das coisas
diante da invasão napoleônica na península ibérica, que ameaçava mudar
tudo pelo qual as Índias Ocidentais haviam sido concebidas por decretos
do irmão de Napoleão, José Bonaparte - o impopular "Pepe Botella". O que
acontece é que mais tarde reescreveram a história para que parecesse um
conflito de Espanha sim, Espanha não, quando na realidade nas
revoluções chamadas de independência não foram enviados contingentes
militares da metrópole ibérica, foram guerras entre os próprios
americanos por uma questão de preservar os valores do antigo regime ou
instaurar as idéias iluministas nascidas da Revolução Francesa de 1789.
As
fundações das repúblicas hispano-americanas que hoje todos conhecemos
não foram tão gloriosas e triunfante - elas não tinham aquele ideal que
nos querem fazer acreditar de povos que, outrora cativos e agora
libertos do jugo espanhol, um diaalcançarão sua liberdade em união e
harmonia. Pois esta união idílica é falsa! É uma grande utopia!
Esta
visão simplista não corresponde a uma realidade de extremamente
complexa; os títulos nobiliários e os privilégios dos povos originários
foram abolidos, resultando na necessidade de se esmagar inúmeras
revoltas todos aqueles que não aceitavam de forma alguma esses novos
regimes; grandes somas de dinheiro foram solicitadas juntos aos
banqueiros britânicos para colocar os novos Estados recém-criados em
funcionamento (instituições, exércitos, funcionários, etc...) - o que
nos asfixiou economicamente devido à enorme dívida que teve que ser paga
desde então, por conta do peso desse aparato repressor; guerras tiveram
que ser travadas com repúblicas vizinhas devido a desacordos sobre
fronteiras que antes não existiam, bem como várias secessões formaram
repúblicas a partir de outras repúblicas, afetando também o trânsito de
gado e da população que antes podia se deslocar livremente de uma área
para outra. Importantes grupos populacionais demandavam em vão que o rei
da Espanha enviasse suas tropas para reunificar a Hispanoamérica - e o
que era ruim ficou pior, pois todo o poder não era mais para alcançar a
estabilidade política e a paz social de modo a beneficiar o bem comum;
agora, todo o poder agora servia apenas para manter o próprio poder,
como se ele tivesse um fim em si mesmo, e era necessário a todo custo
garantir os frágeis laços que sustentavam as repúblicas surgidas a
partir do nada, formadas em salas fechadas que documentavam solenemente o
ato de apatria travestido de independência (atos estes que eram mais
improvisados do que propriamente planejados e organizados). Todo o uso
da autoridade era empregado para que os Estados recém-criados e seus
sistemas, fundados no conservantismo político, não se desmoronassem -
eles usavam mão-de-ferro e força militar para tal fim. Assim, a
existência das repúblicas - cujo lema era "igualdade, liberdade e
fraternidade" - era priorizada acima de tudo. Tal como disse o
libertador San Martín: "Sejamos livres, o resto não importa" (ele
primava pela independência, mas, quanto ao preço a ser pago por isso,
não).
Passamos de sociedades com uma economia florescente onde o
dinheiro fluía abundantemente devido ao intenso tráfico comercial com o
Pacífico - o que incluía Filipinas, China Japão - e onde se cuidava para
que a Inglaterra não expandisse seus tentáculos por meio de leis que
proibissem o comércio com estes povos para uma sociedade dividida em
diferentes Estados em constantes conflitos territoriais, que vivem em
hostilidade entre si por conta dos sucessivos governos que usam a força
para mantê-las sob controle, fortemente influenciada pelas potências
estrangeiras. George Canning, em 1824, após assinar o Tratado de
Amizade, Comércio e Navegação com as Províncias Unidas do Rio da Prata
(atual Argentina, Uruguai e Bolívia), exclamou o seguinte no parlamento
britânico; "O negócio está fechado, o prego no caixão está cravado! A
Hispanoamérica é livre, desde que governemos segundo os interesses
ingleses. Ele talvez disse isto a partir do momento em que os interesses
ingleses já estavam consolidados na região.
Winston Churchill,
outro líder proeminente da política britânica durante seus dois mandatos
de 1940-1945 e 1951-1955, que desempenhou um papel significativo no
pós-Segunda Guerra Mundial, ao lado de Roosevelt e Stalin, estava bem
ciente de que estabilidade e progresso estão sempre interligados. Não se
pode prosperar em uma luta constante de interesses criados; ao
contrário, em tempos de paz, dá-se um grande passo à frente, pois todas
as energias convergem sem obstáculos para melhorar as condições
sócio-econômicas por meio do progresso. O enriquecimento de um afeta
positivamente o enriquecimento do outro, resultando em benefícios para
todos. Churchill transmitia essa ideia ao seu país, promovendo-a com as
seguintes palavras:
"As antigas glórias da Igreja e do Estado, do
Rei e da Pátria devem se reconciliar com a moderna democracia, pois não
vejo motivo o povo trabalhador se tornar o principal defensor destas
antigas instituições através das quais conquistaram suas liberdades e
progressos. É esta união do passado e presente, da tradição e do
progresso - esta corrente de ouro que nunca será quebrada porque não foi
submetida a uma tensão excessiva - que constitui o mérito e a qualidade
da vida nacional inglesa. Eis a razão da sua soberania".
Enquanto
isso, na Argentina, o militar Juan Domingo Perón, presidente da
república de 1946 a 1955, ao implementar uma política de proteção aos
trabalhadores, ganhou grande popularidade ao satisfazer as classes
médias, o que resultou em uma paz social na qual se alcançou um milagre;
a Argentina passou de ser uma região fornecedora de recursos pecuários e
agrícolas para potências anglo-saxônicas - como se tornou em
decorrência do tratado de amizade, comércio e navegação mencionado
anteriormente - a uma superpotência industrial com capacidade de tomar
suas próprias decisões e poder suficiente para moldar seu futuro. É
claro que esses não foram os planos reservados para a Argentina e o
restante da Hispanoamérica (Latinoamérica) desde o início das
proclamações de independência. Portanto, Winston Churchill deixou bem
claro sua posição a esse respeito e as medidas a serem tomadas em
consequência para restaurar o status quo anterior que beneficiava os
interesses britânicos. Além disso, foi um acordo firmado junto com seus
colegas vencedores da Segunda Guerra Mundial Roosevelt e Stalin -
Estados Unidos e URSS, respectivamente - que pode ser lido na
Conferência de Yalta de 1945, onde decidiram como seria o mundo
pós-guerra:
"Não permitamos que a Argentina se torne uma
potência, ela arrastará toda a América Latina consigo... A estratégia é
enfraquecer e corromper internamente a Argentina, destruir suas
indústrias, suas forças armadas, fomentar divisões internas apoiando
grupos de direita e esquerda. Atacar sua cultura em todos os meios.
Impor líderes políticos que respondam ao nosso império. Isso resultará
na apatia do povo e em uma democracia controlável onde seus
representantes levantarão suas mãos em massa, em servil submissão..."
Seja
porque seus planos foram bem-sucedidos, seja por influências e
intrusões ou por outras circunstâncias, Perón foi deposto por um golpe
de estado em 1955. Churchill também não escondeu sua alegria; "A queda
do tirano Perón na Argentina é a melhor reparação para o orgulho do
Império - o que tem para mim tanta importância quanto a vitória da
Segunda Guerra Mundial. As forças do Império Britânico não lhe darão
trégua nem descanso em vida, nem mesmo após a morte." Ao dizer que não
descansarão nem depois de morto, referem-se ao fato de que a conjuração
terminaria após demonizar sua memória, seja rotulando-o de ditador, seja
rotulando-o de militar nazista, seja rotulando-o de antidemocrático,
seja pela criação de uma frente antiperonista liderada pelo embaixador
americano Spruille Braden para derrubá-lo, seja pela subvenção e apoio
da União Soviética a grupos subversivos de ideologias marxistas que se
diziam os verdadeiros porta-vozes dos trabalhadores, mas não criaram
nada construtivo, apenas desordens e discórdias, ou seja pela fundação
de um partido peronista que nada tem a ver com as políticas econômicas
que Perón implementou, levando o país platino a uma crise perpétua sem
que ninguém saiba muito bem explicar o motivo e a razão dessa queda.
Assim, voltou-se à instabilidade social, que anda de mãos dadas com a corrupção e o subdesenvolvimento econômico e social.
Bibliografia:
"Una
propuesta para humillar España" Escrita en Gran Bretaña por una persona
de distinción. 1711 "Conferencia de Yalta". Churchill, Roosevelt y
Stalin. Del 4 al 11 de febrero de 1945
"Las Indias no era colonias" Ricardo Levene. 1951 "Breve historia del siglo XX" Fernando García de Cortázar. 1999
"Españoles que no pudieron serlo. La verdadera historia de la independencia de América" Jose Antonio Ullate Fabo. 2009
"La involución hispanoamericana. El caso argentino 1711-2010" Julio C. González. 2011
Blas de Lezo
Tradução e notas de José Octavio Dettmann
Fonte:
https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid02ZxW4iW7oCREj2G17pcBMQj9t8fNR1RGWtkRYmReGFu4k7wbSAcjrdzYhUnHMADxql&id=100043700872726
Notas
[1] A presente nota são comentários pontuais que faço a este parágrafo:
1.1)
Aqui, o autor do texto demonstra um tremendo desconhecimento da
História do Brasil: os portugueses não saíram matando e massacrando os
índios, como fizeram os franceses e britânicos. Muito pelo contrário:
eles faziam com que os melhores de sua gente se casassem com as filhas
dos chefes de suas tribos, a ponto de formar um povo mestiço que muito
contribuiu para a expansão da América Portuguesa, quando as duas Coroas
Ibéricas estiveram unificadas sob Felipe II, III e IV, entre os anos
1580 e 1640 de Nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, muitas tribos
daqui Brasil eram bárbaras e tinham o hábito de comer gente - como a
conversão dessa gente da fé cristã era difícil, muitos foram
escravizados em guerras justas, o que era legalmente admitido no direito
das gentes, ou mortos.
1.2) Além disso - por conta da enorme
distância que separa o Brasil de Portugal e por conta do enorme
território que o Brasil sempre teve -, sempre foi difícil manter ordem
neste território e fazer valer as ordenações filipinas nesta terra.
Neste sentido, estratégia de longo prazo de mudanças lentas, graduais e
seguras, sem gerar grandes traumas, precisaram ser criadas. Um exemplo
disto está na escravidão: seja ela de negros ou de índios: ela era
contrária à lei das ordenações e era contrária à lei da boa razão, que
mandava aplicar todos os princípios da fé católica onde direito romano
fosse contrário ao cristianismo. Como era difícil fazer valer a lei por
conta da enorme distância, a escravidão acabou se tornando a praxe
social nesta terra, um costume contra legem. Como os senhores de
escravos sempre alegavam nos tribunais direito de propriedade sobre a
gente cativa, surgiu-se o hábito de se fazer poupança de modo a se pagar
alforria - e a Caixa Econômica Federal, durante o Império, foi criada
para se contornar estes problemas. Até a abolição da escravatura, a
alforria já tinha criado toda uma sociedade de negros libertos e
prósperos, pois foi encontrada uma saída natural para o problema da
escravidão.
1.3) Isto, em parte, a gerou cultura do homem
cordial no Brasil - para soluções difíceis, onde você não pode bater
muito de frente com a ordem estabelecida e que está fundada naquilo que é
conveniente e dissociado da verdade, você precisa criar mecanismos de
defesa que te permitam sobreviver no longo prazo, de modo a se dar a
volta por cima. Quando você tiver condições de eliminar este adamastor,
você o esmaga tal qual uma barata. Esta solução é própria do jeito de
ser português, pois Portugal sem foi um país pequeno e a Espanha sempre
tentou tomá-lo de todas as formas. Para honrarmos a missão que recebemos
de Cristo, nós adotamos esta postura, que é nosso DNA cultural.
[2]
Exatamente o que vinha falando. A coroa portuguesa jamais permitiria
abusos contra os índios - ela sempre foi justa. A geografia do Brasil e
seu clima foram o maior obstáculo à aplicação da justiça naquele tempo.
Quando se diz que aqui é selva, não é a toa - a geografia moldou nosso
caráter por conta das circunstâncias.
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