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quarta-feira, 20 de março de 2024

Criando instabilidade nacional e produzindo subdesenvolvimento econômico e social, ao longo de dois séculos de constantes atos de apatria, indevidamente chamados de "independência"


A instabilidade permanente provoca a erosão da força de um país através de conflitos entre compatriotas de uma mesma terra: ela pode se dar entre o exército e o povo ou entre exércitos de Estados que mantêm a mesma cultura hispânica, visto que há pouco tempo faziam parte da mesma nação. As forças, que deveriam ser usada destinadas para garantir a unidade nacional, tiveram sua finalidade desviada e seu propósito esvaziado - por esta razão, elas foram desperdiçadas, a ponto de não haver na direção à concódia e ao bem-comum da América Espanhola. No processo de se tomar esta unidade como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo, o progresso neste senso, deste ideal de unidade, tem sido lento e tortuoso e às vezes o retrocesso se faz necessário de modo que as coisas façam sentido, pois o conservantismo dos revolucionários maçônicos é obstinado.

Esta é a visão que se tem de uma história de dois séculos de republicanismo supostamente independente, pois os períodos de estabilidade foram relativamente curtos: o que alguns governos fizeram de bom, outros desfizeram tudo o que de bom foi feito e e tentaram começar algo novo, de modo a romper com o passado, a partir do zero, tal como os revolucionários sempre fazem. E este ciclo parece não ter fim.

E como é possível que os espanhóis tenham construído em menos de três séculos uma civilização hispano-indiana repleta de cultura e riqueza, na qual o nível de vida de todas as classes sociais fosse superior ao das nações europeias da época? A resposta é simples; fazer prevalecer a paz social acima de todas as coisas.

Durante os tempos do vice-reinado – incorrectamente chamados de coloniais – e até às revoluções de independência do início do século XIX, os períodos de instabilidade foram muito poucos em comparação com os períodos de paz; Através de uma forte ética e moral católica, conseguiu-se a harmonia entre a conjunção do velho e do novo mundo na América Hispânica.Há inúmeros testemunhos e vestígios palpáveis ​​de tudo isto que podemos perceber se estivermos abertos ao conhecimento e à compreensão. Para dar um exemplo, no censo ordenado por Carlos III, no vice-reinado do Rio da Prata, dois terços da população eram descendentes diretos ou indiretos de guaranis, e longe de isso ser um problema, esta realidade era uma glória. Para deixar mais claro o motivo pelo qual a paz prevalecia nesta enorme diversidade, antes deste censo, se o próprio Imperador Filipe II tivesse sido questionado se se considerava hispanista, teria pensado que o seu interlocutor era louco, porque não só Ele era rei apenas dos hispânicos, mas também dos impérios incorporados dos Incas, dos Mexicas, dos descendentes dos Maias - cujas aristocracias ele foi incluído e considerado como tal -, dos Mapuches - cuja nação foi reconhecida e tratada pela Coroa Espanhola como tal-, etc. Esta é a enorme e substancial diferença que caracterizou a Monarquia Universal Católica em relação ao resto dos impérios à escala mundial; que se tratava de adicionar e não de subtrair, que se tratava de incluir e não de excluir ou de aniquilar como fizeram os franceses, portugueses e britânicos. [1]

Quão difíceis eram os trabalhos nas minas? Sim, obviamente o trabalho de um mineiro, nem agora nem antes, nunca foi fácil, mas eles não eram escravos como nos diz a Lenda Negra, recebiam um salário justo cujas contas podem ser consultadas nos arquivos históricos.

Que abusos houve? Pode até ter havido, mas estes não foram por ordem da Coroa ou das instituições do vice-reinado, mas por pessoas que agiram de forma totalmente ilegal e que, se fossem descobertas, seriam irremediavelmente processadas. Além disso, a história não pode ser feita com base nessas anedotas, uma vez que o positivo aspectos tantas vezes ignorados eram deslumbrantes em comparação com aqueles que cometeram seus delitos e violaram as Leis das Índias [2].

Assim, graças à estabilidade alcançada ao avançar sempre para o bem comum segundo os parâmetros estabelecidos pela religião católica, este mundo hispano-indígena prosperava em termos de recursos agrícolas, o que teve impacto na felicidade do seu povo, que tinha as necessidades primárias satisfatoriamente atendidas. Sobre o vice-reinado do Rio de la Plata (hoje Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai e parte do Chile) um alto comando britânico em 1711 escreveu os textos citados abaixo; De referir como curiosidade que os animais mencionados não são nativos do continente americano, foram espécies trazidas dos campos de Castela e Andaluzia; da atual Espanha.

“A felicidade deste país afortunado é inacreditável. Suas ricas planícies - que são as maiores do mundo, medindo cerca 50 ou 60 léguas de circunferência - estão tão cobertas de gado. Quem puder vê-las pessoalmente vai acabar acreditando.”

"…as perdizes custam um centavo a peça e a carne de vaca, de vitela, de cordeiro, de lebre, de coelho, de frangos, de aves selvagens et cetera têm um valor proporcional não só em relação à salubridade do clima mas também com as comodidades e bênçãos que a coroa espanhola oferece - benefício este não é extendido a toda a superfície do globo, por conta dos outros governos não seguirem o exemplo da Espanha. Não é à toa que esta terra é chamada de Buenos Aires". Até que um dia houve uma forte guinada no leme que nos fez desviar drasticamente daquele caminho.

Antes de tudo, deve-se notar que muitas das revoltas que hoje nos contam como "gritos de liberdade" foram, na verdade, levantes em defesa da fidelidade ao rei, assim como as Juntas que foram criadas, inicialmente, não foram formadas por interesses independentistas; ao contrário, em nome do rei Fernando VII, foram assinadas atas para preservar a ordem das coisas diante da invasão napoleônica na península ibérica, que ameaçava mudar tudo pelo qual as Índias Ocidentais haviam sido concebidas por decretos do irmão de Napoleão, José Bonaparte - o impopular "Pepe Botella". O que acontece é que mais tarde reescreveram a história para que parecesse um conflito de Espanha sim, Espanha não, quando na realidade nas revoluções chamadas de independência não foram enviados contingentes militares da metrópole ibérica, foram guerras entre os próprios americanos por uma questão de preservar os valores do antigo regime ou instaurar as idéias iluministas nascidas da Revolução Francesa de 1789.

As fundações das repúblicas hispano-americanas que hoje todos conhecemos não foram tão gloriosas e triunfante - elas não tinham aquele  ideal que nos querem fazer acreditar de povos que, outrora cativos e agora libertos do jugo espanhol, um diaalcançarão sua liberdade em união e harmonia. Pois esta união idílica é falsa! É uma grande utopia!

Esta visão simplista não corresponde a uma realidade de extremamente complexa; os títulos nobiliários e os privilégios dos povos originários foram abolidos, resultando na necessidade de se esmagar inúmeras revoltas todos aqueles que não aceitavam de forma alguma esses novos regimes; grandes somas de dinheiro foram solicitadas juntos aos banqueiros britânicos para colocar os novos Estados recém-criados em funcionamento (instituições, exércitos, funcionários, etc...) - o que nos asfixiou economicamente devido à enorme dívida que teve que ser paga desde então, por conta do peso desse aparato repressor; guerras tiveram que ser travadas com repúblicas vizinhas devido a desacordos sobre fronteiras que antes não existiam, bem como várias secessões formaram repúblicas a partir de outras repúblicas, afetando também o trânsito de gado e da população que antes podia se deslocar livremente de uma área para outra. Importantes grupos populacionais demandavam em vão que o rei da Espanha enviasse suas tropas para reunificar a Hispanoamérica - e o que era ruim ficou pior, pois todo o poder não era mais para alcançar a estabilidade política e a paz social de modo a beneficiar o bem comum; agora, todo o poder agora servia apenas para manter o próprio poder, como se ele tivesse um fim em si mesmo, e era necessário a todo custo garantir os frágeis laços que sustentavam as repúblicas surgidas a partir do nada, formadas em salas fechadas que documentavam solenemente o ato de apatria travestido de independência (atos estes que eram mais improvisados do que propriamente planejados e organizados). Todo o uso da autoridade era empregado para que os Estados recém-criados e seus sistemas, fundados no conservantismo político, não se desmoronassem - eles usavam mão-de-ferro e força militar para tal fim. Assim, a existência das repúblicas - cujo lema era "igualdade, liberdade e fraternidade" - era priorizada acima de tudo. Tal como disse o libertador San Martín: "Sejamos livres, o resto não importa" (ele primava pela independência, mas, quanto ao preço a ser pago por isso, não).

Passamos de sociedades com uma economia florescente onde o dinheiro fluía abundantemente devido ao intenso tráfico comercial com o Pacífico - o que incluía Filipinas, China Japão - e onde se cuidava para que a Inglaterra não expandisse seus tentáculos por meio de leis que proibissem o comércio com estes povos para uma sociedade dividida em diferentes Estados em constantes conflitos territoriais, que vivem em hostilidade entre si por conta dos sucessivos governos que usam a força para mantê-las sob controle, fortemente influenciada pelas potências estrangeiras. George Canning, em 1824, após assinar o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação com as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina, Uruguai e Bolívia), exclamou o seguinte no parlamento britânico; "O negócio está fechado, o prego no caixão está cravado! A Hispanoamérica é livre, desde que governemos segundo os interesses ingleses. Ele talvez disse isto a partir do momento em que os interesses ingleses já estavam consolidados na região.

Winston Churchill, outro líder proeminente da política britânica durante seus dois mandatos de 1940-1945 e 1951-1955, que desempenhou um papel significativo no pós-Segunda Guerra Mundial, ao lado de Roosevelt e Stalin, estava bem ciente de que estabilidade e progresso estão sempre interligados. Não se pode prosperar em uma luta constante de interesses criados; ao contrário, em tempos de paz, dá-se um grande passo à frente, pois todas as energias convergem sem obstáculos para melhorar as condições sócio-econômicas por meio do progresso. O enriquecimento de um afeta positivamente o enriquecimento do outro, resultando em benefícios para todos. Churchill transmitia essa ideia ao seu país, promovendo-a com as seguintes palavras:

"As antigas glórias da Igreja e do Estado, do Rei e da Pátria devem se reconciliar com a moderna democracia, pois não vejo motivo o povo trabalhador se tornar o principal defensor destas antigas instituições através das quais conquistaram suas liberdades e progressos. É esta união do passado e presente, da tradição e do progresso - esta corrente de ouro que nunca será quebrada porque não foi submetida a uma tensão excessiva - que constitui o mérito e a qualidade da vida nacional inglesa. Eis a razão da sua soberania".

Enquanto isso, na Argentina, o militar Juan Domingo Perón, presidente da república de 1946 a 1955, ao implementar uma política de proteção aos trabalhadores, ganhou grande popularidade ao satisfazer as classes médias, o que resultou em uma paz social na qual se alcançou um milagre; a Argentina passou de ser uma região fornecedora de recursos pecuários e agrícolas para potências anglo-saxônicas - como se tornou em decorrência do tratado de amizade, comércio e navegação mencionado anteriormente - a uma superpotência industrial com capacidade de tomar suas próprias decisões e poder suficiente para moldar seu futuro. É claro que esses não foram os planos reservados para a Argentina e o restante da Hispanoamérica (Latinoamérica) desde o início das proclamações de independência. Portanto, Winston Churchill deixou bem claro sua posição a esse respeito e as medidas a serem tomadas em consequência para restaurar o status quo anterior que beneficiava os interesses britânicos. Além disso, foi um acordo firmado junto com seus colegas vencedores da Segunda Guerra Mundial Roosevelt e Stalin - Estados Unidos e URSS, respectivamente - que pode ser lido na Conferência de Yalta de 1945, onde decidiram como seria o mundo pós-guerra:

"Não permitamos que a Argentina se torne uma potência, ela arrastará toda a América Latina consigo... A estratégia é enfraquecer e corromper internamente a Argentina, destruir suas indústrias, suas forças armadas, fomentar divisões internas apoiando grupos de direita e esquerda. Atacar sua cultura em todos os meios. Impor líderes políticos que respondam ao nosso império. Isso resultará na apatia do povo e em uma democracia controlável onde seus representantes levantarão suas mãos em massa, em servil submissão..."

Seja porque seus planos foram bem-sucedidos, seja por influências e intrusões ou por outras circunstâncias, Perón foi deposto por um golpe de estado em 1955. Churchill também não escondeu sua alegria; "A queda do tirano Perón na Argentina é a melhor reparação para o orgulho do Império - o que tem para mim tanta importância quanto a vitória da Segunda Guerra Mundial. As forças do Império Britânico não lhe darão trégua nem descanso em vida, nem mesmo após a morte." Ao dizer que não descansarão nem depois de morto, referem-se ao fato de que a conjuração terminaria após demonizar sua memória, seja rotulando-o de ditador, seja rotulando-o de militar nazista, seja rotulando-o de antidemocrático, seja pela criação de uma frente antiperonista liderada pelo embaixador americano Spruille Braden para derrubá-lo, seja pela subvenção e apoio da União Soviética a grupos subversivos de ideologias marxistas que se diziam os verdadeiros porta-vozes dos trabalhadores, mas não criaram nada construtivo, apenas desordens e discórdias, ou seja pela fundação de um partido peronista que nada tem a ver com as políticas econômicas que Perón implementou, levando o país platino a uma crise perpétua sem que ninguém saiba muito bem explicar o motivo e a razão dessa queda.

Assim, voltou-se à instabilidade social, que anda de mãos dadas com a corrupção e o subdesenvolvimento econômico e social.

Bibliografia:

"Una propuesta para humillar España" Escrita en Gran Bretaña por una persona de distinción. 1711 "Conferencia de Yalta". Churchill, Roosevelt y Stalin. Del 4 al 11 de febrero de 1945

"Las Indias no era colonias" Ricardo Levene. 1951 "Breve historia del siglo XX" Fernando García de Cortázar. 1999

"Españoles que no pudieron serlo. La verdadera historia de la independencia de América" Jose Antonio Ullate Fabo. 2009

"La involución hispanoamericana. El caso argentino 1711-2010" Julio C. González. 2011

Blas de Lezo

Tradução e notas de José Octavio Dettmann

Fonte: 

https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid=pfbid02ZxW4iW7oCREj2G17pcBMQj9t8fNR1RGWtkRYmReGFu4k7wbSAcjrdzYhUnHMADxql&id=100043700872726

Notas

[1] A presente nota são comentários pontuais que faço a este parágrafo:

1.1) Aqui, o autor do texto demonstra um tremendo desconhecimento da História do Brasil: os portugueses não saíram matando e massacrando os índios, como fizeram os franceses e britânicos. Muito pelo contrário: eles faziam com que os melhores de sua gente se casassem com as filhas dos chefes de suas tribos, a ponto de formar um povo mestiço que muito contribuiu para a expansão da América Portuguesa, quando as duas Coroas Ibéricas estiveram unificadas sob Felipe II, III e IV, entre os anos 1580 e 1640 de Nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, muitas tribos daqui Brasil eram bárbaras e tinham o hábito de comer gente - como a conversão dessa gente da fé cristã era difícil, muitos foram escravizados em guerras justas, o que era legalmente admitido no direito das gentes, ou mortos.

1.2) Além disso - por conta da enorme distância que separa o Brasil de Portugal e por conta do enorme território que o Brasil sempre teve -, sempre foi difícil manter ordem neste território e fazer valer as ordenações filipinas nesta terra. Neste sentido, estratégia de longo prazo de mudanças lentas, graduais e seguras, sem gerar grandes traumas, precisaram ser criadas. Um exemplo disto está na escravidão: seja ela de negros ou de índios: ela era contrária à lei das ordenações e era contrária à lei da boa razão, que mandava aplicar todos os princípios da fé católica onde direito romano fosse contrário ao cristianismo. Como era difícil fazer valer a lei por conta da enorme distância, a escravidão acabou se tornando a praxe social nesta terra, um costume contra legem. Como os senhores de escravos sempre alegavam nos tribunais direito de propriedade sobre a gente cativa, surgiu-se o hábito de se fazer poupança de modo a se pagar alforria - e a Caixa Econômica Federal, durante o Império, foi criada para se contornar estes problemas. Até a abolição da escravatura, a alforria já tinha criado toda uma sociedade de negros libertos e prósperos, pois foi encontrada uma saída natural para o problema da escravidão.

1.3) Isto, em parte, a gerou cultura do homem cordial no Brasil - para soluções difíceis, onde você não pode bater muito de frente com a ordem estabelecida e que está fundada naquilo que é conveniente e dissociado da verdade, você precisa criar mecanismos de defesa que te permitam sobreviver no longo prazo, de modo a se dar a volta por cima. Quando você tiver condições de eliminar este adamastor, você o esmaga tal qual uma barata. Esta solução é própria do jeito de ser português, pois Portugal sem foi um país pequeno e a Espanha sempre tentou tomá-lo de todas as formas. Para honrarmos a missão que recebemos de Cristo, nós adotamos esta postura, que é nosso DNA cultural.

[2] Exatamente o que vinha falando. A coroa portuguesa jamais permitiria abusos contra os índios - ela sempre foi justa. A geografia do Brasil e seu clima foram o maior obstáculo à aplicação da justiça naquele tempo. Quando se diz que aqui é selva, não é a toa - a geografia moldou nosso caráter por conta das circunstâncias.

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