Pesquisar este blog

sexta-feira, 13 de junho de 2025

A reciprocidade negada: reflexões sobre estudos de perfil e a virtude da estudiosidade nas redes sociais

Introdução

Vivemos numa era de constante exposição pública, em que a interação nas redes sociais acontece de maneira rápida, muitas vezes superficial, e desprovida de qualquer preparação prévia para o encontro de ideias. A presente reflexão nasce de uma experiência pessoal, relatada em meu próprio perfil no Facebook, sobre o modo como as pessoas têm se relacionado comigo na plataforma sem antes conhecer minimamente minha trajetória, meus gostos, ou minhas opiniões, todas elas acessíveis publicamente. Esta análise busca discutir, à luz de princípios éticos e filosóficos, o valor da estudiosidade no contexto digital e o problema da curiosidade ociosa.

O Problema da Curiosidade Superficial

Em primeiro lugar, destaco um comportamento recorrente: a prática de adicionar alguém em redes sociais sem o esforço mínimo de estudar previamente o perfil da pessoa. Em vez de percorrer meu histórico de postagens, meu blog ou mesmo observar as discussões que proponho, muitas pessoas se aproximam com perguntas rasas, movidas unicamente pela curiosidade desordenada. Este comportamento revela não só uma ausência de interesse real, mas também um desrespeito implícito ao tempo e ao esforço intelectual de quem se expõe publicamente.

A virtude da estudiosidade segundo São Boaventura

A ausência dessa preparação contrasta diretamente com o conceito de estudiosidade, tal como apresentado por São Boaventura. Para o Doutor Seráfico, a estudiosidade é uma virtude que modera e orienta o desejo de saber, contrapondo-se à curiosidade vã e ao desejo desordenado de informações irrelevantes. Enquanto a curiosidade move-se por impulso, sem finalidade reta, a estudiosidade é regida pela busca honesta da verdade, visando ao bem próprio e ao bem do próximo¹.

Ao analisar os perfis alheios com seriedade antes de estabelecer contato, pratico essa virtude. Antes de adicionar alguém, dedico-me a estudar tudo o que a pessoa escreveu, publicou ou compartilhou. Meu objetivo é abordar o interlocutor com propriedade, com perguntas pertinentes, fundadas em evidências, para estabelecer um diálogo respeitoso e produtivo.

A assimetria da reciprocidade

O que mais chama atenção, no entanto, é a assimetria desse processo. Embora eu pratique essa postura, raramente vejo os outros fazerem o mesmo comigo. Existe aqui uma negação da reciprocidade que considero fundamental nas relações humanas, especialmente quando se trata de interações intelectuais. Não é uma simples questão de etiqueta digital, mas de um princípio ético: se desejo que estudem meu perfil antes de iniciar uma conversa, também me esforço por fazer o mesmo.

O resultado dessa negligência é o surgimento de perguntas impertinentes, mal formuladas ou que já foram respondidas diversas vezes em meu blog ou em outras publicações. Essa falta de esforço torna a troca de ideias árida e, muitas vezes, infrutífera.

Conclusão

A experiência relatada serve como um alerta para todos que desejam cultivar relações mais profundas e significativas no ambiente digital. A virtude da estudiosidade, tão bem defendida por São Boaventura, deve ser resgatada como princípio orientador das nossas interações, sobretudo nas redes sociais, onde a tentação da superficialidade é constante.

Praticar a estudiosidade é, antes de tudo, um ato de caridade intelectual: significa respeitar o outro, reconhecer o esforço que ele fez para se expor, e responder-lhe com a mesma seriedade. Reciprocidade não é luxo; é requisito mínimo para qualquer diálogo que queira ser verdadeiro.

Referências

BOAVENTURA, São. Breviloquium. Petrópolis: Vozes, 1999.

SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001.

AQUINO, Felipe de. As Virtudes Fundamentais. Lorena: Cléofas, 2006.

Entre o subemprego e a morte interior: uma escolha consciente

Desde muito cedo, fui educado a acreditar que a estabilidade no funcionalismo público era uma espécie de redenção social. Para minha mãe e meu irmão, a ideia de "passar num concurso" sempre foi vista como o ápice da realização profissional. Um emprego estável, com salário fixo, benefícios garantidos e a sonhada aposentadoria ao final de décadas de serviço. O mito da segurança estatal sempre teve lugar cativo nas conversas de família.

Mas o que para eles soa como estabilidade, para mim soa como prisão. O que para eles representa "status" e "vitória", para mim representa o fim silencioso daquilo que há de mais essencial em mim: minha liberdade interior, minha integridade intelectual e a coerência com a verdade que procuro honrar todos os dias.

O Preço da Falsidade Cotidiana

Quem me conhece sabe: não sou movido por conveniências. Nunca fui. Tenho horror à ideia de fingir ser o que não sou para agradar chefias medíocres, cumprir metas artificiais ou participar de joguinhos de bastidores que sustentam a cultura do carreirismo barato. Entrar num ambiente dominado por esse ethos seria, para mim, pagar para trabalhar — e o preço não seria apenas financeiro. Seria existencial.

O dinheiro ganho ali acabaria escorrendo pelo ralo de consultas psiquiátricas, sessões de terapia, compra de remédios controlados ou, pior ainda, da completa dessensibilização da minha alma. Eu sei onde essa estrada termina: no esvaziamento interior. No tipo de morte que não é física, mas que consome a alma por dentro, devagar, até o ponto em que a pessoa já não sabe mais quem é.

O Tal "Subemprego"

Hoje, trabalho como escritor. Para minha mãe e meu irmão, isso é visto como "subemprego". Aos olhos deles, alguém com formação em Direito deveria estar "ganhando bem", de preferência com um crachá da administração pública no peito.

O que eles não entendem é que o que eles chamam de "subemprego" é, na verdade, o que me permite respirar, pensar e viver de forma coerente com o que acredito. É o que me permite servir a Cristo através da verdade, da palavra escrita, e da construção de um legado intelectual que, mesmo pequeno, é autêntico.

Cada linha que escrevo é fruto de um combate interior, de uma resistência contra essa cultura da conveniência, que conserva o que é cômodo e despreza o que é verdadeiro.

Publicar ou Perecer

Cheguei a um ponto em que a decisão é simples: vou publicar o meu trabalho. Quem quiser reconhecer o valor daquilo que produzo, ótimo. Quem não quiser, paciência. Não estou aqui para mendigar validação social de quem mede a vida pelos parâmetros de um contracheque estatal.

Aos que tentam me empurrar para essa direção, só tenho uma coisa a dizer, com toda a caridade possível, mas também com toda a firmeza que o momento exige: o lugar de quem conserva o que é conveniente e dissociado da verdade, especialmente em tempos de crise moral e cultural como os que vivemos, é no quinto dos infernos.

E eu não tenho nenhuma intenção de fazer companhia. 

Uma questão de honra

Minha luta não é contra a administração pública em si. Se um dia eu decidir entrar nesse mundo, será por uma decisão estratégica, consciente e com o claro propósito de manter minha integridade intacta. Não por medo, não por conveniência, e muito menos para agradar expectativas alheias.

Minha luta é contra a mediocridade. Contra o espírito de acomodação. Contra essa cultura que sufoca talentos, adoece consciências e transforma pessoas vivas em burocratas mortos-vivos.

Se for para viver, que seja com verdade.

Se for para morrer, que seja com honra.

Mas vender a alma por um salário no final do mês… isso nunca.

Referências Bibliográficas:

  • ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

  • CARVALHO, Olavo de. O Jardim das Aflições. Rio de Janeiro: Record, 1995.

  • SANTO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Tradução de Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2007.

Entre o jogo e a geopolítica: como antecipei a compra de uma expansão do The Sims 4 diante da tempestade econômica

Resumo:

O presente artigo tem caráter autobiográfico e versa sobre uma decisão de consumo aparentemente banal — a compra de uma expansão do jogo The Sims 4 — inserida num contexto de alta complexidade econômica e geopolítica. Argumenta-se que, ao antecipar a compra de Enchanted by Nature, feita em pré-venda e parcelada em 12 vezes, tomou-se uma posição estratégica diante da deterioração fiscal do governo brasileiro, da iminente reunião do COPOM em junho de 2025, e da eclosão do conflito entre Israel e Irã. Trata-se, portanto, de uma reflexão sobre consumo consciente, administração patrimonial e sensibilidade diante dos sinais do tempo.

Palavras-chave:
Inflação; Selic; Consumo Consciente; Geopolítica; Administração Patrimonial.

1. Introdução

A experiência de administrar o próprio dinheiro, em meio a um cenário de crise, revela muito sobre a relação entre o indivíduo e os grandes movimentos históricos. O que poderia ser apenas mais uma aquisição de lazer — a compra de uma expansão do jogo The Sims 4 — tornou-se para mim um exemplo emblemático de como se pode, com um mínimo de sensibilidade econômica e responsabilidade pessoal, transformar uma decisão de consumo em um ato de prudência.

2. O Jogo e as circunstâncias da compra

Em junho de 2025, optei por comprar na pré-venda a expansão Enchanted by Nature do The Sims 4. O valor total era de R$ 211,67, com a possibilidade de parcelamento em 12 vezes de R$ 17,64 no cartão de crédito. A compra foi realizada antes da reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM), agendada para os dias 17 e 18 do mesmo mês.

A decisão foi tomada à luz de três fatores: (1) a persistência de gastos descontrolados por parte do governo federal; (2) a eclosão de um conflito armado entre Israel e Irã, com repercussões diretas no mercado de petróleo e no câmbio; e (3) a expectativa de reversão na trajetória de queda da taxa Selic, que vinha sendo reduzida desde meados de 2023.

3. A tempestade econômica

Ao observar o cenário fiscal, percebia-se que o governo insistia em políticas expansionistas, ignorando o teto de gastos e promovendo desonerações sem ancoragem orçamentária. Isso fazia com que o mercado precificasse um aumento de risco, resultando em desvalorização cambial e pressão sobre a inflação¹.

A crise no Oriente Médio adicionava um ingrediente inflamável: o aumento do preço internacional do petróleo. Como o Brasil importa parte dos seus combustíveis e depende do dólar para precificar boa parte do comércio exterior, tal cenário acirrava as expectativas inflacionárias².

Diante disso, a atuação do Banco Central teria de ser mais firme, o que poderia implicar uma interrupção ou até reversão dos cortes da taxa básica de juros — a Selic³. Com a Selic mais alta, o crédito tende a encarecer e o consumo, a retrair. Preços de bens não essenciais, como jogos, também se ajustam a esse novo contexto.

4. O valor do parcelamento antecipado

A compra da expansão, feita em pré-venda, foi um ato de antecipação de consumo diante da expectativa de desvalorização monetária. Ao fixar um valor em 12 parcelas iguais, garanti não apenas o preço nominal atual, como também evitei estar sujeito à inflação futura ou à correção do preço em função do câmbio.

O parcelamento, nesse caso, agiu como uma espécie de "hedge" pessoal contra a elevação dos juros e da inflação. Ainda que o bem adquirido seja digital, sua precificação responde ao mercado internacional, tornando-o sensível às variações cambiais e aos humores da geopolítica.

5. Considerações Finais

Em tempos de instabilidade, pequenas decisões podem ter grandes significados. Ao antecipar o consumo de um bem supérfluo, agi com a racionalidade que aprendi a cultivar desde os tempos da hiperinflação brasileira. Saber ler os sinais do tempo, calcular o risco e manter o controle do próprio orçamento são práticas que, mais do que proteger, educam e dignificam.

Esse episódio me ensinou, mais uma vez, que a administração econômica do lar é o primeiro campo de batalha para quem deseja ser livre. Que venha a tempestade: eu já joguei meu dado.

Notas de Rodapé

  1. TESOURO NACIONAL. Boletim de Avaliação de Receitas e Despesas. Brasília: Ministério da Fazenda, 2025.

  2. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Relatório de Conjuntura Econômica - Maio de 2025. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025.

  3. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Inflação - 1º trimestre de 2025. Brasília: BCB, 2025.

Referências Bibliográficas

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Relatório de Inflação. Brasília: BCB, 2025. Disponível em: https://www.bcb.gov.br. Acesso em: 12 jun. 2025.

FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Boletim Macro IBRE. Rio de Janeiro: FGV/IBRE, 2025. Disponível em: https://portalibre.fgv.br. Acesso em: 12 jun. 2025.

TESOURO NACIONAL. Boletim de Avaliação de Receitas e Despesas. Brasília: Ministério da Fazenda, 2025. Disponível em: https://www.tesourotransparente.gov.br. Acesso em: 12 jun. 2025.

Wolność słowa a prawda jako fundament wolności: analiza moralnych granic dyskursu publicznego

Streszczenie:

Artykuł ten proponuje krytyczną refleksję nad zasadą wolności słowa, gdy zostaje ona oderwana od swojego ontologicznego fundamentu: prawdy. Z etycznej i filozoficznej perspektywy inspirowanej tomizmem analizowane jest niebezpieczeństwo bezkrytycznej obrony prawa do wypowiedzi, nawet gdy służy ona jedynie utrwalaniu błędu i rozpowszechnianiu tego, co wygodne, lecz fałszywe. Autor argumentuje, że wolność, oderwana od prawdy, przekształca się w samowolę, a ostatecznie – w tyranię.

Słowa kluczowe: wolność, prawda, wypowiedź, samowola, etyka chrześcijańska, filozofia polityczna.

1. Wstęp

Maksymę często przypisywaną Wolterowi — „Nie zgadzam się z tym, co mówisz, ale do śmierci będę bronił twojego prawa do mówienia tego” — przyjęto jako mantrę liberalnych demokracji. Niemniej jednak bezkrytyczne przyjęcie tej maksymy przyczyniło się do wyjałowienia pojęcia wolności, czyniąc ją podatną na wewnętrzną korozję poprzez relatywizm. Niniejszy artykuł ma na celu wykazanie, że wolność słowa, gdy zostaje oddzielona od prawdy, staje się nie tylko nieskuteczna, ale wręcz szkodliwa – przekształca się w narzędzie kulturowej i moralnej autodestrukcji.

2. Prawda jako fundament wolności

Według tradycji tomistycznej wolność to zdolność działania zgodnie z rozumem, a celem rozumu jest poznanie i przylgnięcie do prawdy. Dla św. Tomasza z Akwinu wolność bez odniesienia do prawdy jest fałszywą wolnością, prowadzącą do grzechu i nieładu:

„Właściwa wolność to wolność względem dobra; możliwość wyboru zła nie jest wolnością, lecz jej ułomnością.”¹

W tym sensie nie istnieje prawdziwa wolność tam, gdzie porzuca się dążenie do prawdy. Wolność nie polega na prawie do mówienia czegokolwiek, lecz na możliwości głoszenia tego, co sprawiedliwe, dobre i prawdziwe, nawet jeśli to kosztowne lub niepopularne.

3. Błąd jako pasożyt wolności

Bezwarunkowa obrona wolności słowa pozwala, aby błąd zajął miejsce prawdy w przestrzeni publicznej. Jak trafnie zauważył René Descartes, błąd nie istnieje sam z siebie, lecz stanowi wypaczenie prawdy². Dlatego pozwolenie, by błąd szerzył się na równi z prawdą, nie jest aktem sprawiedliwości, lecz zakamuflowaną formą niesprawiedliwości – stawiając kłamstwo na równi z prawdą.

Jan Paweł II w encyklice Veritatis Splendor ostrzega:

„Wolność nie jest celem samym w sobie, lecz środkiem do osiągnięcia prawdy i dobra.”³

Zatem obrona wolności bez kryteriów to często strzał we własną stopę. Uzbraja się wroga prawdy w narzędzia wolności, jakby dobro i zło mogły współistnieć w harmonii. 

4. Wolność, wygoda i tyrania

Gdy przestrzeń publiczna staje się miejscem konserwowania tego, co wygodne, lecz oderwane od prawdy – z powodów ideologicznych lub dla psychicznego komfortu – wolność słowa ulega wypaczeniu i staje się tyranią. Błąd, gdy zostaje zinstytucjonalizowany, ogranicza wolność tych, którzy pragną żyć w prawdzie, zastępując dobro konsensusem, sprawiedliwość nieograniczoną tolerancją, a mądrość wygodą.

Jak stwierdził Benedykt XVI:

„Bez prawdy wolność staje się arbitralną samodestrukcją.”⁴

Źle pojęta wolność staje się niewolą pożądań i mód. Dyskurs staje się teatrem próżności, gdzie wszyscy mówią, ale nikt nie jest zbawiony; gdzie każdy ma opinię, lecz nikt nie chce słuchać głosu prawdy.

5. Zakończenie

Wolność słowa nie jest wartością absolutną, lecz środkiem do urzeczywistnienia prawdy w życiu społecznym. Gdy społeczeństwo broni prawa do mówienia wszystkiego, włącznie z celowym błędem, rezygnuje z prawdziwej wolności i sieje tyranię relatywizmu. Nie chodzi tu o cenzurę, lecz o moralną hierarchię w korzystaniu z wolności: wypowiedź powinna być wolna, owszem, ale zawsze ukierunkowana na dobro wspólne i prawdę.

6. Wolność bez prawdy jako alkoholizm kulturowy: znieczulenie, które oślepia

Bezkrytyczna obrona wolności słowa, zwłaszcza w czasach kryzysu moralnego i społecznego, przypomina niepokojąco koncepcję Johna Maynarda Keynesa, który sugerował, że w czasie recesji państwo powinno sztucznie zwiększać wydatki, aby utrzymać obieg pieniądza. Gdy naród doświadcza „kaca”, lekarstwem ma być nowa porcja napojów. W ekonomii prowadzi to do cykli uzależnienia, zadłużenia i inflacji. W sferze moralnej zaś stosuje się ten sam schemat – więcej dyskursu, więcej pluralizmu, więcej „wolności”, choć pozbawionej osądu prawdy.

Taka strategia powtarzania błędu odsłania kulturowy alkoholizm. Społeczeństwo upaja się retoryką, ogłusza hałasem bezkrytycznych głosów, odwleka trzeźwość osądu na czas nieokreślony. Jak alkoholik pijący, by zapomnieć, że jest chory, tak ten nałogowo wolnościowy dyskurs mówi, by zapomnieć, że nie wie, co mówi. Krótkoterminowo daje wrażenie życia; długoterminowo — rozpuszcza więzi racjonalne i moralne podtrzymujące wspólnotę.

Rezultatem jest obraz zaczerpnięty z Eseju o ślepcu José Saramago: społeczeństwo, które traci wzrok nie przez uraz fizyczny, lecz wewnętrzny upadek. Ślepotą, która się szerzy, jest nie tylko brak światła zewnętrznego, ale odrzucenie światła wewnętrznego — prawdy. Źle pojmowana wolność działa jak wektor tej zbiorowej ślepoty: wszyscy mówią, ale nikt nie widzi; wszyscy mają opinie, ale nikt nie szuka mądrości; wszyscy żądają szacunku, ale niewielu uznaje dobro.

Taka kultura „elokwentnej ślepoty” podważa sam fundament wolności, bo wolność wymaga rozeznania, a rozeznanie — prawdy. Bez tego publiczny dyskurs zamienia się w moralną babel: wszystko dozwolone, ale nic niepojęte; krzyk zastępuje argument, a relatywizm instytucjonalizuje błąd jako pogląd zasługujący na równy status.

Bibliografia

  1. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Tłum. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001. I‑II, q. 18, a. 5.

  2. DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Tłum. Guedes Cruz. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.

  3. JAN PAWEŁ II. Veritatis Splendor. Watykan, 1993. Dostępne na: https://www.vatican.va. Dostęp: 13 cze. 2025.

  4. BENEDYKT XVI. Przemówienie w parlamencie niemieckim, Berlin, 22 września 2011. Dostępne na: https://www.vatican.va. Dostęp: 13 cze. 2025.

  5. SARAMAGO, José. Esej o ślepocie. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

  6. KEYNES, John Maynard. Teoria ogólna zatrudnienia, procentu i pieniądza. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

A liberdade de expressão e a verdade como fundamento da liberdade: um exame dos limites morais do discurso público

Resumo: 

Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre o princípio da liberdade de expressão quando esta é desvinculada do seu fundamento ontológico: a verdade. A partir de uma perspectiva ética e filosófica de inspiração tomista, examina-se o perigo de se defender indiscriminadamente o direito ao discurso, mesmo quando este serve apenas para conservar o erro e propagar o que é conveniente, mas falso. Argumenta-se que a liberdade, quando separada da verdade, transforma-se em licenciosidade e, em última instância, em tirania.

Palavras-chave: liberdade, verdade, expressão, licenciosidade, ética cristã, filosofia política.

1. Introdução

A máxima frequentemente atribuída a Voltaire — “Posso não concordar com o que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo” — tornou-se um mantra das democracias liberais. Contudo, a adoção acrítica dessa máxima tem contribuído para um esvaziamento do conceito de liberdade, tornando-o vulnerável à corrosão interna pelo relativismo. Este artigo busca demonstrar que a liberdade de expressão, quando descolada da verdade, não apenas se torna inócua, mas nociva, transformando-se em instrumento de autodestruição cultural e moral.

2. A verdade como fundamento da liberdade

Segundo a tradição tomista, a liberdade é a capacidade de agir segundo a razão, e a razão tem por fim conhecer e aderir à verdade. Para Santo Tomás de Aquino, a liberdade sem ordenação à verdade é uma falsa liberdade, que conduz ao pecado e à desordem:

“A liberdade propriamente dita é a liberdade em relação ao bem; a possibilidade de escolher o mal não é liberdade, mas defeito da liberdade.”¹

Nesse sentido, não existe verdadeira liberdade onde se abdica da busca pela verdade. A liberdade não é o direito de dizer qualquer coisa, mas a possibilidade de dizer o que é justo, bom e verdadeiro, ainda que isso seja custoso ou impopular. 

3. O erro como parasita da liberdade

Ao se defender indiscriminadamente a liberdade de expressão, permite-se que o erro tome o lugar da verdade nos espaços públicos. O erro, como bem observa René Descartes, não tem existência própria, mas é uma corrupção da verdade². Assim, permitir que o erro se propague como se fosse legítimo não é um ato de justiça, mas uma forma disfarçada de injustiça — pois coloca a mentira em pé de igualdade com a verdade.

O Papa João Paulo II, na encíclica Veritatis Splendor, adverte:

“A liberdade não é em si mesma um fim, mas um meio para alcançar a verdade e o bem.”³

Portanto, defender a liberdade sem critério é, muitas vezes, dar um tiro no próprio pé. Trata-se de armar o inimigo da verdade com as ferramentas da liberdade, como se o bem e o mal pudessem coexistir em harmonia.

4. Liberdade, conveniência e tirania

Quando o discurso público se torna um espaço onde se conserva o que é conveniente e dissociado da verdade — seja por interesse ideológico, seja por conforto psicológico — a liberdade de expressão se perverte em tirania. Isso porque o erro, ao ser institucionalizado, tolhe a liberdade dos que querem viver na verdade, substituindo o bem pelo consenso, a justiça pela tolerância irrestrita, e a sabedoria pela conveniência.

Como afirma Bento XVI:

“Sem a verdade, a liberdade se torna um arbítrio autodestrutivo.”⁴

A liberdade mal compreendida se torna escrava dos apetites e dos modismos. O discurso se torna um teatro de vaidades onde todos falam, mas ninguém é salvo; onde todos opinam, mas ninguém quer ouvir a voz da verdade.

5. Conclusão

A liberdade de expressão não é um valor absoluto, mas um meio ordenado à realização da verdade no convívio social. Quando a sociedade defende a liberdade de dizer o que for, inclusive o erro deliberado, ela abdica da liberdade verdadeira e semeia a tirania do relativismo. Não se trata, portanto, de censura, mas de uma hierarquia moral no uso da liberdade: o discurso deve ser livre, sim, mas sempre ordenado ao bem comum e à verdade.

6. Liberdade sem verdade como alcoolismo cultural: a anestesia que cega

A defesa indiscriminada da liberdade de expressão, especialmente em tempos de crise moral e social, guarda semelhança inquietante com o raciocínio de John Maynard Keynes ao propor que, em momentos de recessão econômica, o Estado deveria estimular os gastos públicos mesmo artificialmente, como forma de manter a circulação. Quando os povos estão de "ressaca", diz-se, o remédio seria uma nova bebedeira. No plano econômico, isso conduz a ciclos de dependência, endividamento e inflação. No plano moral, aplica-se o mesmo princípio com resultados análogos: diante da falência ética, estimula-se mais discurso, mais pluralismo, mais "liberdade", ainda que desvinculada de qualquer juízo de verdade.

Essa espécie de solução baseada na repetição do erro revela-se um verdadeiro alcoolismo cultural. A sociedade embriaga-se de retórica, anestesia-se com o ruído de mil vozes, e adia indefinidamente a sobriedade do juízo. Tal como o alcoólatra que bebe para esquecer que está doente, a cultura viciada em liberdade sem verdade fala para esquecer que não sabe mais o que diz. A curto prazo, essa embriaguez confere a ilusão de vitalidade; a longo prazo, dissolve os vínculos racionais e morais que sustentam a vida comum.

O resultado é o que José Saramago figurou em Ensaio sobre a cegueira: uma sociedade em que todos perdem a visão, não por lesão física, mas por colapso interior. A cegueira que se espalha não é apenas falta de luz exterior, mas recusa da luz interior — isto é, da verdade. A liberdade mal compreendida age como vetor dessa cegueira coletiva: todos falam, mas ninguém enxerga; todos opinam, mas ninguém busca a sabedoria; todos exigem respeito, mas poucos reconhecem o bem.

Essa cultura da "cegueira eloquente" mina o próprio fundamento da liberdade, pois a liberdade exige discernimento, e o discernimento exige verdade. Sem isso, o discurso público transforma-se em uma babel moral, onde tudo é permitido, mas nada é compreendido; onde o grito substitui o argumento, e o relativismo institucionaliza o erro como se fosse opinião legítima.

Referências

  1. AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Corrêa. São Paulo: Loyola, 2001. I-II, q. 18, a. 5.

  2. DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Trad. Guedes Cruz. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1997.

  3. JOÃO PAULO II. Veritatis Splendor. Vaticano, 1993. Disponível em: https://www.vatican.va. Acesso em: 13 jun. 2025.

  4. BENTO XVI. Discurso no Parlamento Alemão, Berlim, 22 de setembro de 2011. Disponível em: https://www.vatican.va. Acesso em: 13 jun. 2025.

  5. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

  6. KEYNES, John Maynard. Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. São Paulo: Nova Cultural, 1996.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

🕯️ Conservar a dor de Cristo: fundamento eucarístico do verdadeiro conservadorismo

 

“Fazei isto em memória de mim.” (Lc 22,19)

No tempo presente, em que a palavra “conservadorismo” circula com uma mistura de respeito e escárnio, torna-se necessário esclarecer o que, de fato, merece ser conservado — e, sobretudo, em que espírito essa conservação deve ocorrer. A maior parte das correntes autodenominadas conservadoras não passa de conservantismo: um esforço estéril de manter estruturas de conveniência, identidade cultural ou estabilidade social, ainda que todas elas estejam dissociadas da verdade. Como advertia Olavo de Carvalho, trata-se de um conservadorismo de “condomínio”: uma adesão social e estética, não moral nem espiritual¹.

Mas há um conservadorismo verdadeiro, nascido não da conveniência, mas da dor de Cristo. E, por isso mesmo, ele só é possível a partir da Eucaristia, onde essa dor é conservada de modo real, sacramental e operante. A Eucaristia é definida pelo Concílio Vaticano II como “fonte e ápice da vida crist㔲. Aqui está o coração da questão: o autêntico conservadorismo é eucarístico.

🌾 A Eucaristia: Conservação viva da Verdade que sangra

Quando Cristo nos ordena “fazei isto em memória de mim”, Ele institui o memorial de Sua Paixão não como uma lembrança passiva, mas como uma atualização sacramental do seu sacrifício eterno. No sentido hebraico, essa “memória” (zikkaron) é uma atualização operante dos eventos salvíficos³.

A Missa não é uma lembrança do passado, mas a presença real da oblação eterna do Cordeiro de Deus. Bento XVI sintetizou isso ao dizer: *“A Eucaristia arrasta a história para o interior da oblação de Cristo”⁴. Conservar a dor de Cristo, portanto, é tornar-se parte viva desse sacrifício que santifica o tempo.

⚔️ O falso conservantismo: culto da conveniência sem cruz

Em contraste, o conservantismo é a conservação do que é útil, tradicional ou familiar, mesmo quando isso já se desvinculou da verdade. É o conservadorismo dos fariseus, denunciado por Jesus: “Este povo me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim” (Mt 15,8). Os fariseus conservavam a Lei, mas sem obedecer ao Verbo.

O conservantismo é a idolatria da ordem aparente, o apego ao costume pelo costume, a rigidez como máscara da infidelidade. Trata-se de uma tradição morta, que não passa pela cruz e não se submete à Eucaristia. 

🕊️ Conservar é adorar

O verdadeiro conservador é, por sua vez, um adorador eucarístico. O Catecismo da Igreja Católica ensina que a Eucaristia “torna presente o sacrifício da cruz”⁵. Conservar a dor de Cristo é tornar-se sacerdote da própria vida, oferecendo-se em sacrifício espiritual, em união com o Cordeiro.

Conservar, nesse sentido, é:

  • Guardar a presença de Cristo com temor e tremor;

  • Viver em estado de oblação contínua;

  • Submeter todos os critérios morais e sociais à Cruz;

  • Recusar qualquer tradição que não passe pelo crivo do Evangelho.

A Tradição viva da Igreja exige um conservador que não seja um “curador de museu”, mas um “portador da luz”, disposto a sofrer com Cristo para que a verdade permaneça.

🧭 A história como lugar da memória redentora

Antes da vinda de Cristo, tudo o que se conservava — ainda que sensato — permanecia sem redenção. A filosofia grega, por exemplo, intuía que “a verdade conhecida é verdade obedecida” (como ensinava Platão), mas não possuía os meios sobrenaturais para obedecer plenamente.

Somente em Cristo a verdade se torna carne, e com ela vem a graça para obedecer. Blaise Pascal compreendeu isso ao escrever: *“Não conhecemos Deus senão por Jesus Cristo”⁶. A Eucaristia, nesse sentido, introduz a eternidade no tempo, e faz da história o lugar onde a dor redentora é conservada.

🛡️ Conclusão: traduzir a tradição em sacrifício pessoal

Não basta conservar ideias, símbolos ou instituições. É necessário conservar a ferida aberta do lado de Cristo, pela qual jorra a salvação. Isso exige sofrimento, vigilância e uma adesão amorosa ao mistério da Cruz. Como ensinava São Tomás, a verdade é “a adequação da mente à realidade”⁷ — e a realidade redentora de Cristo nos obriga ao sacrifício.

Portanto, conservadorismo é vocação eucarística. É fidelidade ao sacrifício de Cristo, renovada em cada Missa e vivida na carne de cada fiel. Quem não compreende isso não passa de guardião do túmulo vazio. Mas quem conserva a dor de Cristo, esse conserva a eternidade no tempo — e transforma o mundo à imagem do Crucificado.

📚 Referências 

  1. CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro: Record, 2013.

  2. CONCÍLIO VATICANO II. Lumen Gentium. In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1999.

  3. RATZINGER, Joseph (Bento XVI). Introdução ao espírito da liturgia. São Paulo: Loyola, 2001.

  4. Idem, ibidem.

  5. IGREJA CATÓLICA. Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.

  6. PASCAL, Blaise. Pensamentos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. (Coleção Os Pensadores).

  7. SÃO TOMÁS DE AQUINO. De Veritate. Tradução parcial disponível em: https://www.documentacatholicaomnia.eu.

  8. BÍBLIA SAGRADA. Tradução da CNBB. São Paulo: Edições CNBB, 2008.

A autossuficiência do capital: como um produto parcelado pode se autopagar quatro vezes usando apenas os juros da poupança

Resumo

Este artigo demonstra, por meio de uma simulação prática, como um produto adquirido por meio de parcelamento pode se autopagar diversas vezes no longo prazo, utilizando unicamente os rendimentos mensais provenientes de uma aplicação conservadora como a caderneta de poupança. O estudo propõe uma lógica de autofinanciamento baseada na disciplina financeira, na separação entre capital e rendimento, e na utilização racional do tempo como vetor de multiplicação patrimonial.

Palavras-chave: finanças pessoais; juros compostos; autofinanciamento; capital; disciplina financeira.

1. Introdução

Em um contexto onde o consumismo imediato predomina sobre a paciência e o planejamento financeiro, a aplicação disciplinada de princípios básicos como “não gastar o capital, mas apenas os frutos” pode conduzir a resultados surpreendentes. Conforme ensina Bastiat (2019, p. 41), “no início há uma diferença imperceptível entre o que destrói e o que preserva, mas essa diferença se aprofunda com o tempo”¹.

Este artigo pretende mostrar, com base nesse princípio, como é possível adquirir um bem e, sem nenhum aporte adicional, permitir que ele se pague múltiplas vezes no decorrer do tempo — utilizando apenas os rendimentos da poupança.

2. Premissas da Simulação

Considera-se o seguinte cenário hipotético, mas verossímil no contexto brasileiro:

  • Um capital investido em poupança, cuja remuneração mensal líquida é de R$ 60,00;

  • Um produto no valor de R$ 240,00, parcelado em 12 vezes de R$ 20,00;

  • O capital principal permanece intocado, e o consumidor compromete-se a utilizar apenas o rendimento mensal da aplicação.

Essa premissa corresponde ao que Frugoli (2014) chama de “conservadorismo funcional”, ou seja, uma atitude de contenção ativa que permite a prosperidade sustentada ao longo do tempo².

3. Capacidade de autofinanciamento

Ao assumir uma prestação mensal de R$ 20,00, o investidor compromete apenas um terço do rendimento mensal (R$ 60,00). Isso deixa um excedente de R$ 40,00/mês que continua sendo acumulado.

Ao final dos 12 meses:

  • Total pago pelo produto: R$ 240,00

  • Total acumulado com os excedentes: R$ 40,00 × 12 = R$ 480,00

  • Capital principal da poupança: preservado

Essa estrutura permite que, em um único ciclo de 12 meses, o consumidor:

  1. Quite o produto adquirido;

  2. Acumule o dobro do valor pago, apenas com os rendimentos restantes;

  3. Esteja apto a adquirir dois produtos iguais à vista, caso deseje;

  4. Recomece o ciclo com o capital intacto e, portanto, perpetuamente funcional. 

4. A lógica do "produto que se autopaga quatro vezes"

A expressão “se autopaga em quatro vezes” refere-se ao seguinte:

  • 1x: o produto comprado foi quitado com os juros;

  • 2x e 3x: os juros remanescentes permitiriam comprar o mesmo produto mais duas vezes;

  • 4x: o capital original permanece intacto, pronto para reiniciar o mesmo processo.

Ou seja, a disciplina de viver dos frutos e não tocar a raiz torna o capital uma fonte renovável de riqueza. Segundo Mises (2010, p. 376), “o capital acumulado é um bem que reproduz outros bens”³. A chave é não destruí-lo com gastos imediatistas.

5. Considerações sobre o tempo como multiplicador

Seja por hábito ou por necessidade, grande parte da população brasileira ignora a importância do tempo como fator multiplicador do capital. Ainda que o rendimento mensal de R$ 60,00 pareça pequeno à primeira vista, quando usado com inteligência e disciplina, ele permite a formação de patrimônio real e autossustentável.

Como ensina Leandro Narloch (2018, p. 193), “não são os grandes salários que fazem um rico; é o tempo que se tem o hábito de poupar e investir”⁴. O exemplo aqui apresentado demonstra essa verdade de forma objetiva e acessível.

6. Conclusão

Neste estudo, mostramos que o simples ato de manter o capital aplicado e gastar apenas os frutos permite não apenas a aquisição de bens, mas a multiplicação patrimonial no tempo. Um único produto comprado pode se "autopagar" quatro vezes: uma vez por ser quitado com os juros, duas vezes pelos juros excedentes, e mais uma vez pela preservação do capital que continuará rendendo.

A lógica é simples, mas exige uma atitude racional, paciente e disciplinada diante do consumo. Numa era de consumo acelerado e crédito fácil, talvez este seja o verdadeiro luxo: fazer o tempo trabalhar a seu favor.

Notas de rodapé

  1. Conforme Bastiat (2019), ao comparar os efeitos imediatos e de longo prazo de decisões econômicas.

  2. Frugoli (2014) utiliza o termo “frugalidade racional” para descrever escolhas conscientes que visam à estabilidade.

  3. Mises (2010) defende o capital como bem reprodutivo por excelência.

  4. Narloch (2018) critica o modelo mental que valoriza o ganho imediato em detrimento do acúmulo no tempo.

Referências

BASTIAT, Frédéric. Aquilo que se vê e aquilo que não se vê. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2019.

FRUGOLI, Bruno. Finanças pessoais e o valor do tempo. Rio de Janeiro: Gente, 2014.

MISES, Ludwig von. Ação Humana: Um tratado de economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da economia brasileira. São Paulo: Leya, 2018.