Por volta das três da manhã, enquanto grande parte do mundo ainda repousa sob o manto do sono, levanto-me para iniciar minha jornada como escritor. Para muitos, esse horário pareceria insano ou excessivo, mas, para mim, é um ato de santificação. É nesse silêncio, onde o tempo parece sagrado, que dou os primeiros passos do dia no exercício do ofício que, para mim, é vocação: escrever e traduzir textos como forma de servir a Cristo em terras distantes.
Essa rotina não é regida apenas por disciplina, mas por um entendimento mais profundo, que une teopolítica e geopolítica do horário nobre. A teopolítica — a política orientada pela soberania de Deus — dá sentido à missão: servir a Cristo com a inteligência, a palavra e o trabalho bem feito. A geopolítica do horário nobre — a estratégia de comunicar no tempo certo, para os povos certos, nos fusos corretos — é o corpo tático dessa missão.
O Primeiro Horário Nobre: Extremo Oriente e Leste da Austrália
Às sete da manhã, no horário de Brasília, começa o primeiro horário nobre do meu calendário: Japão, Coreia do Sul, os Tigres Asiáticos e o Leste da Austrália estão no auge do seu dia. Escrevo com eles em mente. Meus textos seguem como sementes plantadas em terras onde o sol já arde alto. A palavra escrita torna-se presença, missão e ponte entre mundos. Mesmo sem ter pisado fisicamente em solo asiático, estou lá, nos méritos de Cristo, por meio do que escrevo.
O Segundo Horário Nobre: Oriente Médio e Laços de Sangue
Às onze da manhã, é a vez do Bahrein — terra onde vive meu irmão com sua família. Aqui, a geopolítica se mistura ao afeto, à carne, ao sangue. O horário nobre do Golfo Pérsico representa mais que uma janela cultural: é uma extensão da casa paterna. Se eu tivesse contatos no Líbano, sei que muitos compreenderiam meus textos em português — a diáspora libanesa no Brasil construiu um elo que a distância jamais quebrou. Servir com a palavra nesse contexto é também honrar a memória familiar e os vínculos que atravessam gerações. Não me esqueço de que minha sobrinha carrega, em seu sangue, a herança libanesa — e isso também dá sentido à missão.
O Terceiro Horário Nobre: Europa Latina, Germânica e Eslava
Às duas da tarde, o foco muda para a Europa. A tarde europeia pede leitura e reflexão. Publico então para os países de língua latina, germânica e para a Polônia, terra de São João Paulo II, que tenho aprendido a amar como uma segunda pátria espiritual. O cristianismo europeu, apesar das crises culturais, ainda pulsa nas entrelinhas de suas línguas, e por isso insisto em enviar minha contribuição — como um missionário que fala várias línguas para alcançar um só coração: o de Cristo.
O Quarto Horário Nobre: Brasil e América do Sul
Às dezenove horas, volto meu olhar para casa. Brasil e Argentina, que compartilham o mesmo fuso, recebem minha palavra no horário mais simbólico do dia: o entardecer, quando o povo retorna do trabalho e busca sentido, repouso ou direção. Minha missão se intensifica aqui, pois escrevo para um povo que ainda luta por compreender sua identidade à luz da verdade. Nos méritos de Cristo, minha palavra deseja iluminar, corrigir, consolar.
O Quinto Horário Nobre: A Diáspora Brasileira e os Estados Unidos
Às vinte horas, publico para brasileiros que vivem na Flórida, em Framingham e outras regiões marcadas pela emigração. É como se minha escrita batesse à porta de seus lares, falando-lhes na língua da infância, da fé e da saudade. Para Nova Iorque e Chicago, falo em polonês. Para o restante dos Estados Unidos, publico em inglês. A teopolítica aqui se manifesta em sua forma mais clara: adaptar a linguagem sem perder o conteúdo, para que Cristo seja conhecido, amado e servido em qualquer idioma.
A Palavra Escrita como Apostolado
Essa rotina não é fruto de vaidade, mas de um voto interior: multiplicar os talentos que recebi e devolvê-los a Deus, santificando-me através do trabalho intelectual. A palavra é meu campo de batalha e meu altar. O tempo, medido pelos fusos horários, é o ritmo desse sacrifício. Não escrevo para agradar algoritmos, mas para tocar consciências — mesmo que seja apenas uma por vez.
Servir a Cristo em terras distantes com a palavra escrita é uma forma de viver a universalidade da Igreja. É fazer do teclado um púlpito, do texto um sacramento de presença, da rotina um ritual de fidelidade. Cada idioma que aprendo, cada fuso que estudo, cada leitor que alcanço é parte de um mistério maior: o de que toda verdade vem de Deus e a palavra justa, dita no tempo certo, pode salvar uma alma.