1) Quando o idealismo alemão, de Kant e Hegel, esteve em seu auge, os filósofos daquele tempo tiveram a audácia de dizer que, fora o grego, o alemão era a língua da filosofia por excelência e que o conhecimento de nenhuma outra língua seria útil o bastante para se fazer uma boa filosofia. Quanta arrogância!
2.1) Não é toa que foi na Alemanha que a palavra revolução sempre teve relação com ruptura violenta, com derramamento de sangue, pois todo ato político violento é motivado por um ato inspirado em Chronos, esse demônio que age pela gula a ponto de consumir tudo o que é material, a ponto de corroer tudo que há de mais sagrado.
2.2) Por isso, o sentido germânico da palavra revolução sempre está vinculado ao aspecto cronológico do tempo, a ponto de gerar um senso de materialismo histórico. A dialética, outra marca do idealismo alemão, ela cria o relativismo moral, já que é filha do liberalismo, onde o homem, inspirado em Lúcifer, não serve a Deus. Não é à toa que a expressão time is money é a que personifica esse horror metafísico do nosso tempo, a ponto de abrir os caminhos para o comunismo.
3.1) Em contraponto a Chronos, nós temos o tempo como a plenitude de todas as coisas, onde cada época das nossas vidas e das gerações humanas é marcada em ciclos. Quando um ciclo termina, um outro começa, a ponto de renovar todas as coisas e dar sentido de organicidade às coisas, já que a verdade é o fundamento da liberdade, pois tudo isso se funda em Deus.
3.2) O tempo como plenitude das coisas, onde as realizações humanas do passado oferecem um desafio à gula insaciável de Chronos, isso tudo está representado em Kairós - e esse deus da Grécia Clássica foi a prefiguração do que viria a ser Cristo para nós todos hoje.
4.1) É do tempo como plenitude das coisas que a república romana evoluiu para uma organização política superior, a ponto de se tornar um império - e nela patrícios e plebeus, em concórdia, trabalhavam visando ao bem comum e à glória de Roma.
4.2) A corporação de ofício nasceu neste contexto, marcando uma verdadeira revolução, a ponto de estabelecer um marco entre o fim da República e o começo do Império, dando início a uma nova era histórica e com ela novas possibilidades de santificação através do trabalho e de se tomar o pais como um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo. E não foi à toa que isso se concretizou quando César deu lugar a Cristo como verdadeiro Deus e verdadeiro Homem que governa a todos no Império Romano, fazendo com que a ordem do Império Romano se transmutasse na ordem da Jerusalém Celeste, a ponto de seus princípios estarem escritos na Doutrina Social da Igreja Católica.
4.3.1) Por esse motivo, a revolução no sentido romano do tempo sempre será marcada pelo tempo kairológico, pelo tempo como plenitude das coisas, na forma de ciclos.
4.3.2) Na História do Brasil tivemos, desde o tempo em que fomos parte do Reino de Portugal até os tempos atuais, diferentes eras de santificação através do trabalho, a ponto de fazer do pau-brasil, do açúcar, do ouro, do café e da soja a base da nossa economia, estabelecendo diferentes ciclos econômicos. Durante cada ciclo econômico, diferentes tipos de sociedade existiram e o sentido delas fazia sentido aos olhos de Deus por conta desse tipo de santificação, a ponto de assumir um caráter civilizatório.
4.3.3.1) Quando estes ciclos se encerravam, as sociedades iam se reorganizando de modo a encontrarem o sentido de sua existência em outra atividade economicamente organizada, o que abria caminho para novas formas de atividades salvíficas, uma vez que Cristo estabeleceu para nós a missão de ir servir a Cristo em terras distantes por meio dessa forma, que tende a se renovar a cada ciclo econômico, que é também salvífico.
4.3.3.2) Os ciclos podem até passar ou mesmo se repetir, mas o mais importante é que as pessoas se santifiquem através do trabalho e se tornem plenas de Cristo nele - se o ciclo terminar, elas buscarão um outro caminho, pois sempre haverá a Santa Mãe Igreja para ajudá-los em tempos de crise, pois é nesse tempo que as pessoas se dispersarão em terras distantes de modo a ocupá-las e povoá-las, de modo a integrá-las a este império de cultura fundado na verdade como sendo o fundamento da liberdade.
4.3.3.3) Quando estas terras estão integradas nesse propósito salvífico, sempre haverá a possibilidade da reunião do que estava disperso, a ponto de trazer novos conhecimentos e novas experiências de outros lugares de modo a estabelecer novas atividades econômicas organizadas, criando novas possibilidades de se criar riqueza, a ponto de abrir novos ciclos econômicos, quando do seu estabelecimento bem-sucedido, uma vez que o povo que habita esses diferentes lugares é tomado como parte da mesma família.
4.3.3.4) É neste sentido que a palavra Revolução tem uma profunda relação com a transcendência ou com a excelência, já que todos os caminhos levam à Roma. Nela, a verdade é o fundamento da liberdade a ponto de a ordem fundada no verdadeiro Deus e verdadeiro Homem ser o verdadeiro sentido da História, já que Cristo é o juiz da História de todos os povos e de todas as nações. E neste ponto, o mundo é essencialmente o mundo greco-romano elevado à condição de Jerusalém Celeste, o que prefiguraria o Reino Latino de Jerusalém, e não o suposto mundo judaico-cristão ocidental como muitos falam, inspirado nas narrativas maçônicas e no exemplarismo puritano e americano, marcadamente revolucionário no sentido germânico do termo, que nega aquilo que pretendem afirmar.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 20 de agosto de 2021 (data da postagem original).