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domingo, 18 de março de 2018

Como o avanço da técnica fez com que a capitalização se pervertesse numa usura: o caso da agricultura e da edição de livros

1) Existem dois tipos de reprodução: a que se dá por força da natureza e a que se dá por mãos humanas.

2.1) A reprodução por força da natureza tem a tendência de melhorar a qualidade genética de uma espécie de planta ou de animal.

2.2) Para se melhorar constantemente a qualidade, é preciso que se faça uma seleção constante de modo que as melhores sementes sejam entregues de modo a se pagar os juros devidos num empréstimo de sementes.

2.3) Essa seleção é feita pelos laboratórios, criando um registro de patentes na forma de cultivar - como esses laboratórios concentram bens e riqueza em poucas mãos, elas acabam sabotando a economia agrícola, criando uma cultura de usura, por força do constante avanço tecnológico, fazendo com que o aprimoramento da força vital das sementes fosse monetizado, por se tratar de serviço interessado com lucro e não para aperfeiçoar a obra de Deus. Isso cria um conflito de interesse que faz com que o Estado tenha de legislar sobre todo e qualquer aspecto do direito autoral, seja na criação de tecnologia nova, seja na edição de livros novos.

3.1) A cópia que se dá por mão humana, como vemos nos livros fabricados pelos monges copistas, tende a ser uma reprodução de uma peça original, que lhe serve de modelo. Ela visa não só a preservar o que se conhece, em caso de perda, mas também serve para disseminar conhecimento, embora de uma maneira muito lenta. Mas tudo muda a partir do momento em que se surge a imprensa e acelera a disseminação do saber, criando um verdadeiro conflito de interesses, por força da contrafação ou por força do contrabando de livros censurados em determinado país.

3.2) Quando um autor tem direito de cópia sobre determinada obra, isso implica que ele tem o direito de mandar imprimir quantas cópias ele quiser de seu livro, e esse direito é estendido aos descendentes de maneira permanente até o momento em que não haja mais alguém para suceder o autor nos direitos econômicos que decorrem de sua personalidade, posto que a pessoa do autor se torna perene por força da obra escrita, imortalizando assim o nome da família da qual faz parte.

3.3.1) Como se trata de matéria de capitalização moral, ele se torna livre para atender a demanda, uma vez que escrever é um ato de evangelização, o que levaria o público a ter de amar e rejeitar as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento, se esse escritor vive a vida em conformidade com o Todo que vem de Deus e se for capaz de escrever obras de boa qualidade. 

3.3.2) Laços entre a comunidade e o escritor são formados de modo a se formar uma espécie de distributivismo - o escritor empresta seu saber, o povo se aprimora com base na leitura do livro e novos conhecimentos são criados quando este conhecimento influi em cabeças que vivem a vida em circunstâncias diferentes da do escritor, de modo a não só corrigir como também aprimorar a obra escrita. Esse empréstimo se torna uma coisa perene; ele não se finda com a morte do criador, pois as pessoas físicas passam, embora a relação exista entre leitor e escritor, podendo ser conhecida de uma maneira deduzida, já que o fato está encoberto - e só as pessoas mais inteligentes da sociedade serão capazes de descobri-lo.

3.4.1) O problema dos direitos autorais começa a partir do momento em que nem todos os escritores são capazes de criar editoras de modo a administrar os direitos exclusivos de cópia de sua obra - e é neste ponto que os direitos econômicos da obra se divorciam dos direitos de personalidade, decorrentes da paternidade da obra. Assim, o mercado tende a se concentrar somente nos best sellers, inviabilizando a circulação de novas idéias, geralmente vindas de escritores em começo de carreira.

3.4.2) Some-se a isso o fato de que moramos numa sociedade descristianizada, pois o relativismo moral fomenta uma falsa liberdade de pensamento, a ponto de obras extremamente danosas para a vida sadia em sociedade serem vendidas tal como se fossem bananas na feira.

3.4.3) Como o papel aceita qualquer coisa, uma pessoa mal intencionada escreve uma história de qualidade questionável e essa história é vendida como se fosse boa, por meio da política de vendas das editoras, que só promovem best-sellers, concentrando o mercado editorial em poucas mãos, a ponto de não atender a demanda de maneira eficiente e eficaz, fazendo com que a mentira ocupe o espaço destinado à verdade. E é onde há a concentração de bens em poucas mãos que surge a questão da pirataria.

3.4.4) No cenário digital, a pirataria abriu caminho para que pequenos autores publicassem seus livros através de autopublicação ou por meio de publicações patrocinadas por meio de financiamento coletivo, possibilitando que eles possam ter suas próprias editoras, resolvendo assim a crise contratual decorrente do divórcio do direito econômico da obra e o direito de personalidade do autor, que permitiu que as editoras exercessem o poder de manipular o mercado e perverter a cultura de uma sociedade como um todo, o que é um prato cheio para a esquerda, que usou isso como um esquema de poder.

3.4,5) Essa crise de confiança que pavimentou o conflito de interesses entre editoras e escritores e entre produtores de alimentos e laboratórios decorre da usura, pois fizeram dessas atividades um meio de se ganhar dinheiro, que passou a ser visto como uma espécie de salvação, pervertendo a capitalização natural e moral desde dentro, posto que tanto a agricultura quanto o ofício de escritor foram dessacralizados, por conta da perda de sua razão de ser, pois essas coisas existem para promover Deus e não o amor de si até o desprezo de Deus.

José Octavio Dettmann

Rio de Janeiro, 18 de março de 2018.

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