1) Deus criou o homem como sendo sua imagem e semelhança.
2) Quando o homem começou a perder a amizade de Deus sistematicamente, a ponto de conservar o que é conveniente e dissociado da verdade, então todo um caminho precisou ser traçado de modo que Deus viesse até nós, a ponto de assumir a forma humana e ser igual a nós em tudo, exceto no pecado. Neste sentido, o Antigo Testamento é a narrativa de todo o caminho que foi traçado até a chegada do Messias, que deu pleno cumprimento ao legado acumulado e edificado, um verdadeiro capital moral e espiritual criado por conta do trabalho acumulado de gerações de pessoas que foram amigas de Deus antes da chegada do Messias, que pavimentaram a estrada por onde o missionário por excelência passaria. Tudo isso fundado nos Dez Mandamentos.
3) Deus, como criador, criou todas as coisas por amor - todos os seus atos, todas as suas obras, apontam para a Sua pessoa - eis porque o acessório, a obra criada, segue a sorte do principal, o Criador, que é o pai de todas as coisas que d'Ele decorrem. Por isso, Deus é amor e serviço em essência, pois para criar o mundo feito à sua imagem e semelhança Ele trabalhou seis dias da semana e no sétimo dia Ele descansou. A narrativa da criação do mundo mostra o trabalho como fonte da criação de riquezas, a gênese de todas as coisas; se Deus trabalhou, então o homem, ao imitar a Deus neste fundamento, santifica-se trabalhando.
4.1) Quando o homem perde a amizade de Deus e torna-se a medida de todas as coisas, a ponto de negá-Lo sistematicamente, então o trabalho deixa de ser voltado para o amor, para aquilo que se funda na conformidade com o Todo que vem de Deus, e passa a ser voltado para o nada, para o amor de si até o desprezo de Deus.
4.2.1) Como trabalhar é exercer a liberdade de modo a edificar alguma coisa, então trabalhar de modo a fazer da riqueza um sinal de salvação é criar uma ordem onde a falsa liberdade passe a ditar todas as coisas como se fosse a verdadeira, a ponto de criar relativismo moral, o que leva à morte.
4.2.2) Essa falsa ordem gera uma liberdade com fins vazios e faz as pessoas escolherem sistematicamente os piores meios de modo a se chegar a fins extremamente nefastos, já que o homem que perdeu a amizade de Deus escolheu o que é conveniente e dissociado da verdade - e neste ponto, a democracia se torna algo nefasto, pois muitos preferirão Barrabás a Jesus. Se o povo é o conjunto de seres humanos que tomam determinado território como um lar, então a democracia pode ser pervertida, se o lar for visto como um fim em si mesmo e se o homem for visto como a medida de todas as coisas. Se a voz do povo é a voz de Deus, então isso é pronunciar o nome de Deus em vão sistematicamente, pois o Estado será tomado como se fosse religião, na forma do Estado Democrático de Direito.
5.1) Para que o caráter salvífico da vida fundada na conformidade com o Todo que vem de Deus fosse restaurado, Deus precisou assumir a forma humana, de modo a dar pleno cumprimento à lei mosaica. E por conta disso o verbo se fez carne e passou a habitar em nós, por meio da eucaristia. Jesus, que é Deus em forma humana, restaurou a criação, seja agindo como missionário, seja agindo como carpinteiro.
5.2) Se a criação é a primeira construção, então a arquitetura, a segunda construção, surge a partir do momento em que Deus feito homem restaura o mundo de modo que as coisas realmente apontem para a conformidade com o Todo que vem de Deus. Não apenas os prédios públicos devem apontar para Deus - até mesmo a fundação de impérios deve se pautar na missão de servir a Cristo de modo que o país seja uma escola que prepare a todos para o Céu, para a pátria definitiva.
5.3) Isso pode ser feito dentro dos limites naturais do império ou se expandido até terras distantes, de modo a fazer com o que os habitantes nativos dessas terras distantes passem a ser agentes colaboradores dessa tarefa salvífica. Não é à toa que Portugal é o único império que não perecerá, pois foi um Império de cultura, o Império que Cristo escolheu de modo que o caminho fosse preparado para a sua segunda vinda na Terra, desta vez definitiva.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 29 de março de 2018.