1) As corporações de ofício, enquanto instituto social, elas surgiram na época em que houve a transição da república para o império em Roma. Elas são o fruto da política conciliatória de Otávio César Augusto, de modo a por fim a guerra civil entre a plebe e o patriciado.
2) Por um lado, foram confirmados os valores tradicionais da República de liberdade e de não-sujeição de um homem ao arbítrio de outro homem seja por meio da força bruta, seja por meio de contratos leoninos, tal como havia nos contratos de comércio antigos, o que levaria ao retorno da escravidão por dívidas, à volta da barbárie - e esta crítica do patriciado aos costumes da plebe eram válidos e foram apreciados, porque era uma questão de justiça, de matéria de ordem pública; por outro lado, servir o que você produz de maneira livre a quem realmente necessita de serviço de modo a ser bem pago por isso é algo realmente justo, pois isso nos aponta para novas verdades que devem ser conhecidas e observadas. Isso fomenta novas uniões políticas que renovarão a força política da ordem romana, criando um novo tempo de atualização da tradição fundadora - o que agrada os interesses progressistas da plebe.
3.1) As corporações de ofício nasceram neste contexto de conciliação, passando a ser um símbolo de um novo tempo na História da Civilização. Pessoas que trabalham no mesmo ramo, sejam elas de origem plebéia ou patrícia, podiam se associar por um interesse em comum fundado nos interesses da profissão que lhes dava sustento, servindo aos interesses do bem comum, da sociedade romana como um todo.
3.2) Como a amizade é a base da sociedade política, isso dava causa a casamentos legítimos, fomentando ainda mais liberdade na orbe romana. Dentro deste ambiente conciliatório, a lex canulea, criada a partir da lei das 12 tábuas, ganhou cada vez mais força. O conjunto de trabalhadores de uma mesma profissão associados eram chamados de corpora - como eles eram agentes políticos na sociedade, eles eram chamados de corporações de ofício, pois é do espírito de corpo que se toma um pais como um lar.
3.3) Com a vitória do Cristianismo sobre o paganismo, isso serviu de base para a santificação através do trabalho, pois elas eram associações de várias famílias em seus diferentes ramos de profissão. E a exemplo da família romana, nelas havia hierarquia, onde as pessoas progrediam nelas passando pelo caminho das honras, horando a seus superiores tal com fariam com o pai e com a mãe, como mandam as Sagradas Escrituras.
4.1) As corporações de ofício são síntese dos interesses antagônicos dos optimates (que faziam da agricultura a base da sua riqueza) e dos populares (que faziam do comércio a base da sua riqueza). Elas transformam matéria-prima em produto acabado, a ponto de gerar a indústria artesanal, gerando novos tipos de riqueza e novos tipos de demanda.
4.2) A base da revolução industrial estava lançada na história do mundo - o processo de automação industrial e as conseqüências sociais e políticas desse processo, elas viriam após uma longa história de marchas e contramarchas ao longo da história da civilização.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 09 de agosto de 2021 (data da postagem original).