1) É preciso sempre pensar que o conceito de banco está sempre associado à idéia de celeiro. Além de o celeiro ser o lugar onde se estocam os alimentos de modo a atender a alguma demanda eventual, incerta, ele é também o lugar onde se costumam ser salvas as sementes de modo que haja uma perpetuação da agricultura enquanto atividade econômica organizada. Por isso, o celeiro é tanto banco de alimentos quanto banco de sementes.
2) Justamente por conta de as sementes serem salvas e estocadas, isso assegura uma futura atividade agrícola organizada, onde a própria atividade já é ganho sobre a incerteza. Se alguém pedir sementes de trigo emprestado, o pagamento vai se dar na forma de trigo colhido e em sementes de melhor qualidade, se houver colheita. Como o empréstimo teve finalidade produtiva, justa, então o pagamento em alimento e em sementes é ganho sobre a incerteza. Eis o fundamento dos juros, posto que se fundam num dever de lealdade entre quem empresta e quem toma o empréstimo, uma relação de direito natural.
3) Se dinheiro é moeda fiduciária, então a finalidade do banco é integrar o que poupa dinheiro e o necessitado de dinheiro para estabelecer uma atividade econômica organizada de modo que todos possam ganhar juntos. Essas negociações devem ser pessoais, uma vez que o banqueiro é chamado a administrar os interesses do poupador de recursos. Se o tomador de recursos tiver histórico de ser um bom pagador de empréstimos, se ele ama e rejeita as mesmas coisas tendo por Cristo fundamento e é leal no cumprimento dos acordos, então ele pode tomar o empréstimo de modo a usá-lo de maneira produtiva, como pagar uma dívida ou organizar um negócio. Como esse dinheiro foi causa para uma atividade produtiva, juros devem ser pagos, uma vez que isso é uma questão de justiça, uma vez que houve ganho sobre a incerteza.
4) Se o banqueiro é cheio de si, é indiferente aos interesses dos tomadores e não faz o trabalho de integrar as duas pontas do crédito, então ele está sendo usurário, uma vez que está exigindo algo que não lhe pertence. Ele está vendendo tempo - algo que decorre de Deus, pois o tempo rege todas as coisas e é no tempo de Deus que as coisas se frutificam. Ele está deixando de ser procurador do poupador para agir em nome próprio e isso não é justo.
5) É o que ocorre na educação. Quando a nação é tomada como se fosse religião, a ponto de tudo estar no Estado e nada estar fora dele ou contra ele, as políticas públicas do Estado estarão relacionadas a identificar o amigo do inimigo e a fomentar uma ideologia, uma vez que os ideólogos imaginam comunidades onde qualquer utopia pode ser realizada. Por isso, certas coisas fundadas na verdade são relegadas ao esquecimento enquanto o que não presta é fomentado através de políticas públicas. Como os professores são empregados desse banco, eles fingem que ensinam e os alunos fingem que aprendem. E o encontro deixa de ser livre e se torna sujeição, a ponto de escravizar toda a sociedade através do ensino, essa camisa-de-força ideológica onde toda e qualquer livre iniciativa é criminalizada.
6) Além de não ser educação, o ensino a serviço da perversão de tudo o que é mais sagrado é subversão. E por isso pessoas como Paulo Freire não podem ser tomadas como verdadeiros educadores, mas como agentes desinformantes. Os diplomas emitidos por essas instituições de ensino não passam de papéis podres, por conta da inflação de títulos fundados numa relação social improdutiva, visto que o ensino virou teatro.
7.1) Paulo Freire falava sobre educação bancária, mas não sabia o que era banco. Ele tomou como se fosse coisa, como se fosse natural, uma relação que já estava decaída por conta da ética protestante, que faz da riqueza sinal de salvação, visto que ela divide o mundo entre eleitos e condenados - o terreno perfeito para se justificar a usura como se fosse algo bom, visto que o eleito não vê o condenado como um irmão necessitado, mas como um ser inferior que precisa ser esmagado como uma barata.
7.2) Não é à toa que a ética decorrente da heresia protestante foi condenada e com ela seu subproduto: o capitalismo, que toma a riqueza como salvação, a ponto de tudo estar na riqueza e nada poder estar fora dela ou contra ela, o que a aproxima do fascismo, pois o poder do Estado estaria na concentração da riqueza em suas mãos, levando todos a uma corrida metalista ou mercantilista.
José Octavio Dettmann
Rio de Janeiro, 18 de dezembro de 2019.