Há pedidos que não se dirigem ao mundo como reivindicação, mas a Deus como confiança. O pedido por amigos — quando formulado por alguém que vive do estudo sério do direito natural — não pode ser compreendido como simples desejo de sociabilidade ou ampliação de círculos acadêmicos. Trata-se de algo substancialmente distinto: um
Esse empréstimo não se funda na carência, mas na fecundidade. Quem já granjeou talentos no campo do direito natural sabe que tais talentos não florescem isoladamente. A tradição clássica e cristã sempre compreendeu que o intelecto humano cresce por participação, confronto honesto, correção fraterna e comunhão no amor à verdade. Os amigos adequados não substituem o esforço pessoal, mas o multiplicam. Por isso, pedir amigos que amem e rejeitem as mesmas coisas em Cristo não é um pedido sentimental, mas um ato de prudência intelectual e moral.
O fundamento desse empréstimo é claro: a verdade é o fundamento da liberdade. Onde não há amor comum pela verdade, a convivência degenera em disputa de vaidades, jogos de poder ou cumplicidade silenciosa com o erro. Por essa razão, esse empréstimo não pode ser feito “com qualquer um”. Ele exige um agente garantidor absolutamente digno da sinceridade humana. E esse agente garantidor só pode ser Cristo, que é, ao mesmo tempo, Verdade subsistente e Juiz justo, capaz de ler as ações humanas em sua inteireza.
Nesse sentido, o pedido feito a Deus por amigos não assume a forma de um contrato. O contrato pressupõe equivalência imediata, cláusulas externas e possibilidade de rescisão por conveniência. Aqui ocorre algo diverso: trata-se de um pacto. Um pacto fundado na conformidade com Cristo, semelhante àquele que moldou a própria identidade da Polônia ao longo de sua história: uma comunidade que não se compreende fora da realeza de Cristo e que, justamente por isso, soube resistir à dissolução moral, jurídica e política.
O pacto é mais profundo porque compromete a pessoa inteira. Nele, o sujeito não oferece apenas produção intelectual — artigos, traduções, argumentos —, mas a própria sinceridade do seu intelecto e da sua vontade. Ao pedir amigos nesse registro, a pessoa reconhece que certos bens só podem circular entre aqueles que compartilham o mesmo eixo de amor e rejeição: amor à verdade, à justiça e à ordem; rejeição ao erro, à mentira e à instrumentalização do direito.
Por isso, o empréstimo é produtivo. Não no sentido utilitarista, mas no sentido evangélico dos talentos. Deus não empresta para o repouso, mas para o aumento. Quando alguém pede amigos dignos, pede meios para servir melhor, julgar com mais retidão e dizer o direito com maior justiça. Se esses amigos vêm, os talentos se multiplicam; se não vêm, o próprio pedido já ordenou a alma, purificando intenções e reafirmando o fundamento.
Em última instância, esse empréstimo só é possível porque é feito em Cristo e por Cristo. Não se pede a homens para satisfazer expectativas humanas, mas a Deus para que Ele disponha encontros segundo a Sua providência. O resultado não é garantido em termos de número ou visibilidade, mas é garantido em termos de sentido: nada do que nasce desse pacto é estéril.
Assim, pedir amigos que amem e rejeitem as mesmas coisas em Cristo não é fuga do mundo, mas compromisso radical com a realidade. É reconhecer que o direito, quando separado da verdade, se torna tirania; e que a verdade, quando partilhada entre amigos justos, se torna liberdade vivida.
Nenhum comentário:
Postar um comentário