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segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Conservar sem restaurar: uma manifestação da acídia

A postura de conservar sem restaurar — de manter o mínimo necessário para não enfrentar a fadiga da transformação — não é apenas um erro intelectual ou político. É, antes de tudo, uma manifestação da acídia, um dos pecados capitais mais negligenciados na modernidade.

A acídia, descrita pelos Padres do Deserto e sistematizada por São Tomás de Aquino, não é mera preguiça, mas tristeza diante do Bem divino, uma recusa interior a mover-se em direção à perfeição que Deus exige de cada alma. O acidioso não é somente o que deixa de agir, mas o que, quando age, o faz para evitar o chamado ao crescimento espiritual. Ele foge da elevação.

A conservação sem restauração como fuga da verdade

Aquele que conserva apenas o que lhe convém, sem se empenhar em restaurar o que é bom, justo e conforme ao Todo de Deus, está precisamente nesse movimento espiritual de fuga. Ele teme o trabalho, o esforço, a transformação exigida pela restauração — porque restaurar obriga a confrontar a verdade, abandonar vícios, superar comodidades e reordenar a vida segundo um bem maior.

Conservar sem restaurar, portanto, é uma estratégia de autoproteção:
manter o mundo suficientemente estável para não ter que mudar a si mesmo.

A acídia como imobilismo moral

A acídia se manifesta como:

  • negligência do bem superior, por considerá-lo difícil demais;

  • torpor diante da missão, por temer o esforço que Deus pede;

  • apego ao estado atual, por comodidade e covardia espiritual.

Nessa chave, o “conservador acidioso” não é conservador de coisa nenhuma: é apenas imóvel, um guardião do mínimo vital, alguém que conserva a poeira em vez de restaurar o templo.

Ele evita o trabalho espiritual de recuperar o que foi perdido — valores, instituições, virtudes, formações culturais, estruturas familiares — porque isso exigiria sacrifício, disciplina e disposição para enfrentar o mal.

Restauração: antídoto contra a acídia

A restauração, ao contrário, é o ato espiritual de quem se nega a permanecer na letargia e escolhe responder ao chamado divino:

  • erguer o que foi derrubado,

  • curar o que foi ferido,

  • iluminar o que foi escurecido,

  • reconduzir a alma e a sociedade à conformidade com a verdade.

Restaura quem ama; conserva sem restaurar quem teme.

Por isso, os Padres do Deserto viam na acídia um pecado que paralisa a alma e a sociedade. Uma civilização dominada pela acídia conserva estruturas, mas perde a vida interior que as sustentava.

Conclusão

A conservação sem restauração é acídia porque:

  • rejeita o chamado ao Bem superior,

  • prefere a comodidade à verdade,

  • renuncia a colaborar com a obra contínua de Deus no mundo.

Restaurar é, portanto, um dever moral e espiritual. Não restaurar é, em muitos casos, pecar por acídia — uma tristeza diante da grandeza divina que nos exige mais do que queremos dar.

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