Nos anos 2000, quando ingressei na Faculdade de Direito de Niterói, pertencente à Universidade Federal Fluminense, meu caráter era marcado pela reserva. Durante o ginásio e o ensino médio, sofri constantes episódios de bullying, que deixaram cicatrizes invisíveis e moldaram minha personalidade como um mecanismo de defesa. Naquela época, sem redes sociais como o Facebook, eu era forçado a aceitar todas as amizades que surgiam, sem distinção, apenas para sobreviver ao ambiente adverso da faculdade. A reserva não era escolha, era instinto de preservação.
Hoje, em 2025, o contexto é radicalmente diferente. Posso estudar com foco, preparar-me para cada disciplina e aproveitar oportunidades acadêmicas que antes estavam além do meu alcance. A figura do aluno-ouvinte em muitas universidades federais permite que cidadãos interessados, ainda que não matriculados formalmente, tenham acesso ao conhecimento e à experiência acadêmica — uma possibilidade de crescimento que antes seria impensável.
As redes sociais também transformaram a forma de relacionar-me com os outros. Agora, posso analisar com cuidado o perfil de um contato antes de decidir se uma amizade será frutífera para meu desenvolvimento intelectual e moral. Não preciso mais “tomar todas as amizades que posso” para sobreviver. Posso acolher apenas aqueles que contribuem para meu progresso, em consonância com os méritos de Cristo, discernindo com prudência quem deve fazer parte do meu círculo.
O traço reservado, que antes era apenas defesa contra o sofrimento e a hostilidade, transformou-se em uma estratégia consciente. Em tempos permeados pela ideologia e pela exposição constante, a capacidade de discriminar relações e ambientes tornou-se essencial. A prudência, que antes surgia como reflexo instintivo, hoje é expressão de autodomínio, discernimento e sabedoria.
Essa evolução revela uma dimensão espiritual e moral: o que antes servia apenas para proteger minha vulnerabilidade humana, agora serve para ordenar minha vida intelectual e relacional à luz da verdade, do serviço e da liberdade em Cristo. A reserva, antes instinto, tornou-se um instrumento de estratégia e crescimento — não apenas para sobreviver, mas para florescer, cumprir meu dever de expandir o conhecimento e cultivar relações que honram a Deus.
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