Em 2001, quando comecei a cursar Direito na UFF, recebi uma lista com os contatos dos colegas: nomes, aniversários, telefones e e-mails. Essa era a forma como o mundo funcionava — tratava-se de uma maneira objetiva e prática de criar laços. Mas, desde cedo, percebi que eu não agia exatamente como o mundo esperava. A mim, não bastava ter dados de alguém; eu precisava compreender quem era aquela pessoa antes de iniciar uma aproximação.
O problema é que, naquela época, os meios não existiam. O contato partia quase sempre de uma abordagem às cegas, sem saber o que o outro pensava, gostava ou valorizava. Isso tornava minhas iniciativas mais duras e diretas do que eu gostaria, chegando a assustar algumas pessoas. O simples fato de não saber com quem eu estava lidando me fazia parecer agressivo, quando, na verdade, eu buscava apenas estabelecer uma conversa significativa.
Essa realidade começou a mudar com a invenção das redes sociais. O Orkut surgiu em janeiro de 2004, abrindo a primeira possibilidade de acesso público àquilo que as pessoas escolhiam compartilhar de si mesmas. Ainda assim, não foi suficiente. A rede que, de fato, atendeu ao meu critério e às minhas necessidades foi o Facebook — principalmente a partir da década de 2010, quando se tornou dominante. Ali, enfim, eu podia estudar perfis, compreender ideias, gostos e valores, e assim encontrar um ponto de contato legítimo para dialogar.
Foi nesse mesmo período que os ensinamentos de Olavo de Carvalho e a minha fé católica se consolidaram como fundamentos para a maturidade necessária na vida intelectual e nas relações. Aprendi que não se trata de curiosidade invasiva, mas de respeito e caridade intelectual: antes de falar, é preciso ouvir; antes de abordar, é preciso compreender.
Olho para trás e vejo: muitos dos erros cometidos na faculdade poderiam ter sido evitados se eu tivesse tido, à época, tanto os meios quanto a maturidade para uma abordagem mais adequada. As redes sociais, que para muitos são apenas vitrines de vaidade, se tornaram para mim instrumentos providenciais. Elas me permitiram agir de maneira mais humana, consciente e respeitosa, em contraste com a lógica fria do mundo, que reduz pessoas a listas de dados.
Hoje, se recebo uma lista de contatos, não me limito a telefones e e-mails. Meu primeiro impulso é perguntar: “Você tem Facebook ou LinkedIn?”. Não porque quero invadir a vida de alguém, mas porque acredito que a verdadeira conversa começa no reconhecimento do outro — em sua história, em seus interesses, em sua visão de mundo.
Assim, compreendo que maturidade é justamente isso: saber que a tecnologia, quando unida à fé e ao discernimento, não nos afasta, mas nos aproxima de maneira mais autêntica. O que antes era contato frio, hoje pode se tornar relação consciente.
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