O verdadeiro caráter de um homem não se revela apenas em palavras ou intenções abstratas, mas, acima de tudo, através de suas ações concretas. A ética cristã e a filosofia prática, desde Aristóteles até Santo Tomás de Aquino, enfatizam que o ser humano se manifesta plenamente quando cumpre suas funções morais e sociais: provê para sua família, serve à comunidade e honra a Deus. É nesse contexto que a avaliação do caráter se torna indispensável.
A ética do feito
Em uma sociedade marcada por relações interpessoais complexas, é imperativo considerar o que cada indivíduo efetivamente realiza. Boas intenções, sem concretização, não constituem caráter sólido. Como ensina a tradição tomista, a virtude se manifesta na ação: o homem virtuoso não apenas pensa o bem, mas o realiza em atos que beneficiam o próximo. Assim, ao examinarmos alguém, buscamos evidências concretas de sua contribuição para a vida social e espiritual, e não meras palavras vazias.
A responsabilidade social como critério de amizade
A amizade, segundo este ponto de vista, não é um laço superficial, mas uma relação fundamentada em confiança e reciprocidade moral. Antes de se estabelecer uma amizade verdadeira, é prudente observar a capacidade do outro de cumprir seu papel social. Um indivíduo que não provê para sua família ou que falha em honrar compromissos éticos básicos demonstra incapacidade de exercer responsabilidade, e portanto, não está apto a ser amigo de confiança.
Esta perspectiva reforça que a vida social possui um caráter funcional: cada pessoa deve contribuir para o bem comum. A amizade, longe de ser um mero prazer ou entretenimento, é uma extensão dessa responsabilidade prática e ética.
Afinidade Moral e Fundamentação Cristã
Além da ação concreta, a amizade verdadeira exige afinidade moral. A confiança recíproca só é possível entre aqueles que compartilham valores profundos e rejeitam conjuntamente aquilo que se opõe à virtude. Para o cristão, o fundamento desses valores é Cristo. Amizades fundamentadas nessa comunhão moral e espiritual são resistentes às vicissitudes do mundo, oferecendo apoio mútuo em um vale de lágrimas que caracteriza a existência humana.
Conclusão
Portanto, o caráter de um homem deve ser medido pelas obras que realiza, e a amizade, concedida com discernimento, depende da demonstração de responsabilidade social e de afinidade moral fundamentada em Cristo. O homem virtuoso é aquele que não apenas age bem, mas também inspira confiança e serve de exemplo, fortalecendo laços duradouros e contribuindo para o bem comum.
Referências Bibliográficas
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Aristóteles. Ética a Nicômaco. Tradução de Mário da Gama Kury. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
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Aquino, Tomás de. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 1991.
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Agostinho, Santo. Confissões. São Paulo: Paulus, 2003.
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Santo Tomás de Aquino. Comentário à Ética de Aristóteles. São Paulo: Loyola, 2000.
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