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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Conhecimento por Presença, Saudade e o Sentido da Tradição

Olavo de Carvalho fala repetidamente sobre conhecimento por presença, um modo de conhecer que não se limita à abstração ou à representação mental das coisas, mas que implica uma experiência direta e vivida. Saber, nesse contexto, não é acumular informações, mas provar o sabor das coisas até torná-las íntimas. É tornar-se parte daquilo que se conhece, experimentar de tal forma que o conhecimento não é apenas intelectual, mas encarnado.

Entre os vivos, a presença é transformadora. Ela imprime impressões profundas que moldam a memória e as relações. Quando a presença física se retira — seja pela morte, seja pela distância — o que parece faltar é, na verdade, saudade. Mas a saudade, longe de ser mera ausência ou nostalgia vazia, é um modo de manter viva a experiência. Na tradição tupi, por exemplo, saudade é chamada de presença transformada: aquilo que se foi não desaparece, apenas muda de forma, permanecendo ativo na memória e no coração.

Se aceitarmos que a saudade é uma forma de aletheia — desvelamento, não-esquecimento — então compreendemos que o sabor das coisas provado não se perde. A experiência íntima do conhecimento, preservada pela saudade, continua a transformar quem permanece, permitindo que aquilo que foi vivido seja novamente revelado.

É nesse ponto que surge o sentido da tradição. Tradição não é simplesmente obedecer a regras antigas ou repetir ritos sem compreensão. Ela é, sobretudo, a continuidade viva daquilo que foi experimentado, aquilo que foi provado e assimilado, agora mantido presente por aqueles que o lembram e o transmitem. A tradição é, portanto, memória viva: é o sabor das experiências humanas preservado pelo cuidado, pela lembrança e pela saudade.

Sob essa perspectiva, a tradição se torna um elo entre gerações: o que foi saboreado, experienciado e amado não se perde, mas se transforma em herança espiritual e intelectual. Cada lembrança, cada saudade, cada narrativa transmitida é uma extensão do conhecimento por presença — uma prova de que o que se viveu continua vivo naquilo que herdamos e transmitimos.

Portanto, compreender a tradição é compreender como o conhecimento verdadeiro resiste ao tempo: não como dado frio, mas como presença transformada, alimentada pela saudade, capaz de orientar e formar o futuro sem jamais apagar o passado.

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