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sábado, 27 de setembro de 2025

Governando com o copo na mão: sobre a embriaguez no poder

A legislação de trânsito é clara: dirigir sob a influência do álcool ou de drogas é crime. A razão é óbvia — ao conduzir um veículo, o motorista tem em suas mãos não apenas a própria vida, mas a de todos ao redor. A sociedade compreende que o estado alterado de consciência compromete a percepção da realidade, a capacidade de julgamento e os reflexos. Em outras palavras, o motorista embriagado transforma-se em ameaça pública.

Mas se já nos parece escandaloso colocar em risco os transeuntes de uma avenida, o que dizer de governar uma nação inteira sob o mesmo estado de inconsciência? Se conduzir um automóvel de tanque cheio de álcool é crime, conduzir os destinos de milhões sob a mesma condição é uma tragédia em escala política e histórica.

O caso Yeltsin: a Rússia entre tropeços

Boris Yeltsin, primeiro presidente da Rússia pós-soviética, tornou-se símbolo desse problema. Seu alcoolismo era conhecido, e episódios constrangedores em encontros diplomáticos e cerimônias oficiais entraram para a memória coletiva. Mais do que gafes, esses momentos revelavam a fragilidade de um líder incapaz de encarnar a sobriedade exigida por sua função. Não se tratava apenas de uma questão de imagem: a Rússia atravessava uma crise econômica e social profunda, e seu dirigente, em vez de transmitir firmeza, muitas vezes passava a impressão de inconsciência.

Lula e a sátira da bebida

No Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva também foi alvo recorrente de críticas e sátiras que o associavam ao consumo de álcool. Charges, piadas e discursos oposicionistas exploraram a imagem de um governante que, alegoricamente ou não, “governava de copo na mão”. Ainda que haja diferença entre o que é comprovado e o que é caricatura, a metáfora encontrou ressonância: a ideia de um líder que, ao invés de plena lucidez, age sob um véu de intoxicação.

A embriaguez como metáfora do poder

Mais do que a substância em si — álcool ou narcóticos —, há uma embriaguez política que acompanha muitos governantes. Trata-se da intoxicação pelo poder: a sensação de impunidade, o delírio de grandeza, a perda de contato com a realidade cotidiana de seus governados. Essa “embriaguez do poder” é tão perigosa quanto a literal, porque mina o discernimento, distorce o senso de responsabilidade e conduz a decisões que podem comprometer gerações inteiras.

A sobriedade como virtude política

Se aceitamos que o motorista embriagado deve ser retirado do volante em nome da segurança coletiva, também devemos exigir de nossos líderes uma sobriedade não apenas física, mas moral e espiritual. A lucidez é condição indispensável ao exercício da autoridade, e a sociedade que tolera líderes intoxicados — seja pelo álcool, pelas drogas ou pelo próprio poder — assume o risco de ver seu destino conduzido rumo ao abismo.

👉 A metáfora de “governar embriagado” é, no fim das contas, um chamado à responsabilidade. A diferença entre o volante de um carro e o leme de uma nação é apenas de escala: em ambos os casos, quem dirige embriagado transforma-se em perigo público.  

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