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terça-feira, 9 de setembro de 2025

Crise Civilizacional, Conhecimento e Imaginação: um caminho filosófico

Resumo: 

Este artigo propõe uma reflexão sobre a crise civilizacional a partir da filosofia de Mário Ferreira dos Santos, articulando-a a uma teoria do conhecimento que valoriza a integração de saberes dispersos. Argumenta-se que a descrição jornalística dos fatos, a análise histórica das crises e a ficção histórica como instrumento de condução da imaginação coletiva constituem etapas complementares na compreensão e na superação da crise civilizacional. 

1. Introdução

A filosofia da crise, tal como desenvolvida por Mário Ferreira dos Santos, reconhece que a civilização contemporânea atravessa um momento de dispersão de valores e de fragmentação do conhecimento. Os fatos isolados, embora observáveis, apenas revelam sua significância quando analisados em perspectiva histórica e civilizacional. A crise não se reduz a eventos particulares: ela é estrutural, refletindo o declínio do sentido e da coesão social.

Neste contexto, propõe-se que o conhecimento não seja concebido apenas como acumulação de informações, mas como síntese de saberes dispersos, reunidos de forma a oferecer uma visão integrada do mundo. Essa síntese não é puramente intelectual: envolve também a imaginação, a experiência ética e a dimensão espiritual, especialmente quando se considera a missão de servir a Cristo como horizonte de unidade entre diferentes lugares e culturas.

2. Jornalismo e História como fontes de conhecimento

O jornalismo cumpre a função primária de registrar os fatos. Ele nos fornece a matéria-prima do conhecimento: o que aconteceu, quando e de que forma. Porém, a análise meramente factual é insuficiente para compreender a crise civilizacional. É aqui que entra a história: a disciplina histórica transforma dados em narrativa, reconhecendo padrões, causas e consequências. A história permite identificar as tensões e rupturas que caracterizam uma civilização em declínio, tornando os fatos significativos dentro de um processo de crise.

A partir dessa análise, a filosofia pode atuar, refletindo sobre o sentido das ações humanas, sobre os valores que foram perdidos e sobre os caminhos possíveis para a restauração civilizacional. O filósofo, nesse sentido, não parte do vazio: ele se fundamenta na realidade concreta, nos fatos observáveis e nos padrões históricos identificados.

3. Teoria do Conhecimento e Integração de Saberes

Uma teoria do conhecimento eficaz frente à crise civilizacional deve superar a fragmentação disciplinar. Jornalismo, história, filosofia e literatura não são domínios isolados, mas partes de um sistema integrável de saberes. A síntese desses conhecimentos permite reconstruir uma visão unificada da realidade e identificar soluções para problemas complexos.

Nesse processo, o esforço de servir a Cristo em terras distantes adquire dimensão epistemológica: ao reunir saberes e experiências de diferentes lugares, cria-se um “lar unificado” em termos espirituais e intelectuais. A integração de diferentes perspectivas históricas, culturais e espirituais enriquece a compreensão da crise e permite vislumbrar formas de superá-la, não apenas teoricamente, mas também concretamente, na transformação da sociedade.

4. Ficção Histórica como ferramenta de reconstrução civilizacional

A ficção histórica ocupa um papel singular neste esquema. Ao conduzir a imaginação do leitor, ela transforma a experiência factual em experiência vivida, aproximando o passado do presente e possibilitando uma reflexão crítica sobre valores e sentido civilizacional. Diferentemente da história acadêmica, a ficção histórica pode dramatizar escolhas éticas e culturais, mostrando o impacto concreto de decisões humanas em crises estruturais.

Esse recurso imaginativo não é mero entretenimento: é pedagógico e formativo, permitindo que a sociedade compreenda de maneira mais profunda os mecanismos da crise e os caminhos da reconstrução civilizacional. Em outras palavras, a ficção histórica atua como ponte entre conhecimento, experiência e ação social.

5. Conclusão

A crise civilizacional, conforme analisada por Mário Ferreira dos Santos, não se resolve com mera erudição ou tecnicismo. Ela exige um trabalho intelectual integrado, que combine jornalismo, história, filosofia e ficção histórica em um sistema coerente de saberes. A síntese desses saberes, aliada à dimensão espiritual de servir a Cristo em diversos contextos, possibilita reconstruir a unidade perdida, tanto da civilização quanto do conhecimento.

A superação da crise depende, portanto, de uma abordagem holística: registrar os fatos, compreendê-los historicamente, refletir filosoficamente sobre eles e mobilizar a imaginação por meio da literatura. Só assim é possível recuperar o sentido civilizacional perdido, articulando razão, imaginação e fé em um esforço que é simultaneamente intelectual, moral e espiritual.

Bibliografia sugerida:

  1. Mário Ferreira dos Santos. Sistema de Filosofia Concreta. São Paulo: Editora Philosophia, 1973.

  2. Mário Ferreira dos Santos. Crise da Civilização. São Paulo: Editora Philosophia, 1981.

  3. Popper, Karl. A Lógica da Pesquisa Científica. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

  4. Ricoeur, Paul. Tempo e Narrativa. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1985.

  5. Cassirer, Ernst. Filosofia das Formas Simbólicas. Rio de Janeiro: Contraponto, 1994.

  6. Carr, E.H. O Passado e o Presente. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1961.

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