No universo do jornalismo, a crítica não se limita a um juízo subjetivo de gosto ou opinião. Ela se fundamenta na comparação objetiva entre o que foi prometido e o que foi entregue. Toda peça jornalística, seja uma reportagem investigativa, um artigo de opinião ou um documentário, carrega em si uma promessa implícita ao leitor: informar, esclarecer, entreter ou transformar. A função da crítica é medir até que ponto essa promessa foi cumprida, oferecendo ao público um parâmetro de avaliação confiável e coerente.
Essa relação entre expectativa e entrega não é exclusiva do jornalismo. Na publicidade, a dinâmica é semelhante: um produto ou serviço é apresentado ao público com base em uma promessa que atende a uma necessidade percebida. Essa promessa pode gerar três tipos de resposta no consumidor:
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Demanda satisfeita: quando a entrega corresponde exatamente ao que foi prometido, resultando em satisfação e fidelização.
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Demanda reprimida: quando a entrega falha em atender plenamente à necessidade, criando frustração e desejo não realizado.
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Demanda latente: quando o produto ou serviço desperta uma necessidade ainda não consciente no público, muitas vezes criando uma nova expectativa.
No jornalismo, essas mesmas categorias podem ser aplicadas. Uma reportagem que cumpre sua promessa atende plenamente à curiosidade ou necessidade informativa do leitor. Por outro lado, uma cobertura incompleta ou tendenciosa transforma uma demanda informativa real em demanda reprimida, frustrando o leitor e minando a confiança no veículo. Por fim, uma reportagem inovadora, que revela fatos inéditos ou perspectivas novas, pode gerar uma demanda latente, despertando interesse em áreas que o público ainda não explorava.
Dessa forma, crítica jornalística e publicidade compartilham um eixo central: promessa versus entrega. No entanto, os objetivos diferem. Enquanto a publicidade busca gerar desejo e satisfação de consumo, a crítica visa assegurar coerência, responsabilidade e efetividade na comunicação. A análise crítica permite, portanto, não apenas avaliar o valor de uma peça jornalística, mas também compreender como a informação circula e influencia a percepção do público, funcionando como um mecanismo regulador que mantém o jornalismo alinhado à sua missão social.
Em última análise, entender essa relação oferece insights preciosos para profissionais de mídia e comunicação: a promessa deve ser consciente, a entrega consistente e a avaliação contínua rigorosa. Só assim é possível transformar a expectativa do público em confiança, informação precisa e engajamento verdadeiro — pilares de um jornalismo ético e relevante.
Referências
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McQuail, Denis. Teoria da Comunicação de Massa. 7ª ed., Vozes, 2010.
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Kotler, Philip; Keller, Kevin Lane. Administração de Marketing. 15ª ed., Pearson, 2016.
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Eco, Umberto. A Obra Aberta. 4ª ed., Perspectiva, 2002.
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Schudson, Michael. The Sociology of News. W.W. Norton & Company, 2003.
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