O segundo dia da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, realizada em setembro de 2025, confirmou as expectativas do mercado: a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano, decisão tomada por unanimidade. Trata-se da segunda maior taxa real de juros do mundo, um patamar que reflete tanto os desafios domésticos quanto a elevada incerteza internacional.
Um cenário de cautela
O comunicado do Copom destacou a persistência de um ambiente externo adverso, marcado por dúvidas em relação à política econômica dos Estados Unidos e por tensões geopolíticas que afetam o comércio internacional e o fluxo de capitais para economias emergentes. Esse pano de fundo exige maior prudência de países como o Brasil, que precisam equilibrar estabilidade cambial, controle da inflação e estímulo ao crescimento.
No cenário interno, o comitê avaliou que a economia brasileira segue em trajetória de crescimento moderado, com um mercado de trabalho ainda dinâmico. Contudo, as expectativas de inflação permanecem acima da meta tanto para 2025 quanto para 2026, o que reforça a necessidade de manter a política monetária restritiva.
O equilíbrio delicado da inflação
Embora a inflação venha mostrando sinais de desaceleração em alguns segmentos, sua trajetória ainda inspira cautela. A combinação de pressões nos preços administrados, volatilidade cambial e incertezas fiscais impede uma trajetória mais rápida de convergência para a meta. Nesse contexto, a manutenção da Selic em 15% busca ancorar expectativas e preservar a credibilidade da política monetária.
O Copom foi claro em afirmar que, se os riscos se intensificarem, não hesitará em retomar o ciclo de alta de juros. Ao mesmo tempo, reforçou que manterá a taxa em patamar elevado por um “período bastante prolongado”, até que haja evidências concretas de que a inflação caminhará para a meta de forma sustentável.
Cenários futuros possíveis
Diante da decisão, o mercado começa a projetar três cenários distintos para os próximos meses:
🔽 1. Queda gradual da Selic
Se a inflação apresentar trajetória consistente de desaceleração e o câmbio se estabilizar, o Copom pode iniciar um ciclo moderado de cortes a partir de 2026. Esse cenário depende também de maior clareza fiscal por parte do governo, reduzindo a percepção de risco. Seria o caminho mais benéfico para a retomada do crédito e dos investimentos.
➡️ 2. Manutenção prolongada em 15%
É o cenário considerado mais provável no momento. A taxa ficaria estável até que o Banco Central se convença de que as expectativas de inflação estão firmemente ancoradas na meta. Isso implica uma economia mais fria e crédito caro, mas garante o objetivo principal: proteger a moeda e a credibilidade da política monetária.
🔼 3. Retomada da alta de juros
Se houver deterioração do cenário externo — com aumento dos juros nos EUA ou intensificação de choques geopolíticos —, ou se a situação fiscal doméstica gerar desconfiança, o Copom pode ser forçado a elevar ainda mais a Selic. Seria uma decisão dura, com impacto recessivo, mas vista como necessária para evitar fuga de capitais e novas pressões inflacionárias.
Implicações para o mercado e a economia real
A manutenção da Selic em 15% reforça o Brasil como destino atraente para capital estrangeiro de curto prazo, mas ao custo de travar investimentos produtivos. Para empresas e famílias, os custos do crédito permanecem proibitivos, retardando a retomada da atividade econômica.
Ainda assim, a escolha do Copom busca garantir que os ganhos de estabilidade obtidos ao longo dos últimos meses não sejam comprometidos por uma flexibilização prematura. O recado é claro: a prioridade continua sendo o combate à inflação, mesmo que isso implique custos de curto prazo para o crescimento.
Considerações finais
O desfecho do segundo dia da reunião do Copom reforça a posição conservadora da autoridade monetária brasileira: manter os juros elevados até que o cenário ofereça maior previsibilidade. Trata-se de uma estratégia que, embora onerosa para a atividade econômica, é considerada necessária para preservar a confiança na política monetária e ancorar expectativas de inflação.
Em um ambiente global instável e com desafios fiscais domésticos relevantes, a decisão sinaliza que a travessia até juros mais baixos ainda será longa. A vigilância do Copom permanece firme, e o mercado seguirá atento a cada dado de inflação, atividade e política fiscal para projetar os próximos passos da taxa Selic.
Bibliografia
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BANCO CENTRAL DO BRASIL. Nota do Copom – setembro de 2025. Disponível em: bcb.gov.br
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