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terça-feira, 9 de setembro de 2025

O Valor, a Verdade e a Ordem: estudo da civilização em Cristo

Gustav von Schmoller afirmava que o valor das coisas não é absoluto, mas relativo às circunstâncias históricas e culturais de uma determinada época e lugar. Essa visão ressoa com a tese de José Ortega y Gasset, segundo a qual o homem é ele mesmo em suas circunstâncias: um ser indissociável de seu tempo, de seu ambiente e de sua cultura. Se aceitarmos que a civilização é uma obra humana, torna-se natural avaliar valores e instituições segundo o contexto em que surgiram.

No entanto, há um limite para essa análise histórica ou cultural. O homem não é apenas um ser social e racional; ele é também um animal que erra. Em épocas dominadas pela ideologia, esse mesmo homem se torna um animal que mente, conservando obstinadamente o que lhe é conveniente, ainda que dissociado da verdade. Essa distorção revela um ponto central: se a verdade é fundamento da liberdade, então compreender a civilização exige mais do que a descrição de fatos; exige a avaliação moral de seus protagonistas e das estruturas que eles criaram.

Dessa perspectiva, o estudo da civilização só se completa ao considerar o homem revestido de Cristo em suas circunstâncias. A experiência humana, permeada de virtude e erro, precisa ser confrontada com a verdade divina. Só assim podemos compreender a obra que a humanidade construiu, tomar posse dela e aceitá-la como um lar — um lar em Cristo, por Cristo e para Cristo. É nesse gesto de reconhecimento que o subjetivo — o homem em suas circunstâncias, com desejos, virtudes e falhas — encontra-se com o objetivo — a verdade que fundamenta a liberdade e a ordem.

Quando essa articulação é alcançada, torna-se possível conceber uma ordem econômica verdadeira. Não uma ordem fundada apenas na utilidade, no interesse ou na conveniência, mas uma ordem que respeita os valores morais e espirituais inscritos na realidade humana e divina. Uma economia assim estruturada reconhece que os bens e riquezas não existem isoladamente, mas têm significado dentro do contexto histórico e moral, e só fazem sentido quando orientados pelo bem comum e pela verdade. 

Em última análise, estudar a civilização em suas circunstâncias e sob a luz de Cristo é reconhecer que toda obra humana carrega tanto potencial quanto limite. A compreensão dessa tensão — entre erro e verdade, interesse e moral, subjetivo e objetivo — é essencial para restaurar a liberdade, orientar o progresso e consolidar uma ordem social e econômica que não seja apenas funcional, mas justa e sustentável.

Bibliografia

  1. Schmoller, Gustav von. Grundriss der allgemeinen Volkswirtschaftslehre. Leipzig: Duncker & Humblot, 1900.

  2. Ortega y Gasset, José. Meditaciones del Quijote. Madrid: Revista de Occidente, 1914.

  3. Ortega y Gasset, José. La rebelión de las masas. Madrid: Revista de Occidente, 1930.

  4. Mises, Ludwig von. Ação Humana: Tratado de Economia. São Paulo: Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2016.

  5. Leão XIII. Rerum Novarum (1891). Encíclica sobre a questão social.

  6. Ferreira dos Santos, Mário. Filosofia da Crise. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia, 1980.

  7. Maritain, Jacques. Les droits de l’homme et la loi naturelle. Paris: Desclée de Brouwer, 1942.

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