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sábado, 13 de setembro de 2025

O latifúndio esportivo e o estouro da boiada

No Brasil, falar de agronegócio é mexer com coisa séria: trator, boi gordo, soja e, claro, latifúndio. Mas e se olharmos para o esporte com os mesmos olhos? O estádio é um latifúndio moderno: cercado, vigiado, com dono poderoso e milhões de cabeças de gado — digo, torcedores — entrando religiosamente para serem tosquiados na bilheteria, no pay-per-view e na lojinha oficial.

Jerry Jones, dono e GM dos Cowboys, é praticamente o Rei do Gado em versão texana. Não cria só bois, cria também jogadores milionários que suam para manter sua boiada fiel. O estádio? Um curral de luxo, com grama sintética, telão gigantesco e cerveja vendida a preço de ração especial. Produtividade garantida: cada jogo é uma colheita de dólares.

Mas até o latifúndio mais organizado tem pragas. No esporte, elas se chamam “zebras” — árbitros que vestem preto e branco e acreditam ter o poder de decidir a safra. Quando interferem demais no resultado, o ditado popular cai como uma foice: “deu zebra”. E aí o fazendeiro, o peão e a boiada inteira mugem em uníssono contra o capricho da arbitragem.

Agora, imagine o MST invadindo o estádio: “essa terra é improdutiva!”, diriam, apontando para o gramado vazio de segunda a sexta-feira. Difícil rebater: um campo que só serve de pasto esporádico para 22 atletas milionários realmente parece pouco. Mas basta chegar o domingo para a colheita ser farta: bilhões em mídia, patrocínio, cerveja aguada e pipoca fria. Produtividade não falta; falta é reforma agrária da arquibancada, para o povo poder pagar ingresso sem precisar hipotecar a casa.

No fim, o estádio é mesmo um latifúndio cultural. O dono é o coronel do apito final, os jogadores são vaqueiros de chuteira dourada, e os torcedores, a boiada obediente, mugindo slogans de marketing enquanto financiam o império. E quando a arbitragem resolve interferir, não resta dúvida: a boiada descobre, tarde demais, que o dono das vacas nunca foi dono das zebras.

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