O carry trade é conhecido no mercado financeiro como a prática de captar recursos em uma moeda de juros baixos e aplicar em outra de juros altos, lucrando com o diferencial. Essa operação, no entanto, costuma envolver endividamento, com riscos de variação cambial que podem anular o ganho.
O que descrevo aqui é diferente: um carry trade empreendedor, realizado sem recorrer a empréstimos. O capital inicial não foi tomado de terceiros, mas gerado a partir de atividade produtiva: a venda de livros físicos nos Estados Unidos. Essa característica altera o risco, a natureza e o alcance da estratégia.
1. Estrutura bancária entre EUA e Brasil
A base da operação está na presença financeira nos EUA, com duas contas distintas:
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Checking account: usada para operações correntes, especialmente para receber pagamentos pelo Zelle.
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Savings account: usada como cofre, para acumulação de dólares ao longo do tempo.
Os livros vendidos a brasileiros e descendentes na Flórida são o ponto de partida: ao invés de recorrer a crédito, o capital nasce da função empreendedora pura — transformar um bem cultural em liquidez financeira.
2. Conversão de dólares em reais
Os dólares recebidos são convertidos em reais e alocados inicialmente na poupança do Itaú, aproveitando o aniversário mais rentável. Aqui, já ocorre o primeiro estágio do carry trade: dólares de juro baixo transformados em reais de juro alto.
3. Multiplicação via Livelo e AstroPay
Aqui está a principal inovação da estratégia: a combinação entre arbitragem tributária e efeito cascata de pontos.
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Em datas promocionais da Livelo (10 pontos por real), o dinheiro convertido é transferido para o AstroPay.
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Essa carga do AstroPay é reconhecida como compra no cartão, o que gera pontos adicionais.
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Com o saldo do AstroPay, adquirem-se livros, bens imunes de ICMS, ISSQN, IPI e Imposto de Importação.
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Essas compras rendem novos pontos na Livelo.
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O pagamento ainda pode ser turbinado com cartão de crédito adicional, multiplicando novamente os pontos.
Ou seja, o mesmo real gera pontos em três momentos distintos:
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na carga do AstroPay,
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na compra do livro (via Livelo),
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e na quitação com o cartão de crédito adicional.
É um verdadeiro efeito cascata de pontuação, que transforma gastos cotidianos em ativos multiplicados.
4. Conversão de pontos em liquidez
Quando surgem campanhas de 100% de bônus na Latam Pass, os pontos Livelo são transferidos, convertidos em milhas e vendidos rapidamente no Hotmilhas, com pagamento em D+1.
Assim, ativos intangíveis tornam-se liquidez imediata em reais.
5. Aplicação em renda fixa
Os valores obtidos são aplicados em CDBs a 110% do CDI, que, em um cenário de Selic a 15% a.a., rendem cerca de 16,5% ao ano.
Aqui se dá o coração do carry trade: transformar dólares captados a custo zero em reais multiplicados por juros elevados, sem endividamento.
6. Renovação e janela cambial
Após três anos, existem duas possibilidades:
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Se os juros brasileiros permanecerem altos, renova-se o CDB, ampliando o efeito composto.
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Se os juros caírem, preserva-se o capital na poupança, isenta de IR, até que surja uma oportunidade de recompra de dólares a preços favoráveis.
7. Recompra de dólares
No momento adequado, recompra-se dólar e transfere-se novamente para a savings account nos EUA. O ciclo se completa:
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livros → dólares → reais → pontos → milhas → reais → juros altos → recompra de dólares.
Conclusão
Essa estratégia pode ser definida como um carry trade empreendedor com efeito cascata de pontos:
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não depende de empréstimos,
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nasce de atividade produtiva (venda de livros),
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converte cada real em múltiplas rodadas de pontuação,
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aproveita imunidades constitucionais e o diferencial de juros,
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e fecha o ciclo com arbitragem cambial.
Diferente do carry trade especulativo clássico, aqui temos uma engenharia financeira autônoma e sustentável, que combina economia real, criatividade nos programas de fidelidade e disciplina estratégica. É um exemplo concreto de como a função empreendedora pode transformar simples dólares de vendas em uma máquina de multiplicar capital no longo prazo.
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