A prática de guardar jogos em diferentes estados — como no caso do Banco de Saves em eventos divididos de jogos — não se limita a uma simples precaução técnica. Ela constitui uma metodologia de experimentação narrativa, onde o progresso do jogador se torna um laboratório de possibilidades, e cada save guardado, um ramo de história a ser explorado, analisado e expandido. A partir dessa técnica, podemos entender melhor os conceitos de dendrologia social imaginativa e dendrologia literária, integrando-os a um olhar sistemático sobre a criação e preservação de narrativas.
1. O banco de saves como tronco narrativo e arquivo de história
Cada save armazenado funciona como um tronco central preservado, o ponto de referência que mantém a continuidade narrativa intacta. Enquanto outros saves experimentam caminhos alternativos — seja avançando em escolhas diferentes, interações sociais diversas ou experimentações em eventos paralelos —, o tronco principal permanece um registro seguro do enredo original.
Essa prática permite:
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Controlar a progressão narrativa, garantindo coerência quando partes futuras do evento ou história são liberadas.
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Criar múltiplos pontos de ramificação, possibilitando revisitar decisões e explorar suas consequências sem perder o caminho principal.
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Documentar experiências alternativas, transformando o ato de jogar em um arquivo de histórias, onde cada save representa uma variação potencial de enredo.
2. Dendrologia Social Imaginativa: experimentando relações e conexões
A dendrologia social imaginativa surge quando cada save não é apenas um registro de progresso, mas um laboratório de interações humanas e sociais simuladas. Cada decisão tomada em um save cria um ramo de relações sociais, explorando alianças, conflitos, mentorias e redes de influência dentro do universo do jogo.
Essa abordagem permite ao jogador:
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Mapear redes sociais alternativas, analisando como diferentes interações moldam a dinâmica do grupo.
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Comparar “universos paralelos”, onde pequenas variações nas escolhas produzem efeitos sociais significativos.
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Desenvolver empatia e percepção estratégica, observando os desdobramentos de relações complexas sem riscos no mundo real.
Em outras palavras, o save paralelo atua como uma lente dendrológica, onde cada galho representa uma experiência social potencial. O jogador, ao revisitar saves antigos, observa padrões, conexões e consequências que, de outro modo, poderiam passar despercebidos.
3. Dendrologia Literária: galhos de história e arquivamento criativo
Enquanto a dendrologia social foca nas relações, a dendrologia literária concentra-se na estrutura narrativa e nas possibilidades de história. Cada save guardado é um capítulo, cada decisão tomada é uma bifurcação, e cada retomada do save é uma oportunidade de expandir a narrativa original.
Essa abordagem transforma o jogador em arquiteto e bibliotecário de suas próprias histórias, permitindo que:
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Cada save seja revisitado, comparado e entrelaçado com outros ramos narrativos.
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Narrativas alternativas coexistam, formando uma árvore literária complexa, com galhos, subgalhos e folhas correspondentes a decisões e eventos.
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A criatividade seja potencializada, pois o jogador não está limitado a uma linha linear de história, mas pode explorar simultaneamente múltiplos enredos, alternativas e perspectivas.
4. O laboratório integrado de narrativa
Ao combinar dendrologia social imaginativa e dendrologia literária, o banco de saves e os saves paralelos se tornam laboratórios integrados de narrativa, permitindo que o jogador:
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Preserve a linha principal de história (tronco).
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Explore múltiplas possibilidades sociais e narrativas (ramos).
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Observe consequências alternativas de escolhas e interações (folhas e subgalhos).
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Construa um acervo de experiências e histórias, registrando não apenas o que aconteceu, mas também o que poderia ter acontecido.
Essa metodologia cria um espaço de experimentação controlada, onde narrativa e sociabilidade podem ser estudadas e compreendidas com profundidade. Jogos, assim, se tornam mais do que entretenimento: são ferramentas de dendrologia aplicada, cultivando tanto habilidades de análise social quanto de construção narrativa.
Bibliografia
Embora os termos "dendrologia social imaginativa" e "dendrologia literária" não possuam uma bibliografia consolidada, é possível estabelecer conexões com obras e autores que abordam temas relacionados:
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Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Bauman discute a fluidez das relações sociais na contemporaneidade, conceito que pode ser explorado na dendrologia social imaginativa ao analisar as múltiplas possibilidades de interações sociais em narrativas. -
Castells, M. (1999). A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra.
Castells aborda as redes sociais e sua influência na sociedade, tema pertinente à dendrologia social imaginativa ao considerar como diferentes escolhas podem formar redes sociais alternativas. -
Eco, U. (1994). Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras.
Eco explora a multiplicidade de sentidos na literatura, conceito que se alinha à dendrologia literária ao considerar as diversas ramificações narrativas possíveis. -
Jenkins, H. (2006). Cultura da convergência. São Paulo: Aleph.
Jenkins discute como diferentes mídias interagem e influenciam umas às outras, conceito aplicável à dendrologia literária ao analisar como diferentes narrativas podem se entrelaçar e influenciar a percepção do jogador. -
Miller, V. (2011). A vida social da internet. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
Miller investiga como as interações sociais ocorrem no ambiente digital, tema relevante para a dendrologia social imaginativa ao considerar como as escolhas no jogo podem refletir comportamentos sociais reais.
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