Pesquisar este blog

terça-feira, 16 de setembro de 2025

Carry Trade com elementos de comércio triangular: uma inovação na literatura econômica

Introdução

O conceito clássico de carry trade é bem conhecido da literatura econômica: trata-se da arbitragem financeira que explora as diferenças entre taxas de juros, moedas e riscos entre países. O investidor toma recursos em países de juros baixos e os aplica em países de juros altos, obtendo retorno no diferencial.

O que se propõe aqui, contudo, é uma estratégia inovadora: um carry trade híbrido, no qual se combinam juros, câmbio, incentivos fiscais e culturais. Esse modelo se aproxima do comércio triangular da era moderna — em que mercadorias, capitais e culturas circulavam entre continentes —, mas reformulado para o século XXI, com forte base em programas de fidelidade, digitalização de bens culturais e arbitragem tributária.

1. O modelo estrutural

A estratégia se apoia em três vértices principais:

  1. Brasil – País de juros elevados e políticas de incentivo à compra de livros (isenção de ICMS, ISSQN, IPI e imposto de importação). Aqui, os pontos de programas como a Livelo são multiplicados em datas promocionais, convertendo reais em capital simbólico e financeiro.

  2. Estados Unidos (Flórida) – Porta de entrada no mercado dolarizado. O imóvel em território americano viabiliza contas correntes e savings accounts, além do uso do Zelle, que integra o circuito comercial local. Livros físicos são vendidos para brasileiros e hispano-americanos, com receitas em dólar.

  3. Europa (Portugal e Espanha) – Portugal abre o caminho para cidadania e residência fiscal vantajosa. Já a Espanha oferece o detaxe imediato em livros, criando arbitragem tributária de alto valor. A comunidade hispânica amplia o mercado consumidor e reforça o ciclo triangular.

Assim, forma-se um triângulo geoeconômico: Américas – Brasil – Europa, sustentado por arbitragens financeiras e culturais.

2. O ciclo operacional

  1. Receitas em dólar nos EUA são convertidas em reais via Wise e aplicadas em poupança no Brasil.

  2. Em datas promocionais, reais são transformados em pontos Livelo por meio de compras de livros, com pontuação turbinada via cartão de crédito.

  3. Os pontos são transferidos para a Latam Pass em campanhas de 100% bônus e vendidos no mercado secundário (Hotmilhas), gerando liquidez imediata.

  4. Os recursos em reais são aplicados em CDBs atrelados ao CDI (acima de 110%), com taxas próximas à Selic (15% a.a no exemplo atual).

  5. Após o ciclo de maturação, os rendimentos são reconvertidos em dólar em momentos de câmbio baixo e remetidos para os EUA.

  6. O processo recomeça, sustentando um carry trade em espiral de crescimento.

3. Elementos de Comércio Triangular

O comércio triangular histórico do período colonial articulava três circuitos: manufaturas europeias, escravos africanos e produtos agrícolas americanos. No modelo aqui proposto, temos um triângulo de capitais e cultura:

  • Brasil → Produz capital simbólico (pontos, milhas, livros digitalizados) e financeiro (renda fixa).

  • EUA → Transformam livros físicos em receitas em dólar, aproveitando a diáspora brasileira e hispânica.

  • Europa → Fornece arbitragem fiscal (detaxe, poupança isenta) e mercado consumidor.

O triângulo não se limita à circulação de mercadorias, mas cria valor em quatro dimensões: financeira, cambial, fiscal e cultural.

4. Originalidade e Implicações

Na literatura econômica, o carry trade é geralmente tratado como operação financeira pura. Aqui, no entanto, ele ganha novas camadas:

  • Financeira: arbitragem entre Selic elevada e juros baixos internacionais.

  • Fiscal: aproveitamento de isenções em livros e poupanças.

  • Cambial: conversões estratégicas BRL–USD–EUR em momentos de janela favorável.

  • Cultural: livros como ativos de troca e preservação, criando lastro simbólico e demanda em comunidades específicas.

Essa abordagem rompe a separação tradicional entre finanças e comércio, propondo um modelo híbrido de arbitragem global. É uma contribuição inédita, que merece lugar na literatura acadêmica sob a denominação de carry trade triangular cultural-financeiro.

Conclusão

A estratégia apresentada evidencia que o carry trade do século XXI pode ir além da simples diferença de juros entre países. Ao integrar instrumentos financeiros, políticas fiscais, fluxos culturais e digitais, cria-se uma forma de comércio triangular adaptada à economia global contemporânea.

Esse modelo mostra que o capital não é apenas fluxo monetário, mas também acúmulo de trabalho cultural, conhecimento e arbitragem criativa. Mais do que uma técnica de arbitragem, trata-se de um novo paradigma econômico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário