Introdução
O conceito clássico de carry trade é bem conhecido da literatura econômica: trata-se da arbitragem financeira que explora as diferenças entre taxas de juros, moedas e riscos entre países. O investidor toma recursos em países de juros baixos e os aplica em países de juros altos, obtendo retorno no diferencial.
O que se propõe aqui, contudo, é uma estratégia inovadora: um carry trade híbrido, no qual se combinam juros, câmbio, incentivos fiscais e culturais. Esse modelo se aproxima do comércio triangular da era moderna — em que mercadorias, capitais e culturas circulavam entre continentes —, mas reformulado para o século XXI, com forte base em programas de fidelidade, digitalização de bens culturais e arbitragem tributária.
1. O modelo estrutural
A estratégia se apoia em três vértices principais:
-
Brasil – País de juros elevados e políticas de incentivo à compra de livros (isenção de ICMS, ISSQN, IPI e imposto de importação). Aqui, os pontos de programas como a Livelo são multiplicados em datas promocionais, convertendo reais em capital simbólico e financeiro.
-
Estados Unidos (Flórida) – Porta de entrada no mercado dolarizado. O imóvel em território americano viabiliza contas correntes e savings accounts, além do uso do Zelle, que integra o circuito comercial local. Livros físicos são vendidos para brasileiros e hispano-americanos, com receitas em dólar.
-
Europa (Portugal e Espanha) – Portugal abre o caminho para cidadania e residência fiscal vantajosa. Já a Espanha oferece o detaxe imediato em livros, criando arbitragem tributária de alto valor. A comunidade hispânica amplia o mercado consumidor e reforça o ciclo triangular.
Assim, forma-se um triângulo geoeconômico: Américas – Brasil – Europa, sustentado por arbitragens financeiras e culturais.
2. O ciclo operacional
-
Receitas em dólar nos EUA são convertidas em reais via Wise e aplicadas em poupança no Brasil.
-
Em datas promocionais, reais são transformados em pontos Livelo por meio de compras de livros, com pontuação turbinada via cartão de crédito.
-
Os pontos são transferidos para a Latam Pass em campanhas de 100% bônus e vendidos no mercado secundário (Hotmilhas), gerando liquidez imediata.
-
Os recursos em reais são aplicados em CDBs atrelados ao CDI (acima de 110%), com taxas próximas à Selic (15% a.a no exemplo atual).
-
Após o ciclo de maturação, os rendimentos são reconvertidos em dólar em momentos de câmbio baixo e remetidos para os EUA.
-
O processo recomeça, sustentando um carry trade em espiral de crescimento.
3. Elementos de Comércio Triangular
O comércio triangular histórico do período colonial articulava três circuitos: manufaturas europeias, escravos africanos e produtos agrícolas americanos. No modelo aqui proposto, temos um triângulo de capitais e cultura:
-
Brasil → Produz capital simbólico (pontos, milhas, livros digitalizados) e financeiro (renda fixa).
-
EUA → Transformam livros físicos em receitas em dólar, aproveitando a diáspora brasileira e hispânica.
-
Europa → Fornece arbitragem fiscal (detaxe, poupança isenta) e mercado consumidor.
O triângulo não se limita à circulação de mercadorias, mas cria valor em quatro dimensões: financeira, cambial, fiscal e cultural.
4. Originalidade e Implicações
Na literatura econômica, o carry trade é geralmente tratado como operação financeira pura. Aqui, no entanto, ele ganha novas camadas:
-
Financeira: arbitragem entre Selic elevada e juros baixos internacionais.
-
Fiscal: aproveitamento de isenções em livros e poupanças.
-
Cambial: conversões estratégicas BRL–USD–EUR em momentos de janela favorável.
-
Cultural: livros como ativos de troca e preservação, criando lastro simbólico e demanda em comunidades específicas.
Essa abordagem rompe a separação tradicional entre finanças e comércio, propondo um modelo híbrido de arbitragem global. É uma contribuição inédita, que merece lugar na literatura acadêmica sob a denominação de carry trade triangular cultural-financeiro.
Conclusão
A estratégia apresentada evidencia que o carry trade do século XXI pode ir além da simples diferença de juros entre países. Ao integrar instrumentos financeiros, políticas fiscais, fluxos culturais e digitais, cria-se uma forma de comércio triangular adaptada à economia global contemporânea.
Esse modelo mostra que o capital não é apenas fluxo monetário, mas também acúmulo de trabalho cultural, conhecimento e arbitragem criativa. Mais do que uma técnica de arbitragem, trata-se de um novo paradigma econômico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário