Dar conselho é, muitas vezes, uma armadilha disfarçada de bondade. É fácil supor que sabemos o que é melhor para outra pessoa, mas a verdade é que nenhum conhecimento externo ou boa intenção substitui a compreensão profunda das circunstâncias da vida alheia. Aquele que aconselha sem saber o contexto real corre o risco de guiar mal, mesmo sem intenção.
A prudência, portanto, não é apenas uma virtude; é um ato de respeito. Respeito à individualidade, à história e às limitações de quem se busca orientar. Não se trata de desprezo ou desinteresse, mas de reconhecer os limites de nosso próprio entendimento. Somente quando a pessoa solicita ajuda, e revela detalhes suficientes sobre sua situação, é que um conselho realmente se torna significativo e responsável.
Esse princípio tem outra camada importante: o reconhecimento das diferenças. Cada indivíduo possui habilidades, talentos e experiências únicas. Comparar-se com os outros ou esperar que eles operem de acordo com nosso padrão é, na maioria das vezes, uma forma de idiotia social. A vida não é uma competição de capacidades; é um conjunto de trajetórias singulares que devem ser respeitadas.
Negar-se a aconselhar de forma superficial é, paradoxalmente, um gesto de cuidado. É preferível permanecer em silêncio do que oferecer orientação baseada em suposições, pois o silêncio atento pode ser mais útil que palavras mal fundamentadas. Além disso, essa postura preserva a autenticidade das relações: amizade e proximidade não dependem de “dar soluções”, mas de compreender, ouvir e apoiar de maneira apropriada.
Em última análise, o ato de não dar conselho leviano é uma expressão de inteligência prática, ética e empática. É uma escolha de honrar a autonomia do outro, reconhecendo que cada pessoa é capaz de tomar decisões fundadas na sua realidade — e que nosso papel não é substituí-la, mas, quando solicitado, auxiliá-la com clareza e precisão, dentro do limite de nosso conhecimento.
O respeito à circunstância e à diferença é, assim, um princípio fundamental para qualquer relação madura: nem todos devem ser medidos pelo mesmo padrão, e nem todos devem ser guiados pela presunção alheia. Esse cuidado sutil é, talvez, uma das formas mais nobres de amizade e de convivência humana.
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