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terça-feira, 2 de setembro de 2025

A imprensa como assessoria social na democracia plebiscitária

Em uma democracia plebiscitária, em que o povo exerce a soberania de forma direta e informada, a imprensa assume um papel central que vai muito além da simples transmissão de fatos. Ela se transforma, efetivamente, em uma assessoria social, oferecendo ao cidadão os instrumentos necessários para compreender, avaliar e decidir sobre os rumos da sociedade.

O conceito de assessoria social atribuído à imprensa parte do princípio de que a participação popular exige informação precisa, contextualizada e transparente. Diferentemente de uma democracia representativa puramente formal, em que os eleitores delegam poder a representantes, a democracia plebiscitária pressupõe que o povo seja o agente ativo de decisões políticas. Nesse cenário, a imprensa não apenas relata eventos, mas interpreta, compara alternativas, aponta consequências e alerta sobre riscos ou inconsistências nas ações governamentais.

A condição essencial para que essa função seja cumprida é o compromisso com a verdade. Uma imprensa livre, mas pautada em interesses particulares ou na manipulação de dados, deixa de ser assessora e passa a ser uma ferramenta de distorção, desviando a soberania popular. Por isso, a ética jornalística, fundamentada na transparência e no rigor factual, torna-se imperativa: apenas uma imprensa fiel à realidade pode permitir que o povo exerça sua autoridade com discernimento.

Historicamente, sociedades em que a imprensa atuou como mediadora responsável e independente mostraram maior resiliência institucional. A circulação de informações confiáveis permite a educação cívica, a fiscalização do poder e a correção de rumos quando necessário, consolidando a função social do jornalismo. Ao mesmo tempo, ela estabelece um canal de diálogo entre Estado e sociedade, tornando visíveis demandas, insatisfações e necessidades, que, de outra forma, poderiam permanecer ignoradas.

Do ponto de vista teórico, autores como Jürgen Habermas (1989) destacam o papel do espaço público na consolidação da democracia, enfatizando que uma esfera pública informada é fundamental para a deliberação racional entre cidadãos. Já Noam Chomsky e Edward Herman (1988), em Manufacturing Consent, alertam para os riscos de uma mídia concentrada e manipulada, que pode transformar a imprensa em instrumento de poder econômico e político, desviando-a de seu papel social. Por sua vez, Seymour Martin Lipset (1960) mostra que a educação política e a informação de qualidade são essenciais para a estabilidade democrática, reforçando a ideia de que a imprensa bem feita é um pilar da soberania popular.

Portanto, a imprensa, quando bem exercida, cumpre um papel quase institucional de assessoria à cidadania. Ela transforma o ato de informar em uma ferramenta de empoderamento coletivo, reforçando a democracia ao permitir que cada cidadão participe de maneira fundamentada. A liberdade de imprensa, nesse contexto, não é um privilégio da mídia, mas um direito público essencial, um instrumento que assegura que a soberania popular não se limite a formalidades, mas se concretize em decisões conscientes e eficazes.

Em última análise, a imprensa livre e veraz é a ponte entre o cidadão e o exercício pleno de sua soberania. Ao prestar serviços de informação de qualidade, ela garante que a democracia plebiscitária não seja apenas um ideal abstrato, mas uma realidade viva, fundamentada no conhecimento, na transparência e na verdade.

Bibliografia

  • CHOMSKY, Noam; HERMAN, Edward S. Manufacturing Consent: The Political Economy of the Mass Media. New York: Pantheon Books, 1988.

  • HABERMAS, Jürgen. The Structural Transformation of the Public Sphere. Cambridge: MIT Press, 1989.

  • LIPSET, Seymour Martin. Political Man: The Social Bases of Politics. New York: Doubleday, 1960.

  • McQUAIL, Denis. McQuail’s Mass Communication Theory. London: Sage, 2010.

  • SCHUDSON, Michael. The Sociology of News. New York: W.W. Norton, 2003.

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