Entre os muitos personagens que habitam os mundos digitais da era 8-bit, poucos chamam tanto a atenção quanto o guerreiro de Golvellius, com seus cabelos verdes que desafiam a estética tradicional dos heróis pixelados. Para o olhar desatento, trata-se apenas de uma escolha estilística inusitada, um traço de fantasia medieval como tantos outros. Mas para o cristão atento aos símbolos e ao sentido profundo das coisas, essa cor pode abrir uma trilha inesperada de interpretação: e se o cabelo verde desse guerreiro for um sinal do tempo comum?
A cor verde no calendário cristão
No calendário litúrgico da Igreja, o verde não é uma cor qualquer. Ele domina o tempo comum, isto é, aquele vasto território entre as grandes solenidades da vida de Cristo. É o tempo do “agora” cotidiano, onde o cristão é chamado a viver as virtudes sem alarde, sem espetáculo, muitas vezes sem consolo sensível. O verde, cor da esperança e do crescimento, representa a perseverança silenciosa daqueles que, sem glória aparente, continuam a viver segundo o Evangelho, dia após dia.
O tempo comum não é um intervalo sem importância: é onde se decide a fidelidade. Não nos momentos extraordinários, mas nas escolhas ordinárias. É onde se planta, rega e espera o fruto.
O guerreiro do tempo comum
Nesse contexto, o guerreiro de cabelos verdes surge como uma figura alegórica do cristão combatente no tempo comum. Ele não carrega coroas nem estandartes reais. Não é mártir conhecido nem doutor da Igreja. Mas carrega uma espada, atravessa desertos, cavernas, bosques, enfrentando forças do mal em silêncio, guiado por uma missão que ele talvez nem compreenda inteiramente. Ele é o soldado cotidiano, o servo fiel que combate longe das multidões.
Seus cabelos verdes sinalizam sua identidade: ele pertence àquele tempo sagrado que escapa ao olhar superficial — tempo de esperança, de trabalho paciente, de combate espiritual. É o tempo dos santos escondidos, das mães que rezam, dos trabalhadores honestos, dos monges que lavram a terra e oram pelos vivos e mortos. É o tempo de quem não precisa ser visto para ser fiel.
A batalha invisível
A estrutura do jogo Golvellius também contribui para essa leitura simbólica. O herói enfrenta monstros, descobre passagens secretas, interage com personagens que o ajudam em seu progresso — tudo isso pode ser lido como metáfora da batalha interior do cristão. O inimigo é real, mas raramente visível. O progresso é lento, e a vitória final só vem após muitos combates.
Não é essa, afinal, a condição do fiel? Lutar contra o mundo, a carne e o diabo não nas grandes arenas, mas nas escolhas diárias: perdoar o inimigo, dizer a verdade, resistir à tentação, educar os filhos, manter a fé em meio ao caos.
Conclusão: o herói que há em nós
Ver no guerreiro de Golvellius um símbolo do cristão no tempo comum é mais do que um exercício de criatividade simbólica. É um lembrete de que a verdadeira epopeia espiritual se desenrola nos bastidores da história, longe das luzes, onde o verde da esperança resiste mesmo quando tudo parece cinza.
O cabelo verde do guerreiro é, assim, um estandarte da santidade cotidiana — aquela que não precisa de holofotes, porque é sustentada pela fidelidade e pela graça. Ele é o combatente de Deus nos tempos ordinários, aquele que, mesmo sem trombetas, permanece de pé.
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