O Paraguai vem chamando atenção no cenário internacional por reforçar suas reservas de ouro e, ao mesmo tempo, manter um sistema tributário de natureza territorialista. Essa combinação cria um ambiente favorável não apenas para investidores internacionais, mas também para brasileiros que desejam preservar capital, aumentar o poder de compra e reduzir a carga tributária dentro da legalidade.
O movimento do Paraguai em direção ao ouro
Nos últimos dois anos, as reservas paraguaias em ouro saltaram de US$ 506 milhões para US$ 862 milhões, um aumento de 70%. Esse movimento tem como objetivo reduzir a dependência do dólar e blindar a economia contra crises externas e decisões de Washington. Ao apostar no ouro, o Paraguai garante que sua moeda nacional, o Guarani, mantenha força em tempos de turbulência internacional e aumenta a confiança dos investidores.
Territorialismo tributário
Enquanto o Brasil e a Argentina seguem um modelo de tributação mundial, que alcança rendimentos de seus cidadãos mesmo no exterior, o Paraguai adota um sistema territorialista: apenas os rendimentos produzidos dentro do país são tributados. Assim, rendas de origem estrangeira — como poupança no Brasil ou investimentos fora do Paraguai — ficam isentas.
Oportunidade para brasileiros
Esse modelo abre espaço para uma estratégia interessante ao investidor brasileiro:
Poupança no Brasil: os rendimentos são isentos de Imposto de Renda. Convertendo os reais em dólares ou guaranis, esses valores continuam não sendo tributados no Paraguai.
Residência fiscal: ao manter a residência fiscal no Brasil, o brasileiro preserva sua posição legal. Se passar 120 dias por ano, durante três anos, no Paraguai, obtém o RUC permanente.
Benefícios do RUC: o RUC permite importar até US$ 3.000 anuais de mercadorias livres de impostos. Fracionando em viagens de até US$ 1.000, esses bens podem ser consumidos dentro do Brasil, sem caracterizar revenda em larga escala.
Vantagem em cidades de fronteira
O efeito prático dessa estratégia se torna ainda mais evidente em regiões como Tabatinga (AM), na tríplice fronteira com Colômbia e Peru. Ali, não incidem ICMS, ISS, COFINS nem Imposto de Importação sobre mercadorias destinadas ao consumo local. Ou seja, o brasileiro que utiliza o RUC pode trazer produtos de forma legal e consumir no Brasil sem o peso tributário normalmente aplicado.
Impacto regional
Além do benefício direto ao consumidor, esse movimento fortalece o comércio de fronteira e, indiretamente, beneficia países vizinhos como Brasil e Argentina. A circulação de mercadorias mais acessíveis aumenta a atividade econômica local, reduzindo parte da pressão inflacionária e estimulando a competitividade.
Conclusão
O Paraguai está construindo um duplo escudo: o ouro fortalece suas reservas e o territorialismo fiscal protege os rendimentos. Para o brasileiro que entende a lógica dessa combinação, abre-se uma oportunidade de arbitragem tributária e cambial legítima. Ao alinhar poupança, residência fiscal e importações estratégicas, é possível garantir maior segurança financeira, ampliar o poder de compra e escapar, de forma legal, da pesada carga tributária nacional.
Bibliografia
BANCO CENTRAL DEL PARAGUAY. Informe de Reservas Internacionales 2023-2025. Assunção: BCP, 2025.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Regulamento do Imposto de Renda – RIR/2018. Brasília: Receita Federal do Brasil, 2018.
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DIRECCIÓN GENERAL DE MIGRACIONES (Paraguay). Guía de Requisitos para la Residencia Permanente y RUC. Assunção, 2024.
ADMINISTRACIÓN NACIONAL DE ADUANAS (Paraguay). Reglamento de Importaciones Personales. Assunção, 2024.
BRASIL. Decreto-Lei nº 288, de 28 de fevereiro de 1967. Dispõe sobre a Zona Franca de Manaus. Brasília, 1967.
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