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terça-feira, 26 de agosto de 2025

Da experiência turística à internacionidade cristã: um olhar sobre as nacionidades compartilhadas

1. O slogan e sua promessa superficial

Recentemente, uma campanha publicitária do AirBnB lançou a proposta: “Faça mais do que visitar – viva a experiência com quem conhece melhor o lugar.” À primeira vista, essa frase parece sedutora: sugere que viajar não se resume a conhecer pontos turísticos, mas a entrar em contato com a vida local. No entanto, dentro dos moldes da sociedade aberta de Karl Popper, essa proposta se reduz a mais um produto consumível. O “viver como local” se transforma em mercadoria, algo disponível ao turista mediante pagamento, e não em vínculo real entre pessoas e comunidades.

2. A insuficiência da sociedade aberta

A sociedade aberta popperiana, ao dissolver fronteiras e relativizar identidades, impede que a experiência descrita pelo AirBnB seja algo além de transação comercial. Faltam-lhe raízes. Falta-lhe o elemento comunitário que dá sentido ao habitar. Afinal, habitar não é apenas estar em um lugar, mas partilhar uma vida fundada em valores e referências comuns.

3. A dimensão nacionista

Quando deslocamos essa questão para a esfera da nacionidade, encontramos outra lógica: não basta visitar ou consumir uma experiência, mas viver junto com aqueles que amam e rejeitam as mesmas coisas, tendo Cristo como fundamento. A verdadeira experiência só acontece quando existe uma comunhão de valores, uma unidade espiritual que ultrapassa o mercado.

Nesse horizonte, a experiência que A colhe ao viver no lugar de B não pode ser paga com dinheiro. Só pode ser paga com a reciprocidade: B também deve viver no lugar de A, experimentar sua vida, suas circunstâncias e sua pátria. Essa troca abre espaço para um sistema de solidariedades reais.

4. O princípio da reciprocidade

Se tal prática se torna sistemática, surge uma rede de nacionidades compartilhadas. Não mais um turismo globalizado e superficial, mas um intercâmbio de pátrias. Cada povo abre as portas de sua vida para outro, e recebe em troca o mesmo. Assim nasce a internacionidade, entendida não como dissolução de fronteiras, mas como comunhão entre nações enraizadas.

Essa internacionidade não se baseia em fluxos de capital ou na homogeneização cultural, mas na partilha de solidões e riquezas espirituais. O que cada povo carrega de mais íntimo — sua geografia, sua história, suas dores e suas alegrias — se revela ao ser partilhado.

5. A liturgia do encontro

O turista busca experiências; o irmão em Cristo busca habitação. Só é possível conhecer verdadeiramente o outro quando se participa de suas circunstâncias, quando se vive sua vida em sua pátria, sob o mesmo verdadeiro Deus e verdadeiro Homem.

Assim, a reciprocidade de experiências se transforma em algo maior: uma liturgia do encontro entre nações. Não se trata de consumir experiências, mas de descobrir no outro a face de Cristo.

Conclusão

O slogan do AirBnB, ao prometer mais do que visita, toca de forma empobrecida uma intuição legítima: o homem deseja não apenas visitar, mas habitar. Porém, esse habitar só é autêntico quando se dá no âmbito da nacionidade enraizada em Cristo, onde experiências não são compradas, mas partilhadas em reciprocidade.

Essa é a verdadeira internacionidade: um sistema de pátrias em comunhão, onde o encontro humano revela, nas circunstâncias de cada um, a demanda profunda por Deus.

Bibliografia

  • HEIDEGGER, Martin. Construir, habitar, pensar. In: Ensaios e Conferências. Petrópolis: Vozes, 2001.

  • LEÃO XIII. Rerum Novarum. Carta Encíclica. São Paulo: Paulus, 2001.

  • POPPER, Karl. A Sociedade Aberta e Seus Inimigos. São Paulo: Itatiaia, 1987.

  • ROYCE, Josiah. The Philosophy of Loyalty. New York: Macmillan, 1908.

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