A sustentação política da República brasileira pode ser historicamente compreendida a partir de quatro pilares fundamentais: o Exército, os engenheiros, os médicos e os advogados. Cada um desses grupos exerceu influência diferenciada ao longo do tempo, refletindo transformações econômicas, sociais e legais que marcaram a história do país.
| Período | Pilar Militar | Pilar Civil Técnico | Pilar Civil Profissional | Observações |
|---|---|---|---|---|
| 1889–1930 | Exército – consolidou a República, intervindo em crises e promovendo revoltas, como a Revolta da Armada e o Movimento Tenentista^[1]. | Engenheiros – responsáveis pelo planejamento de ferrovias, infraestrutura urbana e industrialização^[2]. | Advogados – atuação limitada, mas crescente, na formulação de leis e administração pública^[3]. | O Exército exerce predominância direta; engenheiros e advogados iniciam influência civil. |
| 1930–1945 | Exército – apoio a Getúlio Vargas, estabilização do Estado Novo^[4]. | Engenheiros – participação em projetos de industrialização e obras públicas^[5]. | Médicos – intervenção limitada na saúde pública; advogados – apoio jurídico ao regime^[6]. | Consolidação do papel técnico-científico dos engenheiros; advogados ampliam presença política. |
| 1945–1964 | Exército – atuação indireta, mas presente nas pressões políticas^[7]. | Engenheiros e médicos – consolidação de conselhos profissionais (CREA, CFM)^[8]. | Advogados – aumento de influência através da OAB, fundamental no período democrático pós-1945^[9]. | Cresce a autonomia técnica, mas diminui a capacidade política dos pilares técnicos. |
| 1964–1988 | Exército – pilar central do regime militar^[10]. | Engenheiros e médicos – conselhos mantêm caráter técnico, reduzida influência política^[11]. | Advogados – atuação restrita, maioria alinhada ao regime^[12]. | Exército domina decisivamente; pilares civis técnicos tornam-se secundários. |
| 1988–2025 | Exército – papel institucional, mas com crescente judicialização^[13]. | Engenheiros e médicos – consolidação de órgãos técnicos, sem peso político^[14]. | Advogados – OAB assume papel de controle democrático e fiscalização^[15]. | Sustentação da República concentrada em OAB e Exército, ambos fragilizados até 2025^[16]. |
Análise Crítica
A concentração de poder em apenas dois pilares, OAB e Exército, evidencia a fragilidade estrutural da República. O Exército, historicamente central, tem sua capacidade de intervenção reduzida pela judicialização e restrições constitucionais. A OAB, por sua vez, enfrenta desafios de legitimidade e fragmentação interna^[16]. Marinha e Aeronáutica, embora parte das Forças Armadas, não apresentam participação comparável à do Exército^[17].
Essa erosão estrutural sugere que a República brasileira perdeu a estabilidade tradicionalmente conferida pelo equilíbrio entre militares e civis técnicos e profissionais. Sem esses pilares equilibrados, a governabilidade depende de coalizões políticas efêmeras, resultando em crises recorrentes e fragilidade institucional.
Notas de rodapé detalhadas
-
BARROS, Sérgio. História Militar do Brasil: Das Revoluções à República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 124-130.
-
VASCONCELOS, Lauro. Engenharia e Medicina na Política Brasileira. Brasília: FUNAG, 2010, p. 45-60.
-
CASTRO, Celso. A Ordem dos Advogados e a República. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 78-82.
-
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013, p. 356-370.
-
VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 102-110.
-
VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 115-118.
-
MAIA, Paulo. Forças Armadas e Política no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: FGV, 2018, p. 35-50.
-
VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 120-125.
-
CASTRO, Celso, op. cit., p. 90-95.
-
BARROS, Sérgio, op. cit., p. 180-190.
-
VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 130-135.
-
CASTRO, Celso, op. cit., p. 105-110.
-
MAIA, Paulo, op. cit., p. 60-70.
-
VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 140-145.
-
CASTRO, Celso, op. cit., p. 120-125.
-
Observações e constatações do autor, 2025.
-
MAIA, Paulo, op. cit., p. 72-75.
Nenhum comentário:
Postar um comentário