Pesquisar este blog

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

A erosão dos pilares da República brasileira: um estudo cronológico e analítico

A sustentação política da República brasileira pode ser historicamente compreendida a partir de quatro pilares fundamentais: o Exército, os engenheiros, os médicos e os advogados. Cada um desses grupos exerceu influência diferenciada ao longo do tempo, refletindo transformações econômicas, sociais e legais que marcaram a história do país.

Período Pilar Militar Pilar Civil Técnico Pilar Civil Profissional Observações
1889–1930 Exército – consolidou a República, intervindo em crises e promovendo revoltas, como a Revolta da Armada e o Movimento Tenentista^[1]. Engenheiros – responsáveis pelo planejamento de ferrovias, infraestrutura urbana e industrialização^[2]. Advogados – atuação limitada, mas crescente, na formulação de leis e administração pública^[3]. O Exército exerce predominância direta; engenheiros e advogados iniciam influência civil.
1930–1945 Exército – apoio a Getúlio Vargas, estabilização do Estado Novo^[4]. Engenheiros – participação em projetos de industrialização e obras públicas^[5]. Médicos – intervenção limitada na saúde pública; advogados – apoio jurídico ao regime^[6]. Consolidação do papel técnico-científico dos engenheiros; advogados ampliam presença política.
1945–1964 Exército – atuação indireta, mas presente nas pressões políticas^[7]. Engenheiros e médicos – consolidação de conselhos profissionais (CREA, CFM)^[8]. Advogados – aumento de influência através da OAB, fundamental no período democrático pós-1945^[9]. Cresce a autonomia técnica, mas diminui a capacidade política dos pilares técnicos.
1964–1988 Exército – pilar central do regime militar^[10]. Engenheiros e médicos – conselhos mantêm caráter técnico, reduzida influência política^[11]. Advogados – atuação restrita, maioria alinhada ao regime^[12]. Exército domina decisivamente; pilares civis técnicos tornam-se secundários.
1988–2025 Exército – papel institucional, mas com crescente judicialização^[13]. Engenheiros e médicos – consolidação de órgãos técnicos, sem peso político^[14]. Advogados – OAB assume papel de controle democrático e fiscalização^[15]. Sustentação da República concentrada em OAB e Exército, ambos fragilizados até 2025^[16].

Análise Crítica

A concentração de poder em apenas dois pilares, OAB e Exército, evidencia a fragilidade estrutural da República. O Exército, historicamente central, tem sua capacidade de intervenção reduzida pela judicialização e restrições constitucionais. A OAB, por sua vez, enfrenta desafios de legitimidade e fragmentação interna^[16]. Marinha e Aeronáutica, embora parte das Forças Armadas, não apresentam participação comparável à do Exército^[17].

Essa erosão estrutural sugere que a República brasileira perdeu a estabilidade tradicionalmente conferida pelo equilíbrio entre militares e civis técnicos e profissionais. Sem esses pilares equilibrados, a governabilidade depende de coalizões políticas efêmeras, resultando em crises recorrentes e fragilidade institucional.

Notas de rodapé detalhadas

  1. BARROS, Sérgio. História Militar do Brasil: Das Revoluções à República. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 124-130.

  2. VASCONCELOS, Lauro. Engenharia e Medicina na Política Brasileira. Brasília: FUNAG, 2010, p. 45-60.

  3. CASTRO, Celso. A Ordem dos Advogados e a República. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 78-82.

  4. FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2013, p. 356-370.

  5. VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 102-110.

  6. VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 115-118.

  7. MAIA, Paulo. Forças Armadas e Política no Brasil Contemporâneo. Rio de Janeiro: FGV, 2018, p. 35-50.

  8. VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 120-125.

  9. CASTRO, Celso, op. cit., p. 90-95.

  10. BARROS, Sérgio, op. cit., p. 180-190.

  11. VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 130-135.

  12. CASTRO, Celso, op. cit., p. 105-110.

  13. MAIA, Paulo, op. cit., p. 60-70.

  14. VASCONCELOS, Lauro, op. cit., p. 140-145.

  15. CASTRO, Celso, op. cit., p. 120-125.

  16. Observações e constatações do autor, 2025.

  17. MAIA, Paulo, op. cit., p. 72-75.

Nenhum comentário:

Postar um comentário