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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Niepodległość e a não-sujeição: uma perspectiva além da “independência”

O termo polonês „niepodległość” é tradicionalmente traduzido para o português como “independência”. No entanto, essa tradução, embora adequada do ponto de vista político e jurídico, não captura a riqueza semântica e ética que o termo possui na língua polonesa. Quando se fala em niepodległość, não se trata apenas da autonomia de um Estado ou da liberdade de um povo frente a poderes externos, mas de uma recusa ativa de sujeição a forças que se fundamentam na falsidade, no egoísmo ou na negação da ordem moral divina.

Essa nuance pode ser mais bem compreendida se analisarmos a palavra em seus componentes: nie (não) + podległość (submissão, sujeição). Assim, o termo indica, de forma literal, não sujeição, isto é, a condição de não se submeter a aquilo que corrompe a verdade e a justiça. O conceito transcende o plano político, adentrando a dimensão moral, espiritual e cultural, característica que muitas vezes se perde em traduções literais para o português.

Historicamente, o conceito de niepodległość foi central para a Polônia, especialmente nos períodos de partições (final do século XVIII até o início do século XX), quando o país foi dividido entre impérios estrangeiros. Nesse contexto, a niepodległość não se limitava à liberdade territorial; ela simbolizava a resistência à dominação que nega a identidade, a cultura e a fé do povo polonês. Era, portanto, uma forma de preservar a dignidade e a verdade histórica diante de poderes que viviam para manter o que lhes era conveniente, muitas vezes em oposição à realidade objetiva e à ordem divina.

Do ponto de vista teológico, a niepodległość assume um significado ainda mais profundo. A não-sujeição não se refere apenas a estruturas humanas, mas a qualquer sistema ou autoridade que se dissocie do Todo que vem de Deus, especialmente do verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, nosso Senhor Jesus Cristo. Neste sentido, a liberdade genuína é inseparável da conformidade com a verdade divina: ser livre é, antes de tudo, não se submeter à falsidade ou ao engano que corrompe a ordem natural e espiritual.

No plano linguístico, a escolha de traduzir niepodległość por “não-sujeição” não é um barbarismo. Ao contrário, reflete a intenção de preservar a riqueza semântica do original polonês, destacando sua dimensão ética e espiritual. Enquanto “independência” em português tende a enfatizar fronteiras, Estados e soberania, “não-sujeição” aponta para a liberdade interior, a resistência moral e a integridade diante da mentira e da tirania.

Portanto, ao utilizar o termo niepodległość como “não-sujeição”, estamos não apenas traduzindo palavras, mas transmitindo um conceito que articula política, história, ética e teologia. É a liberdade que nasce da recusa em submeter-se ao que é injusto ou contrário à verdade, uma liberdade que, na tradição polonesa, sempre esteve indissociavelmente ligada à fé, à cultura e à identidade nacional.

Referências bibliográficas:

  1. Davies, Norman. God’s Playground: A History of Poland. Oxford University Press, 2005.

  2. Lukowski, Jerzy; Zawadzki, Hubert. A Concise History of Poland. Cambridge University Press, 2006.

  3. Zamoyski, Adam. The Polish Way: A Thousand-Year History of the Poles and Their Culture. Hippocrene Books, 1994.

  4. Kowalski, Andrzej. Niepodległość w kulturze polskiej. Wydawnictwo Naukowe PWN, 2010.

  5. Rerum Novarum, Papa Leão XIII, 1891.

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