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quarta-feira, 27 de agosto de 2025

A Espanha e A América Espanhola em minha geografia sentimental

A geografia sentimental não é feita de meridianos nem de paralelos. Ela não obedece às fronteiras dos mapas, mas às linhas invisíveis que unem afetos, lembranças, vocações e esperanças. É a geografia que se inscreve no coração, onde cada terra é lembrada não pela sua extensão, mas pela intensidade com que se torna um lar da alma.

Foi assim que a Espanha entrou na minha vida. Não pela frieza de um tratado, mas pela delicadeza de uma presença: Tatiane Villa, brasileira de nascimento, mas neta de espanhóis. Nela havia algo que me chamava a um mundo além do Brasil, como se sua ascendência fosse também um convite. Por ela, passei a frequentar livrarias espanholas na internet, a procurar editoras de Madrid e Barcelona, a tocar com as pontas dos dedos — mesmo à distância — aquele universo que até então me parecia estrangeiro.

Como eu cursava Direito, foi natural que minha primeira porta de entrada fosse a doutrina jurídica espanhola. Os livros de Direito, de alguma forma, me pareciam uma ponte sólida que unia Tatiane à sua pátria ancestral. Não era apenas estudo: era tentativa de comunhão. Assim, a Espanha se insinuava como lar em Cristo, tanto quanto o Brasil já o era para mim.

Mas essa ponte ruiu de repente. Tatiane se afastou sem dizer por quê, e com ela desmoronou também aquele primeiro acesso. Ficou o vazio, mas não a inutilidade: toda semente lançada, mesmo em terreno árido, guarda em si a memória da vida. A Espanha já havia marcado um território em minha geografia sentimental.

Muito tempo depois, outra presença trouxe de volta esse chamado. Não pela Espanha, mas pela sua descendência viva: a América Espanhola. Fernanda, nativa desse continente marcado por guerras, evangelizações e lendas, reabriu para mim o caminho. Diferente de antes, agora eu não estava restrito ao estudante limitado às prateleiras de Direito. Contava com novos instrumentos: a Amazon, que me permite alcançar livros de muitas línguas; a inteligência artificial, que amplia meu pensamento; e o grupo La Leyenda Negra, onde se debate a História da América Espanhola para além dos estigmas impostos pelos rivais da Espanha.

Se Tatiane me dera a Espanha como lembrança de uma ascendência, Fernanda me dá a América Espanhola como realidade viva. Se antes eu buscava apenas um ponto, agora vejo um continente inteiro. Não é mais a geografia dos mapas: é a geografia da alma, que cresce e se expande.

O Brasil é meu chão natal. A Espanha, meu primeiro lar escolhido pelo afeto. A América Espanhola, o espaço que agora se descortina como vocação. Três territórios, uma só unidade: a de Cristo que habita em cada encontro e dá sentido a cada perda e a cada reencontro.

Assim, compreendo que minha geografia sentimental não se escreve com bússola nem com régua. Escreve-se com nomes próprios, com rostos lembrados, com livros que chegaram às minhas mãos como mensagens, com encontros que me obrigaram a alargar fronteiras. E ao final de cada linha, descubro sempre o mesmo ponto cardeal: Cristo, que me chama a tomar cada terra — Espanha, Brasil, América Espanhola — como lar, não apenas do corpo, mas do espírito.

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