Historicamente, engenheiros e médicos tiveram papel central na política brasileira. Durante o Império e o início da República, o prestígio técnico dessas profissões lhes conferia acesso direto ao poder: engenheiros eram fundamentais na construção de infraestrutura — ferrovias, portos, estradas — e frequentemente ocupavam cargos estratégicos em governos; médicos, por sua vez, influenciavam políticas de saúde, urbanização e educação, refletindo a valorização social do conhecimento científico e técnico.
Com o passar do tempo, entretanto, o cenário mudou. A modernização política, o crescimento de partidos, a ampliação do voto e a complexidade legislativa passaram a exigir habilidades de mobilização social, articulação institucional e lobby, que não dependem apenas do prestígio técnico.
Hoje, engenheiros e médicos continuam a gozar de respeito social, mas sua influência política institucional é mais restrita. Conselhos profissionais como o CREA e o CFM atuam principalmente na regulação e fiscalização das profissões, com poder limitado em pautas de interesse nacional. Já a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) mantém forte presença política e social: mobiliza-se em temas legislativos e institucionais, participa de debates de interesse público e é reconhecida como voz relevante no cenário político brasileiro.
Em resumo, o capital técnico deixou de ser um passaporte automático para o poder. Engenheiros e médicos têm influência significativa em suas áreas específicas, mas advogados, por meio da OAB, conquistaram uma posição política mais ampla e consolidada, evidenciando como a política moderna valoriza articulação institucional e poder de mobilização tanto quanto conhecimento especializado.
Bibliografia sugerida:
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Fausto, Boris. História do Brasil. 14ª ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2020.
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Dean, Warren. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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Skidmore, Thomas E. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
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Schwartzman, Simon. A História da Medicina no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2000.
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Abreu, Marcelo de Paiva. O poder da Ordem: OAB e política no Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2018.
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Carvalho, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
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