Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Proteção de Cultivares e o direito de salvar a semente no Brasil

A Lei nº 9.456/1997, conhecida como Lei de Proteção de Cultivares, regulamenta os direitos de obtentores de novas variedades de plantas no Brasil. Seu objetivo é equilibrar a inovação agrícola com o direito dos agricultores de preservar e utilizar sementes, garantindo a continuidade da produção e a recompensa pelo desenvolvimento de novas cultivares.

1. O que significa “salvar a semente”?

No contexto legal, salvar a semente é o ato de recolher, conservar e utilizar parte da produção de uma cultivar protegida para semeadura própria na safra seguinte.

Essa prática tradicional é reconhecida pela lei, mas com limites claros:

  • O agricultor pode utilizar a semente apenas para plantar em sua própria propriedade.

  • É proibido vender, trocar ou doar sementes de cultivares protegidas sem autorização do obtentor.

  • Essa permissão se aplica principalmente à agricultura familiar e ao autoconsumo, respeitando o direito do criador da cultivar de receber royalties ou contrapartidas pelo uso comercial.

Em termos simples, salvar a semente é uma forma de garantir a continuidade da produção agrícola, sem violar os direitos de propriedade intelectual do obtentor.

2. Duração da proteção das cultivares

O período de proteção legal varia conforme o tipo de planta, sendo contado a partir do registro da cultivar junto ao Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC):

Tipo de planta Duração da proteção
Espécies anuais (milho, trigo, soja, arroz) 15 anos
Espécies perenes (café, citros, frutíferas) 18 anos
Espécies ornamentais e frutíferas de ciclo longo Até 25 anos (em casos especiais)

Durante esse período, o obtentor tem direitos exclusivos sobre a produção, reprodução e comercialização das sementes. O agricultor pode salvar a semente para uso próprio, mas o uso comercial sem autorização é considerado violação da lei

3. Após o término da proteção

Quando a proteção expira, a cultivar entra em domínio público. Isso significa que:

  • Qualquer agricultor pode reproduzir, comercializar e multiplicar a semente livremente.

  • A inovação agrícola incorporada na cultivar passa a beneficiar a coletividade, incentivando a difusão de tecnologias e a preservação da biodiversidade.

4. Considerações finais

O direito de salvar a semente reflete um equilíbrio entre tradição agrícola e inovação tecnológica. Por um lado, protege os agricultores e suas práticas; por outro, garante ao obtentor da cultivar o reconhecimento e a remuneração pelo seu esforço e investimento.

O entendimento correto da lei é essencial, sobretudo para quem trabalha com sementes de cultivares protegidas, pois evita conflitos legais e contribui para o desenvolvimento sustentável da agricultura.

Bibliografia

BRASIL. Lei nº 9.456, de 25 de abril de 1997. Dispõe sobre a proteção de cultivares e dá outras providências.  

Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC). Manual de proteção de cultivares. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

RODRIGUES, L. M.; SILVA, F. C. Proteção de cultivares: direitos do obtentor e uso pelo agricultor. Revista Brasileira de Direito Agrário, v. 10, n. 2, 2018. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário